Análise: venda da BR é a maior operação na Bolsa desde 2015 e atrai investidor estrangeiro
25/07/2019
Previ e Opportunity ampliam participação na BR após venda do controle da Petrobras na empresa
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Fonte: Valor Online

Um dia depois de a Petrobras vender 30% de sua participação na BR, garantindo a privatização da distribuidora, a empresa de combustíveis fechou o dia, ontem, com o maior giro financeiro entre as companhias do Ibovespa, ao somar R$ 1,6 bilhão – acima de outras gigantes como Vale, a própria Petrobras e os bancos. Os papéis ON fecharam o dia com alta de 1,19%, a R$ 26,32, mas, na máxima do dia, chegaram a registrar ganho de 6,23%, a R$ 27,63 – maior preço desde a estreia da companhia na bolsa de valores, em dezembro de 2017.
Com a mudança na composição acionária da BR, a estatal sinalizou com alterações na administração da distribuidora. A petrolífera se comprometeu a destituir todos os membros do colegiado indicados por ela e a apontar somente três dos nove membros do novo conselho, abrindo espaço para que os demais acionistas fiquem com os outros dois terços do colegiado, disse uma fonte. A intenção é convocar em até 40 dias uma assembleia geral extraordinária para eleger os novos conselheiros.
Alexandre Carneiro e Carolina Lacerda são nomes cogitados pela Petrobras para suas três cadeiras. Carneiro foi vice-presidente comercial da Shell América Latina e associado ao Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), enquanto Carolina, ex- UBS e Merril Lynch, é conselheira da Hypermarcas.
Com a recente reforma do estatuto da BR, condicionada à conclusão da oferta secundária, o número de conselheiros da empresa cairá de dez para nove. O governo e os empregados perdem suas cadeiras no colegiado, porque a BR deixaria a condição de empresa estatal. Hoje, pelo estatuto em vigor, a Petrobras indica até cinco dos dez conselheiros da BR, sendo as outras cinco vagas distribuídas entre os minoritários (até três nomes), Ministério da Economia (uma vaga) e empregados (mais uma).
Alguns conselheiros estão se queixando das mudanças no estatuto. Isso porque, embora a Petrobras tenha assumido o compromisso de indicar apenas três nomes para o conselho, a reforma não estabeleceu nenhum limite formal à influência da empresa sobre o colegiado. A reforma também não limitou o número máximo de membros eleitos por um único acionista, disse uma fonte.
Para Carolina Fidalgo, advogada do Rennó, Penteado, Reis & Sampaio Advogados, mesmo com a diluição de sua participação na BR, a Petrobras deve manter um controle minoritário sobre a distribuidora, a depender do cenário de pulverização das ações. A BR, contudo, assume o status de uma empresa privada, o que, na prática, deve garantir à companhia mais agilidade na governança por meio da dispensa, por exemplo, da exigência de licitações para bens e serviços.
"A partir do momento em que as ações da BR mudarem de titularidade, a companhia, formalmente, pelo critério legal, deixa de ser uma estatal. Enquanto persistir o controle, mesmo minoritário, da Petrobras, contudo, pode haver dúvidas sobre a posição do Tribunal de Contas da União (TCU), que já entendeu, no passado, que as estatais preferem às vezes deixar o controle em sociedades de propósito específico de forma premeditada, para fugir do direito administrativo. Não penso que este seja o caso da privatização da BR, mas pode suscitar discussões, porque é uma situação nova", afirma.
A BR vale R$ 30,7 bilhões na bolsa, acima de seus pares comparáveis de capital aberto. A Ultrapar, controladora da rede de postos Ipiranga, vale R$ 23 bilhões na B3, enquanto a Cosan, que divide o controle da Raízen com a Shell, é avaliada em R$ 20,2 bilhões. Vale destacar, porém, que essas duas companhias são holdings que reúnem diversas atividades para além da distribuição de combustíveis e que o desempenho desses outros negócios influencia também a avaliação de mercado das companhias. De todo modo, por serem papéis pelos quais os investidores também se expõem ao setor no qual atua a BR, essa comparação é um parâmetro aceitável.
Para Fernando Barroso, diretor da asset da CM Capital Markets, todo o movimento do setor acompanha as perspectivas favoráveis depois dos sinais do governo de estimular investimentos em logística e distribuição. "São dois segmentos com boas expectativas, por causa da intenção do governo de promover uma reavaliação de preços e induzir investimentos privados", disse. "É um setor prioritário para receber injeção de recursos com a agenda do governo e, por isso, ele tem respondido de forma positiva", avaliou Barroso.
Outro gestor de um grande fundo com posição na distribuidora de combustíveis afirma que ampliaria ainda mais a exposição ao papel, mas apenas caso ele caísse. Segundo esse profissional, a BR reduz o desconto contra outros pares com a saída da Petrobras do controle, já que deixa de ser uma estatal. Mas pondera: não é tão simples de enxergar uma avaliação de preço adequada para a BR agora. "Não é simples de entender a diferença de 'valuation' [da BR para os pares] porque isso depende da execução do plano da empresa e da nova administração. Se forem bem-sucedidos, ela está descontada, sim", afirmou a fonte.
Ainda segundo o gestor, a desestatização da empresa dá um grau de liberdade maior para condução dos negócios no setor de combustíveis, já em maior nível em relação à oferta inicial de ações (IPO), há dois anos. Se tiver uma execução nessa direção, a estimativa para esse profissional é que a ação da companhia chegue a R$ 50 em três anos.

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