Bolsonaro põe pressão sobre Petrobras ao criticar reajuste

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11/05/2020
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Fonte: Valor Econômico

A declaração do presidente Jair Bolsonaro dizendo que vai questionar a Petrobras sobre o aumento de 12% no preço da gasolina, na semana passada, volta a colocar a autonomia da estatal em xeque. Os próximos passos da empresa na precificação dos combustíveis serão acompanhados com lupa por investidores que veem na pressão do presidente da República um clima de desconforto para a gestão da companhia. Os cálculos de quem monitora o mercado mostram que a petroleira aumentou menos do que deveria a gasolina na última quinta-feira. Ao classificar o reajuste da empresa como uma “manobra”, Bolsonaro ignora, portanto, a defasagem da tabela de preços da companhia, afirmam fontes da indústria.

Uma das frases mais repetidas, entre os analistas que acompanham o dia a dia da Petrobras, é que “baixar preço é fácil, mas subir é outra história”. Segundo dois deles, consultados pelo Valor, embora as ações da companhia tenham fechado a sexta-feira em alta – 7,1% para as ON (R$ 19,6) e 6,6% para as PN (R$ 18,6) -, os impulsos intervencionistas de Bolsonaro nos preços da estatal são, hoje, o principal risco sobre o valor da empresa na bolsa.

A Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom) estima que, na sexta-feira, a Petrobras estava vendendo o litro da gasolina entre R$ 0,35 e R$ 0,44 abaixo da paridade, dependendo da região. As contas consideram as despesas para internalização do produto até o porto e adicionam a esses valores custos com taxas portuárias, armazenagem e frete até o ponto de entrega. Por sua vez, a estatal alega que o preço de paridade internacional “não é um valor absoluto, único e percebido da mesma maneira por todos os agentes”.

Segundo um analista de um importante banco de investimento, mesmo com o reajuste de 12%, a defasagem dos preços da gasolina, em relação à paridade internacional, era de 25% na sexta-feira.

A Petrobras já reduziu os preços da gasolina este ano em 46,5% e o do diesel em 44,1%. Para efeitos de comparação, o barril do tipo Brent acumula uma baixa de 49% (segundo contrato). Vale lembrar que, na conta da estatal, entra o preço do petróleo, mas também o câmbio e estratégias de captação de participação de mercado, por exemplo. O reajuste da semana passada, portanto, foi uma tentativa da Petrobras de reduzir sua defasagem, depois de dois meses seguidos de cortes nos preços nas refinarias. O receio, agora, é que esse movimento seja interrompido.

Esta não é a primeira vez que Bolsonaro coloca a estatal contra a parede, depois de um aumento dos preços. Em abril de 2019, as ações da empresa desabaram na bolsa após o presidente pedir, em telefonema ao presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, que a estatal suspendesse o reajuste de 5,7% do diesel, em meio às ameaças de uma nova greve dos caminhoneiros. Na ocasião, Castello Branco disse que houve “interferência zero” no caso.

Um ano depois, Bolsonaro volta a fazer retórica intervencionista e a alimentar a desconfiança histórica sobre a autonomia da empresa. Ao longo de um ano e meio de mandato, Bolsonaro já mandou a empresa rever contratos de patrocínio e se antecipou à estatal ao anunciar que não haveria reajustes imediatos nos preços, em meio a conflitos no Oriente Médio.

O grau de autonomia da Petrobras havia sido colocado em xeque desde os primeiros dias de governo. O amigo particular do presidente da República, Carlos Victor Guerra Nagem, foi indicado para a gerência-executiva de inteligência e segurança. A rescisão do contrato entre empresa e o escritório do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, desafeto público do presidente, também ajudou a alimentar a desconfiança em torno da ingerência do governo na estatal.

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