Choque de preços movimenta onda de aquisições de petroleiras

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Fonte: Valor Econômico

O choque de preços do petróleo de 2020 iniciou uma onda de aquisições no setor. Empresas como Chevron, ConocoPhillips e Devon Energy compraram produtores endividados e reforçaram suas posições no mercado americano de óleo e gás não convencional (o “shale”), enquanto negócios similares despontam em outros cantos do planeta. Desta vez, porém, o movimento de consolidação – quando grandes petroleiras compram empresas menores durante ciclos recessivos – deve ser menos intenso, diante das mudanças estruturais em curso no setor.
As grandes petroleiras europeias – como BP, Equinor, Shell e Total – preveem que a demanda de petróleo entrará em declínio nas próximas décadas e ampliam investimentos em energias limpas. Normalmente, as “Big Oil” – como são conhecidas as principais petroleiras privadas do mundo – têm maior estrutura de capital e estão melhor posicionadas para captar oportunidades nas crises.
“Com a transição energética, haverá menos compradores. As grandes petroleiras estão modificando estratégias, não vão ser compradores ávidos [de outras empresas] como antigamente”, afirma o analista sênior da Wood Mackenzie, Raphael Portela.
A dívida corporativa elevada na indústria, sobretudo entre os pequenos e médios produtores dos EUA, também pode contribuir para conter o impulso de aquisições.
O reposicionamento das petroleiras, em paralelo, pode aquecer o mercado de compras na área de renováveis. “Para entregar o crescimento anunciado em renováveis, as grandes petroleiras vão ter que partir para a compra de empresas do ramo elétrico”, acrescenta o chefe de pesquisa da área de exploração e produção de petróleo da Wood Mackenzie na América Latina, Marcelo de Assis.
Dentre alguns exemplos desse movimento, estão a compra da New Motion (recarga de veículos elétricos) e Eolfi (parques eólicos marítimos) pela Shell e da Micropower Comerc (baterias) pela Equinor Energy Ventures – fundo de investimento da norueguesa.
Além do interesse por renováveis, as petroleiras devem buscar também empresas do ramo de tecnologias, incluindo a área de transformação digital, avalia o sócio da área de energias e recursos naturais da KPMG, Anderson Dutra. “Diferentemente do passado, o processo [de fusões e aquisições] busca hoje a melhoria de eficiência operacional. Muitas petroleiras já têm adquirido empresas de tecnologia para ajudar nesse processo, como companhias com expertise em automação industrial”, diz.
Assis, da Wood Mackenzie, acredita que novas aquisições de petroleiras podem ocorrer nos próximos meses, mas que a consolidação terá menor intensidade do que em crises passadas. “Há empresas olhando para a descarbonização, há outras olhando para oportunidades de comprar [reservas] mais baratas, para compor portfólio. Não é um cenário único, como na última vez. São várias empresas com estratégias diferentes. Acredito que veremos transações pontuais, com vistas à otimização de portfólio, a exemplo da compra da Noble pela Chevron, mas acho difícil imaginar algo grande como a compra da BG pela Shell [no valor de US$ 53 bilhões, em 2016]”.
O coordenador do Instituto de Estudos Estratégico de Petróleo (Ineep), Rodrigo Leão, concorda que a crise atual é diferente de outros choques e lembra que a retomada do consumo ainda é incerta. “A compra da Noble pela Chevron foi uma situação particular. Não acredito em um movimento de fusões e aquisições grandes nesta conjuntura”, comenta o pesquisador do Ineep, ligado à Federação Única dos Petroleiros (FUP).
Para Leão, os principais movimentos estarão nas áreas de maior custo, como os Estados Unidos. O país tem sido, justamente, o epicentro do movimento recente no setor. O destaque foi a compra da Noble Energy pela Chevron, por US$ 13 bilhões, incluindo dívidas. Segundo a empresa de análise de dados Enverus, trata-se do quarto maior negócio na área de exploração e produção global desde 2014 – os valores, contudo, são bem inferiores aos da compra da BG pela Shell (US$ 53 bilhões) em 2016 e da aquisição da Anadarko pela Occidental (US$ 55 bilhões) em 2019.
Com o negócio, a Chevron reforça a atuação no shale gas americano, assim como a produção de gás no Mediterrâneo. Também nos EUA, a Devon Energy absorveu a WPX e a ConocoPhillips trabalha na aquisição da Concho Resources – um negócio de US$ 9,7 bilhões que lhe permitirá competir com a ExxonMobil na Bacia Permiana.
As aquisições não se restringem, contudo, aos EUA. Na Europa, está em curso a aquisição reversa da Premier Oil pela Chrysaor, que se consolidará como grande ator do Mar do Norte britânico. A Enverus vê potencial para novos negócios até o fim do ano, mas acredita que o mercado deve seguir lento. “Uma aceleração no fluxo de negócios provavelmente requer um aumento nos preços das commodities, o que eleva o fluxo de caixa dos participantes”, cita, em relatório.

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