Caminhões: trocar diesel por GNL não evitaria maioria de mortes por poluição

Sindicombustíveis doa alimentos para campanha da PRF
09/08/2021
Célula a combustível com uso de etanol deve ser o caminho do veículo elétrico no Brasil
10/08/2021
Mostrar tudo

BiodieselBR

A substituição completa do diesel usado como combustível nos caminhões de carga pesada por gás natural liquefeito (GNL) salvaria vidas, mas não seria o suficiente para evitar a maior parte das mortes hoje atribuídas aos efeitos da poluição do ar, indicou estudo feito por pesquisadores da USP (Universidade de São Paulo) e do Imperial College London, no Reino Unido.
De acordo com a pesquisa, publicada na revista científica Atmospheric Environment, o GNL ajuda a reduzir as emissões de material particulado, mas não o suficiente para evitar todas as mortes atribuíveis à poluição nas cidades vizinhas às rodovias estudadas.
A pesquisa foi desenvolvida no âmbito de um projeto do Centro de Pesquisa para Inovação em Gás (RCGI), um Centro de Pesquisa em Engenharia (CPE) constituído por Fapesp e Shell na Escola Politécnica da USP.
A proposta era avaliar a viabilidade de criar um “Corredor Azul” no Estado de São Paulo, conceito que prevê a implantação de uma infraestrutura para o uso do gás natural como combustível em veículos rodoviários.
Para chegar à conclusão do estudo, os pesquisadores levantaram o fluxo dos caminhões entre São Paulo e Campinas no sistema rodoviário Anhanguera-Bandeirantes e, em seguida, estimaram a emissão de poluentes proveniente dos veículos de carga, analisando a dispersão atmosférica, em especial as concentrações de material particulado.
Além disso, foram levantadas estatísticas de mortes por câncer de pulmão e por doenças cardiovasculares e respiratórias em 12 cidades lindeiras às rodovias, utilizando o banco de dados do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde do Brasil (Datasus). Utilizando a metodologia da Organização Mundial da Saúde (OMS), foi estimada também as possíveis mortes que seriam evitadas com a troca de combustível.
Os pontos de maior concentração de poluentes, segundo o estudo, que observou apenas as emissões provenientes dos caminhões, estão em Jundiaí, próximo à rodovia dos Bandeirantes, e em Cajamar, nas proximidades da rodovia Anhanguera. A menor concentração foi registrada em Campinas, em um local distante de ambas as rodovias.
De acordo com os estudos analisados no artigo, os veículos movidos a gás natural produzem entre 70% e 85% menos poluentes que aqueles a gasolina ou a diesel. Além disso, promovem uma redução de 10% na emissão de gases de efeito estufa (GEE) em comparação com os caminhões a diesel. Portanto, era de se esperar uma correlação entre mortes e poluição do ar.
Mas o impacto da mudança no combustível, de acordo com os modelos usados no estudo, foi menor do que o esperado. “Achávamos que haveria uma redução maior nas mortes atribuíveis à poluição do ar proveniente dos veículos pesados”, afirmou Ana Carolina Rodrigues Teixeira, pesquisadora do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP e bolsista da Fapesp, em entrevista à Assessoria de Comunicação do RCGI.
“No caso de mortes por doenças respiratórias em crianças, por exemplo, não haveria nenhuma redução nos óbitos após a substituição total do diesel por gás natural nos caminhões. Ou seja, precisamos avaliar outras fontes poluidoras, como veículos de passeio e indústria, para entender melhor como seria o impacto da redução de emissões de poluentes na saúde da população”, comenta Teixeira.
Pelos cálculos dos pesquisadores, as mortes anuais por doenças cardiovasculares atribuíveis à poluição atmosférica podem ter uma variação de 8 a 296 óbitos, com uma média aproximada de 188. Para doenças respiratórias em pessoas idosas a variação é de 52 a 190 mortes e para câncer de pulmão variou entre 18 e 62 mortes no ano de 2016.
Pela simulação, a mudança no combustível dos caminhões para gás natural liquefeito poderia evitar menos de cinco mortes por ano para câncer de pulmão. Com relação às doenças cardiovasculares, a redução máxima seria de 14 mortes, mas com 90% de chance de menos de cinco mortes serem evitadas. Para as doenças respiratórias em idosos, menos de dez mortes seriam evitadas anualmente.
“Consideramos esse estudo um pontapé inicial para a discussão de políticas públicas relacionadas ao tema”, disse a pesquisadora do IEE-USP.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *