Medidas dividem as lideranças e parte já sinaliza mobilização por nova greve

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Fonte: Valor Online

As medidas anunciadas pelo governo em favor dos caminhoneiros dividiram a categoria. Pulverizada, a liderança do setor mostrou diferentes reações em relação às propostas. Alguns dos líderes da greve do ano passado aprovaram as medidas com ressalvas. Outros falam em “esmola” e acreditam que a categoria vai reagir.
Presente entre os manifestantes que pararam a Rodovia Régis Bittencourt (BR-116) em maio passado, o caminhoneiro Moisés Oliveira diz que o pacote anunciado pelo governo não agradou a muitos de seus colegas e que a ideia de uma greve voltou a ser discutida nos grupos de WhatsApp dos quais participa. “Já estão pensando na logística de uma paralisação, ou seja, onde vão parar, os pontos estratégicos, sem necessariamente bloquear rodovias", afirmou. Não há data exata, mas a greve pode ocorrer entre maio e junho, disse.
Oliveira conta que trabalha para uma empresa embarcadora que cumpre a tabela do frete, mas observa que isso não é uma realidade para todos os caminhoneiros. Por isso, há essa insatisfação, frisa. Segundo ele, os colegas acham que a política de preços do diesel e as regras de reajuste da tabela do frete não foram tratadas com profundidade.
O caminhoneiro Wanderlei Alves, o Dedéco, de Curitiba, assegura que há ampla mobilização para uma paralisação geral em 21 de maio, caso o governo não anuncie medidas efetivas sobre a política de preços do óleo diesel e de fiscalização rigorosa do piso mínimo do frete. "Se o diesel aumentar um centavo que seja e não houver efetiva fiscalização da aplicação do piso, a gente para no dia 21, quando a greve do ano passado completará um ano", garante.
A linha de crédito de até R$ 30 mil por caminhoneiro voltada à manutenção e compra de pneus é o ponto do pacote do governo federal que mais agradou a Carlos Alberto Litti Dahmer, presidente do Sindicato dos Transportadores Autônomos de Carga (Sinditac) de Ijuí (RS).
Para Dahmer, o frete e a política de preço do diesel são os pontos mais importantes, pois o cartão-combustível, para ele, é apenas uma medida paliativa e não traz solução. Anunciado pela Petrobras no fim de março, o cartão permitirá a antecipação da compra de volumes maiores de diesel a um preço fixo.
"Se o caminhoneiro já não consegue dar conta de todas as despesas em viagem, como vai comprar antecipado? Não cobre o custo. Isso é vender almoço para comprar janta, porque o caminhoneiro depende da próxima carga para encher o tanque."
Dahmer ressalta que o que produzirá verdadeiro impacto para os caminhoneiros é o resultado do estudo encomendado pelo governo com a Esalq/USP para definir nova metodologia de cálculo das tabelas de frete rodoviário. O ministro da Infraestrutura afirmou na manhã de ontem que o documento sobre o tema está pronto e em consulta pública.
"Nem gosto de falar em tabelamento do frete, é planilha de custo. E esse estudo vai mostrar de fato os custos de uma viagem, a exploração que existe hoje. Não há que se falar em intervenção no mercado. Não existe intervenção quando se pratica piso abaixo do razoável. Além do diesel, tem que levar em conta a mão de obra, a depreciação do bem, uma série de outros fatores. Por isso obtivemos um parecer positivo da Procuradoria-Geral da União", lembra Dahmer.
No início da semana passada, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, enviou parecer ao Supremo Tribunal Federal (STF) favorável à constitucionalidade do tabelamento de frete rodoviário, por entender que a lei que criou o tabelamento busca assegurar a prática justa de preços no transporte de cargas.
Os R$ 2 bilhões anunciados para conclusão de obras pesadas, manutenção de estradas e eixos rodoviários não são vistos pelo líder sindical como uma vantagem direta para caminhoneiros. "Esse investimento é voltado para toda a sociedade, um benefício coletivo para o país, não são só os caminhoneiros que rodam nas rodovias."
As medidas foram bem recebidas pelas lideranças dos caminhoneiros da Baixada Santista. "Onde nada foi feito antes, se há um início, a iniciativa tem que ser vista como melhora. Achamos as propostas muito boas para começar", diz José Cícero Rodrigues, diretor do Sindicato dos Transportadores Rodoviários Autônomos de Bens da Baixada Santista e Vale do Ribeira (Sindicam).
O líder sindicalista afirmou que a categoria espera que as discussões sobre a política de preços do óleo diesel avancem. "O principal ponto é a política de preços da Petrobras. Mas eles [governo e Petrobras] vão ter que conversar internamente para depois anunciar algo mais definido. Seria complicado soltar uma medida qualquer neste momento", avalia.
Na opinião de Rodrigues, não é hora de questionar nem julgar, já que a categoria nem sequer era atendida. "Acho que o apresentado está dentro de uma normalidade para este momento. Vamos analisar as propostas e dar tempo para as coisas acontecerem. Hoje teremos reunião com o governo em Brasília para tratar de combustível, piso mínimo do frete, pedágio, área de descanso e outros pontos. Se continuar assim, em dois, três anos, a categoria estará em outro patamar".

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