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Fonte: Valor Online

Passado o choque de preços provocado pela greve dos caminhoneiros, a inflação voltou a registrar taxa comportada em agosto, como mostram os dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15), divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O indicador cedeu de 0,64% em julho, para 0,13%, taxa mais baixa para agosto desde 2010. A desaceleração deve continuar, deixando o IPCA "fechado" de agosto próximo de zero, na opinião de analistas, para quem ainda não há impacto relevante do câmbio na inflação.
Até ontem, a moeda americana acumulava sete dias consecutivos de alta, que levou sua cotação a ultrapassar os R$ 4. Ao longo do segundo semestre, se a depreciação cambial continuar, a inflação pode ser afetada, de acordo com Tatiana Pinheiro, economista-sênior do Santander. Mas nada que desvie o IPCA do cumprimento da meta de 4,50% perseguida pelo Banco Central neste ano. Em 12 meses até agosto, o IPCA-15 subiu 4,3%, de 4,53% em julho.
Este mês, o IPCA-15 ficou próximo do esperado pelo mercado, 0,10%, o que representou uma "volta à normalidade", diz Tatiana. Alimentos e combustíveis, itens que puxaram a alta da inflação no pós-greve, são agora os líderes da desaceleração do IPCA-15. Responsável por um quarto das despesas das famílias, o grupo alimentação e bebidas teve alta de apenas 0,03% em agosto, após avanço de 0,61% na prévia de julho. Alimentação no domicílio registrou deflação de 0,43%.
Os combustíveis, por sua vez, caíram 1,32%, a segunda baixa seguida. Houve queda no preço médio do etanol (-5,80%), do óleo diesel (-0,50%) e da gasolina (-0,40%). Com a baixa em combustíveis e a queda de 26% nas passagens aéreas, o grupo transportes teve deflação de 0,87% em agosto, depois de subir 0,79% em julho, e retirou 0,16 ponto percentual do IPCA-15. Na outra ponta, a conta de luz foi a principal pressão individual sobre o índice. Ao subir 3,59%, acrescentou 0,14 ponto à inflação do período, refletindo reajustes tarifários em algumas capitais, com destaque para o realizado em São Paulo.
O IPCA de agosto deve ficar entre estável e ligeira deflação com a continuidade da deflação dos combustíveis, item com forte influência nos custos de diversas cadeias, afirma a economista do Santander. "Em setembro, porém, o item não deve ver deflação novamente por causa do reajuste da gasolina. Ainda assim, a alta não deve ser relevante", afirma.
Nos próximos meses, é provável que tanto o IPCA-15 quanto o índice do mês cheio voltem a ter variações mensais próximas à média verificada entre janeiro e maio, de 0,25%, segundo Tatiana.
É a mesma avaliação do Banco MUFG Brasil, que prevê uma desaceleração adicional dos preços até o fim do mês. "Esperamos o IPCA em zero", afirmou o banco em relatório. Para os próximos meses, a instituição espera taxas de inflação mensal em torno de 0,27%, com influência da desvalorização do real sobre bens e componentes importados. O impacto do câmbio, contudo, não deve ser forte por causa da grande capacidade ociosa da economia brasileira, diz o banco.
Para Tatiana, do Santander, o fator de risco para a inflação é o enfraquecimento do real ante o dólar, que pode levar os índices mensais a escapar da normalidade no quarto trimestre do ano e ser fonte de pressão no início de 2019. Ainda é cedo, diz a economista, para cravar que essa pressão já está presente, a despeito das variações mais fortes em grupos com grande dependência de importação, como o de higiene pessoal, que passou de queda de 0,57% em julho para alta de 1,20% em agosto pelo IPCA-15.
Outros produtos influenciados pelo câmbio, como os panificados, registram alta nos últimos meses, já que boa parte da farinha de trigo usada no país é importada, mas essas altas têm sido compensadas pela queda forte em outros produtos. De acordo com dados do IBGE, depois de registrar queda desde agosto do ano passado, a farinha de trigo passou a subir em maio (1%), junho (3,04%), julho (7,37%) e agosto (5,14%), no IPCA-15. O pão francês sobe há quatro meses, com mais intensidade em julho (2,58%) e agosto (1,34%).
Além da inflação do mês, os núcleos também baixaram. A média das três principais medidas que retira os itens mais voláteis do cálculo cedeu de 0,50% para 0,37% no período, segundo cálculos do Goldman Sachs. Mas o acumulado em 12 meses subiu de 3,48% para 3,57%.
Já a inflação de serviços desacelerou para 0,05% em agosto, depois de ter registrado 0,58% em julho, por causa da queda das passagens aéreas. Em 12 meses, essa medida acumula alta 3,36%, menos que os 3,41% até julho.
O núcleo da inflação de serviços, que exclui os itens mais voláteis desse segmento, foi maior do que o esperado pelo Goldman Sachs, marcando 0,40%, elevando o acumulado em 12 meses de 2,97% para 3,11%.

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