Fonte: Veja
A frota disponibilizada não conseguiu desfazer a impressão de que se está fazendo pouco diante da dimensão do problema. Enquanto as manchas de óleo se multiplicavam, a conhecida animosidade do Palácio do Planalto com os governadores do Nordeste — quase todos de esquerda — ganhou novo combustível com a cobrança por um apoio efetivo de Brasília. Pelo Twitter, Ricardo Salles trocou farpas com o governador Rui Costa (PT) ao afirmar que, quando foi à Bahia, não viu “ninguém do governo estadual” engajado na remoção do óleo. O petista retrucou: “De helicóptero realmente não tinha como ver. Fazer foto e dizer que trabalhou é muito fácil”. O governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), classificou a reação federal de improvisada. Salles evitou responder às críticas, afirmando que não era momento de polemizar nem de politizar o caso.
Ao mesmo tempo, ele partiu para a polêmica com o Greenpeace ao sugerir que a entidade não participa dos mutirões de limpeza. “O ministro espalha falácias sobre a atuação de ONGs, como vimos nas queimadas na Amazônia, como forma de desviar a atenção da sua própria inação e incompetência”, respondeu o grupo. Na quarta-feira 23, após ato do Greenpeace no Palácio do Planalto, o ministro chamou o grupo de ecoterrorista — e incluiu a Venezuela na crítica. “Não bastasse não ajudarem na limpeza do petróleo venezuelano nas praias do Nordeste, os ecoterroristas ainda depredam patrimônio público”, escreveu Salles no Twitter, fazendo referência a um líquido parecido com petróleo jogado na frente do prédio do governo. Ao menos dezenove militantes foram detidos no protesto, o mais ruidoso até então contra o governo. Na terça-feira 22, um grupo de pescadores já havia invadido a sede do Ibama em Salvador.
Desde o início da crise, Bolsonaro não foi à região afetada. Enquanto isso, outros políticos se movimentam para ganhar protagonismo. O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), que assumiu interinamente a Presidência da República na quarta 23, por ocasião de viagem ao exterior de Bolsonaro e do vice, Hamilton Mourão, teve como primeiro ato no cargo a visita ao Nordeste com uma comitiva de parlamentares, para “verificar as providências” tomadas. Antes de ir para o exterior, Mourão anunciou que destacaria até 5 000 homens do Exército para trabalhar na limpeza das praias, serviço que vinha sendo feito com o apoio da Marinha. “Nós não julgávamos ser necessário empregar o Exército. Quando precisou, nós empregamos”, disse o ministro da Defesa, Fernando Azevedo. Já no Senado, a Comissão de Meio Ambiente pediu ao governo que decrete estado de emergência ambiental para todos os estados — iniciativa que, por enquanto, já foi tomada pelos governos da Bahia e de Sergipe. Uma comissão externa foi instalada pela Casa para acompanhar as ações, o que promete pressão extra sobre o Palácio.
Enquanto isso, o desastre segue sua marcha. As manchas de óleo chegaram nos últimos dias ao Morro de São Paulo (BA), mais um destino turístico atingido pelo óleo no momento em que já se veem no horizonte o fim do ano e a temporada de verão. Registros de que o petróleo também atingiu recifes de corais, um ecossistema ambientalmente sensível, são outro indício de que estamos só no início de um problema de dimensões ainda incalculáveis. O tempo corre contra o governo.