Alexandre Silveira se aproxima de Lula e reata com Pacheco para tentar se manter no cargo

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O Estado de S. Paulo

O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, intensificou nas últimas semanas o trabalho para permanecer no cargo. Desgastado com senadores liderados por Davi Alcolumbre (União-AP) e com adversários que conquistou no meio empresarial, Silveira aposta na relação com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e tenta reconstruir pontes com antigos aliados no meio político.

Desde que a reforma ministerial na segunda metade do governo Lula entrou no radar, a troca de Silveira é especulada. A razão é o descontentamento declarado do consórcio político que patrocinou o seu nome para o Ministério de Minas e Energia, notadamente Alcolumbre, inconformado por ter sido ignorado em pedidos por cargos no governo.

Procurados, Silveira e o presidente do Senado não quiseram se manifestar. A Secretaria de Comunicação da Presidência da República também não comentou.

Pessoas próximas a Alcolumbre afirmam que a pressão pela retirada de Silveira do cargo é irreversível, e que a pasta deverá ter o mesmo fim do Ministério das Comunicações: ser ocupada por um técnico cujo nome passará pelo crivo do chefe do Senado. Ou seja, nem mesmo concessões em indicações políticas em favor de Alcolumbre dissolverão o impasse.

Silveira, por sua vez, reforçou a aposta na caneta de Lula para resistir à pressão. Auxiliares do presidente afirmam que o ministro conquistou não apenas Lula, mas a primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, que ficou próxima também de Paula Lúcia, mulher do ministro. Em uma entrevista ao Estadão, em 2024, Silveira contou que as duas se aproximaram durante a campanha eleitoral de 2022, nas viagens de Lula a Minas.

Há poucos dias, Silveira lançou mais um programa de forte apelo popular, dessa vez com a promessa de zerar ou reduzir a conta de luz da população de baixa renda. Ninguém no setor energético duvida de que tenha sido mais um gesto para agradar Lula, que está com a popularidade baixa a meses da eleição, e assim manter-se no cargo.

Auxiliares do presidente têm a mesma visão, uma vez que a medida estava em discussão internamente havia meses, mas acabou sendo divulgada às pressas, sem coordenação prévia com a Casa Civil e o Ministério da Fazenda.

Em agosto do ano passado, Silveira já havia prometido, ao lado de Lula e de Janja, ampliar o auxílio gás para 20 milhões de famílias ao custo de R$ 13,6 bilhões. A iniciativa não foi adiante porque o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, não autorizou usar o Fundo Social do Pré-Sal no programa e, no Orçamento de 2025, não havia recursos disponíveis.

Nova negativa ocorreu agora, com a rejeição de Haddad à tentativa de Silveira de usar o mesmo fundo para financiar a redução das contas de luz. Dessa vez, em vez de entrar em conflito com a Fazenda, Silveira recuou.

O plano para atender à população de baixa renda foi mantido, mas o ministro apresentou como alternativa proposta de cortar subsídios do setor privado.

Silveira tenta refazer pontes com aliados

Além de recorrer a agrados a Lula, Silveira também tenta restabelecer o apoio de antigos aliados. Há três semanas, ele almoçou em Brasília com Rodrigo Pacheco, ex-presidente do Senado, e um dos responsáveis pela indicação do ministro ao cargo no governo Lula.

A conversa marcou a reaproximação dos dois políticos, estremecidos desde o ano passado, quando o nome de Silveira passou a constar da lista de potenciais candidatos ao governo de Minas Gerais, na eleição de 2026. Pacheco ainda não disse se quer ser candidato, mas Lula não deixa de citá-lo toda vez que toca no assunto.

Na sexta-feira, 25, em evento em Uberaba (MG), o ministro elogiou Pacheco e disse que só concorreria se fosse recrutado por Lula. “Acho que o presidente Pacheco, que eu sempre destaquei, é um nome que está preparado para assumir qualquer cargo público no País. Há um desejo do presidente Lula, que ele seja o palanque aqui, o presidente já externou isso.”

No mês passado, Silveira já havia feito um gesto de paz. Indicou um nome ligado a Pacheco para o Conselho de Administração da Petrobras, o do engenheiro mineiro José Fernando Coura. Procurado, Pacheco não quis comentar.

Ex-delegado da Polícia Civil, Silveira chegou à cúpula do poder em Brasília como suplente do então senador Antônio Anastasia. Quando Pacheco assumiu a presidência do Senado, em 2021, o promoveu a diretor jurídico da Casa. No ano seguinte, por um acordo político amarrado por Pacheco e pelo presidente do PSD, Gilberto Kassab, Anastasia trocou o Senado pelo Tribunal de Contas da União. Silveira assumiu sua vaga e subiu um degrau.

