O Estado de São Paulo
As quedas nos preços das passagens aéreas e nos combustíveis ajudaram a desacelerar a inflação oficial no País em abril, mas houve nova pressão dos aumentos para alimentos, remédios e roupas. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) teve uma alta de 0,43%, ante um avanço de 0,56% em março, informou nesta sexta-feira, 9, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Entretanto, a taxa acumulada em 12 meses acelerou pelo terceiro mês consecutivo, passando de 5,48% em março para 5,53% em abril, a mais elevada em mais de dois anos. O resultado se afastou ainda mais da meta de inflação de 3,00% perseguida pelo Banco Central, cujo teto de tolerância é de 4,50%.
“Um contexto de intensas pressões inflacionárias, expectativas de inflação de curto e médio prazo altamente desancoradas, hiato do produto positivo, mercado de trabalho apertado e medidas recorrentes de estímulo para-fiscal e de crédito exigem uma calibração conservadora da política monetária”, defendeu o diretor de pesquisa macroeconômica para a América Latina do banco Goldman Sachs, Alberto Ramos.
A leitura de abril reforçou que o qualitativo da inflação, depois de piorar na virada do ano, tem dificuldades para “melhorar significativamente”, avaliou o economista sênior do banco Inter, André Valério. Segundo ele, o atual patamar inflacionário “demanda cautela”, mas o resultado de abril não terá grande influência sobre a condução da política monetária à frente.
“Nossa visão é de que a alta da última quarta-feira na (taxa básica de juros) Selic foi a última. No entanto, os dados de inflação deixam claro que a política monetária terá de permanecer em patamar suficientemente restritivo por um longo período, até que se observe a retomada do processo de convergência da inflação em direção à meta”, apontou Valério, em comentário.
A desaceleração na inflação oficial na passagem de março para abril foi decorrente de quedas de preços concentrada em itens de peso significativo no orçamento das famílias, entre eles passagem aérea, arroz, gasolina e etanol. Por outro lado, os aumentos foram mais espalhados entre os itens investigados, afirmou Fernando Gonçalves, gerente do IPCA no IBGE.
O índice de difusão, que mostra o porcentual de itens com aumentos de preços, passou de 61% em março para 67% em abril: a difusão de itens alimentícios saiu de 55% em março para 70% em abril, e a de itens não alimentícios passou de 65% para 64%.
Dos 168 subitens alimentícios investigados, 118 tiveram alta em abril. Dos 209 subitens não alimentícios pesquisados, 134 tiveram aumentos.
“Teve uma quantidade maior de subitens com variação positiva, mas subitens com peso menor. Alguns subitens com peso significativo tiveram queda, contribuindo para a desaceleração”, frisou Gonçalves.
Oito dos nove grupos que integram o IPCA registraram altas de preços em abril. A única deflação foi registrada em Transportes (-0,38%). As passagens aéreas recuaram 14,15% em abril, subitem de maior impacto negativo no IPCA do mês, -0,09 ponto porcentual.
Os combustíveis ficaram 0,45% mais baratos: óleo diesel, -1,27%; gás veicular, -0,91%; etanol, -0,82%; e gasolina, -0,35%.
Na direção oposta, os gastos com Saúde e cuidados pessoais tiveram uma alta de 1,18% em abril. O resultado foi impulsionado pelo aumento de 2,32% nos produtos farmacêuticos, após a autorização do reajuste de até 5,09% nos preços dos medicamentos, a partir de 31 de março.
O item liderou o ranking de maiores pressões sobre o IPCA de abril, com uma contribuição de 0,08 ponto porcentual. Houve avanços também de 1,09% nos itens de higiene pessoal e de 0,57% no plano de saúde.
O custo do Vestuário teve uma elevação de 1,02% em abril, com destaque para as altas na roupa feminina (1,45%), na roupa masculina (1,21%) e nos calçados e acessórios (0,60%). Segundo o IBGE, o movimento sazonal de mudança de estação, com a chegada às lojas de novas coleções, explica os aumentos de preços.
O custo da Alimentação e bebidas avançou 0,82% em abril. A alimentação no domicílio subiu 0,83%, tendo como vilões a batata-inglesa (18,29%), o tomate (14,32%) e o café moído (4,48%). Ao mesmo tempo, ficaram mais baratos a cenoura (-10,40%), o arroz (-4,19%) e as frutas (-0,59%).
A alimentação fora do domicílio aumentou 0,80% em abril: o lanche subiu 1,38%, e a refeição fora de casa encareceu 0,48%.
Inflação de comida e bebida acumula 7,81% em 12 meses
As famílias brasileiras gastaram mais com alimentos pelo oitavo mês consecutivo. O grupo Alimentação e bebidas acumulou um aumento de 7,81% nos 12 meses encerrados em abril, uma contribuição de 1,68 ponto porcentual para a taxa de 5,53% registrada pelo IPCA no período.
A alta acumulada em 12 meses no preço do café moído alcançou 80,20%, maior variação desde o início do Plano Real, em julho de 1994. As carnes subiram 22,24% nos últimos 12 meses, os leites e derivados aumentaram 9,90%, e os ovos de galinha subiram 16,74%.
“Os alimentos oferecem uma pressão no índice por conta de questões climáticas que afetam a cultura”, afirmou Gonçalves. “Alguns são commodities e podem ter efeito do dólar, como trigo. Outro são (efeito do) clima, como tomate.”