Brasil entra na rota de sanções contra a Rússia por importação de diesel

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Folha de S. Paulo

“A Europa aumentará a pressão sobre Moscou por meio de sanções. Foi isso que acordamos com @POTUS após a sua conversa com Putin” A postagem de Friedrich Merz, na noite de segunda (19), feita após conversa de líderes europeus com Donald Trump, foi apenas o último indício de uma nova ofensiva econômica contra a Rússia. Quem está na alça de mira, no entanto, são países que compram petróleo de Vladimir Putin, entre eles o Brasil.

O 17º pacote de sanções da União Europeia contra a Rússia, com especial atenção ao comércio de petróleo do país, foi divulgado horas depois, nesta terça (20). Ainda que não interrompa o fluxo, a pressão já afeta os preços do produto e, segundo o setor, poderá ter algum impacto nas bombas brasileiras em futuro próximo.

Em 2024, a Rússia se consolidou como principal origem do diesel importado pelo Brasil. Neste ano, segundo a Abicom (Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis), 63, 6% vieram do país de Putin. As compras visam suprir um déficit de 25% entre a capacidade nacional de produção e a demanda pelo combustível, o principal motor do transporte rodoviário de cargas no país.

Em recente e controversa visita a Moscou, o presidente Lula aumentou a conta para 30%. Em entrevista, ao comentar sobre o déficit brasileiro na balança comercial entre os dois países, declarou que “70% dos 30% são importados aqui da Rússia”.

Lula enumerava as razões de sua presença em Moscou, em meio a dezenas de ditadores e autocratas, fato muito criticado na Europa: “Primeiro, porque a Rússia é um bom parceiro comercial”. Naquele momento, chanceleres do bloco definiam os contornos do 17º pacote de sanções contra o país, em que a chamada “shadow fleet”, a frota fantasma que transporta o petróleo russo driblando restrições, é o principal alvo.

São por enquanto 350 petroleiros, responsáveis pelo escoamento de 85% do petróleo russo, que desde a invasão da Ucrânia, em 2022, e a série de sanções econômicas lançadas por UE e EUA se tornou um produto em oferta. Os principais compradores são China e Índia, parceiros de Brasil e Rússia nos Brics. Ainda que não sejam clandestinas, as transações sofrem inúmeros percalços para chegar aos compradores.

Segundo documento elaborado pela Abicom, os embarques do combustível ocorrem apenas pelos portos de Primorsk, Vigotski, São Petersburgo e Ust-Luga, todos na região de São Petersburgo.

Para chegar ao Brasil, os navios atravessam o golfo da Finlândia, o mar Báltico, os estreitos dinamarqueses, o mar do Norte e o canal da Mancha em um trajeto de 24 dias até Santos. São de 4 a 5dias a mais do que o caminho de importações provenientes dos EUA.

“Apesar das rotas mais longas em comparação às originárias do golfo do México, da passagem por trechos críticos e pelas costas de diversos países-membros da Otan, os derivados russos vêm se consolidando no mercado brasileiro”, diz a associação.

Desde o fim de semana, coma iminência da aprovação do pacote de Bruxelas, aos trechos críticos se somaram escaramuças militares. No domingo (18), um petroleiro de bandeira grega, que deixara um porto na Estônia, foi abordado pela marinha russa em uma rota de trânsito negociada.

Dias antes, um caça Sukhoi Su37 invadiu o espaço aéreo estoniano depois que um navio com óleo russo foi escoltado para fora do mar territorial do país. O tom de retaliação ficou evidente.

“Quanto mais tempo a Rússia continuar em guerra, mais dura será nossa resposta”, disse em rede social Kaja Kallas, a chanceler da UE, adiantando que a 18º edição de sanções já está em preparação. Um novo lote de navios que transportam petróleo russo deve ser atingido, assim como já se discute no âmbito do G7 diminuir o teto do produto de US$ 60 para US$ 50 -o sistema limita o prêmio pago por seguradoras, o que torna a operação ou menos lucrativa ou mais arriscada.

A retórica europeia sobre o problema, no entanto, foi muito além, na última semana.

Jean-Noêl Barrot, ministro de Relações Exteriores da França, disse ver com interesse legislação gestada no Congresso dos EUA pelo senador Lindsey Graham. O republicano linha dura da Carolina do Sul propõe 500% de tarifa sobre os negócios russos, incluindo os países que mantêm comércio com Moscou. Questionada sobre a proposta em Tirana (AlIbânia), na sexta (16), a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, declarou apenas estar em contato com o senador.

Ainda que o pacote europeu não consiga interromper o trânsito de petroleiros e renovar a discussão de tarifas com países como a China seja algo impensável neste momento, a influência sobre o preço do óleo russo já é uma realidade. No caso do diesel, avantagem em relação ao produto americano, que já chegou a ser de R$ 0, 15 por litro, caiu para algo entre R$ 0, 03 e R$ 0, 04.

Segundo dados da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis), as importações são feitas por empresas de todos os portes, desde pequenas distribuidoras regionais de combustíveis aos gigantes Ipiranga e Vibra (antiga BR Distribuidora).

Petrobras não compra diesel russo – prefere buscar o produto nos EUA, na Índia ou em países árabes. A estatal foi responsável por um terço das importações brasileiras de diesel em 2024. No setor privado, no entanto, as compras da Rússia são a maioria.

Executivos do setor ouvidos pela Folha dizem que as grandes distribuidoras já vinham adotando cautela para evitar a compra de produtos de fornecedores alvos de sanções. Vibra e Ipiranga, por exemplo, têm ações em Bolsa e temem o risco de punições por descumprir as sanções.

Segundo fontes, há empresas nacionais de menor porte ainda comprando desses fornecedores.

R$ 0, 03 a R$ 0, 04 é a vantagem atual do preço do diesel russo em relação ao americano; valor já chegou a ser de R$ 0,15

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