De homem de confiança de Pacheco, responsável pela articulação política nos bastidores com a distribuição de emendas a prefeitos aliados em Minas, Silveira passou à luz dos holofotes e não saiu mais.

Naquele mesmo ano, flertou com o bolsonarismo ao se oferecer como eventual líder do governo no Senado. O intento não prosperou pela decisão firme de Kassab de não querer vincular o PSD ao então presidente. Silveira se recolheu e, na eleição, trabalhou para Lula em Minas Gerais, como deliberou seu partido. Em troca, foi candidato ao Senado com o apoio de Lula, desbancando o petista Reginaldo Lopes, que também queria a vaga.

O trabalho, porém, não teve a recompensa esperada. Por 588 mil votos, Silveira perdeu a eleição para o bolsonarista Cleitinho (Republicanos-MG), um deputado estadual com forte atuação nas redes sociais.

Lula, o PT e Pacheco, porém, não o deixaram na chuva. Durante a transição, com Lula já eleito, Silveira foi destacado por Pacheco para relatar a PEC da Transição, que autorizou ao novo governo gastar mais R$ 168 bilhões já no primeiro ano.

A atuação o catapultou à lista de potenciais ministros, mas foi a entrada de Davi Alcolumbre que definiu seu destino. Então cotado para assumir a pasta dos Transportes, Silveira subiu mais um degrau. Na última hora, com o empurrão de Alcolumbre e de Kassab, ele abocanhou um dos ministérios mais importantes da Esplanada, o de Minas e Energia.

Com ramificações em diferentes setores da economia, de alta rentabilidade, o ministério é disputado pela classe política e era cobiçado pelo MDB. A bênção do líder do MDB no Senado, Eduardo Braga, selou então o consórcio de apoio a Silveira. O ministro assumiu o cargo não apenas como um nome do PSD, mas representando um grupo político que dá até hoje as cartas no Senado.

No ministério, porém, Silveira adotou outro caminho, aproximando-se mais de Lula e, no setor privado, dos donos da JBS, Joesley e Wesley Batista, conquistando desafetos e se distanciando do chamado “grupo do Senado”.

Como mostrou o Estadão, em maio de 2024, Silveira assinou uma medida provisória que beneficiou a empresa de energia dos irmãos Batista, a Âmbar, viabilizando termelétricas recém-adquiridas na Região Norte. Adversários dos empresários no setor energético se insurgiram, a exemplo do “Rei do Gás”, Carlos Suarez, também interessado no negócio.

Meses depois, os donos da JBS compraram a empresa de distribuição de energia do Amazonas, mas o negócio segue embolado e ainda é objeto de questionamentos por parte de Suarez. Como o empresário exerce também influência no Congresso, ampliou-se o desgaste de Silveira com seus antigos aliados.

A Âmbar rejeita a ideia de que houve benefício e afirma que se tratou de uma transação privada em acirrado processo competitivo, e que a busca por uma solução para a Amazonas Energia era de conhecimento público, “urgente e iminente”.

A gota d’água ocorreu quando Silveira decidiu fazer indicações para as agências reguladoras sob influência de seu ministério sem combinar com os colegas. A iniciativa foi frustrada com a rejeição de Alcolumbre aos nomes propostos, situação que se arrasta até agora.

Como os cargos em agências passam pelo crivo do Senado, os parlamentares creem ter a prerrogativa nessas indicações, e a atitude de Silveira foi interpretada como uma afronta.

O mal-estar emperrou a análise de nomes indicados para todas as agências e autarquias, não apenas as ligadas a Silveira, pelo Senado. Atualmente, há 19 indicações propostas pelo governo esperando por sabatina do Senado, em vagas abertas nas agências nacionais de Aviação, Vigilância Sanitária, Transportes Terrestres e Saúde Suplementar, entre outras.

Em meio ao impasse, Silveira recuou e cedeu a vaga na diretoria-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP) para um nome proposto pelo senador Otto Alencar (PSD-BA) e rebaixou seu indicado para uma diretoria. Mesmo assim, corre o risco de não ser atendido. No caso da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), cedeu o espaço para um indicado por Eduardo Braga e, mais recentemente, em uma segunda vaga, propôs um nome ligado ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes.

Mesmo com Silveira na trilha para angariar apoios, nem pessoas próximas ao ministro arriscam prever qual será o desfecho da queda de braço, nem se Lula bancará a sua permanência. Nos bastidores do Senad

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