Entrevista/Petrobras/Jean Paul Prates: Petrobras é indestrutível; 2024 será p/consolidar gestão

Petróleo cai diante de preocupações com taxas de juros
03/01/2024
Petróleo em queda facilitou nova política de preços da Petrobras
03/01/2024
Mostrar tudo

UDOP

Foto Notícia

O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, avalia que se 2023 foi um ano de retomada e de revitalização da estatal, 2024 será o ano de consolidar a gestão da companhia. Em entrevista exclusiva ao Broadcast, o executivo afirma que a petroleira entra no novo ano zerada em relação às polêmicas envolvendo o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e com metas definidas, como construção até o final do ano do portfólio de energias renováveis da companhia e a obtenção da licença ambiental para perfurar na bacia da Foz do Amazonas. Além disso, ressaltou, será o ano da criação da Petrobras China, uma subsidiária da estatal brasileira no país asiático para facilitar as negociações entre os dois países. Leia abaixo os principais trechos da entrevista ao Broadcast:

Broadcast: Os desafios para 2024, serão maiores?

Jean Paul Prates:
Vai ser o ano de consolidação da nova gestão. A gente superou as barreiras, os incrédulos, os que diziam que ah, o PT vai chegar e bagunçar a Petrobras de novo, vai afrouxar os controles de governança, colocar político e isso vai fazer a ação da Petrobras ir para o buraco. Tudo isso a gente superou e agora vai consolidar isso. O capital que a gente construiu de credibilidade, de técnica e de autonomia em relação a política de preços é evidente. Quando teve que aumentar preço a gente aumentou, claro que conversou com o governo, preparou o governo. Conversamos até sobre o processo de reoneração (dos impostos dos combustíveis) com o Haddad (ministro da Fazenda, Fernando). O Haddad tem sido nosso interlocutor direto nessa questão de ajustar no momento certo. Ele vai fazer a reoneração agora porque as condições do mercado de petróleo estão permitindo. A gente reduziu duas vezes para baixo (o diesel) e era a hora de fazer. Não é uma questão de combinar, é uma questão de se ajustar, não pode ficar com imposto zerado, não existe isso em nenhum país do mundo. Os combustíveis caíram significativamente ao longo do ano, apesar do pico do preço do petróleo no meio do ano, um momento que o petróleo subiu e a redução ficou bem menor. Agora, no final do ano, a gente conseguiu fechar o ano com bom resultado, mas a gente segurou uma alta grande no meio do ano.

Broadcast: E quais projetos pretende ver concretizados em 2024?

Prates: 
Vai ser o ano da construção do portfólio dos projetos de energias renováveis. A gente tem que terminar o ano com um bom portfólio de renováveis consolidado, com um bom cabedal de projetos renováveis para o futuro. O Tolmasquim (diretor de Transição e Energética e Sustentabilidade, Maurício) não conseguiu terminar isso agora porque a análise demora, tem que fazer uma triagem muito boa. O pessoal do Tolmasquim está trabalhando nisso.

Mas a Petrobras chega como ao final de 2024….

Prates: 
Vamos terminar com refinarias apontadas para o futuro, com pelo menos seis refinarias que vão estar com o coprocessamento de óleo vegetal ao longo do ano que vem. No E&P (exploração e produção) vamos manter essa curva de produção ascendente, ainda não chegamos no pico de produção no Brasil. Queremos conseguir a licença de perfuração da bacia da Foz do Amazonas, no Amapá, para saber se tem ou não óleo lá, e esse é só o começo da história, ninguém sabe se tem óleo. Depois o estado brasileiro vai decidir se vai dar licença ou não para produzir. Ainda vai ter algum sucesso vindo da bacia Potiguar, também na Margem Equatorial, e vamos começar a operação no Rio Grande do Sul, Santa Catarina através da bacia de Pelotas. E também vamos internacionalizar a empresa de novo.

Sobre internacionalização, a Petrobras fechou o ano anunciando parceria com a Shell em São Tomé Príncipe, quais serão os próximos passos?

Prates: 
A Petrobras China vai mesmo sair, faz 50 anos do início das relações diplomáticas entre o Brasil e a China, e a gente quer que o presidente (Lula) anuncie isso nas comemorações, a nossa contribuição vai ser uma empresa brasileira-chinesa. O fato é que você vai internacionalizar a Petrobras. Começamos esse ano timidamente com essa prospecção em São Tomé e Príncipe , mas a gente vai começar a ter atividade não só no upstream, mas em parcerias como o presidente anunciou na Arábia Saudita, parcerias para investimentos no Brasil. Será uma subsidiária. Já tivemos escritório na China, mas fecharam. A ideia é ter uma subsidiária que ancore todas as nossas áreas na Ásia, não de trading, que fica em Cingapura, mas de construção, engenharia, parceria em nossas plantas de fertilizantes e de refino. É uma empresa para facilitar as negociações, um veiculo de trabalho de negócios.

Como o senhor avalia o seu primeiro ano de gestão à frente da Petrobras?

Prates:
 O ano de 2023 foi um de retomada e revitalização. Tanto que a gente colocou essa hastag #APetrobrasvoltou. Não é uma hastag de raiva, é de reconquista, um retorno da Petrobras ao que ela era, como todo mundo conhece a Petrobras tradicionalmente. Não é nada ideológico. É uma marca de gestão, a Petrobras precisava ser revitalizada, ela não foi destruída, ela não precisa ser reconstruída, ela é indestrutível a meu ver. O governo tem logomarca de reconstrução, mas como aqui é uma estrutura empresarial, eu vejo ela como indestrutível. Estamos colocando alma de novo na empresa, era uma empresa sem alma (na gestão anterior), sem objetivo. Inclusive em relação à transição energética, nada era muito claro, nem em relação ao petróleo, exceto que queriam produzir pré-sal até acabar. Não tinha nada além disso.

Mas 2023 foi um ano bem marcado também por conflitos entre a Petrobras e o Ministério de Minas e Energia, com o ministro Alexandre Silveira querendo impor nomes no Conselho, cobrando o senhor publicamente sobre questões como aumento da produção e gás e redução do preço dos combustíveis. Isso já passou?

Prates: 
Eu considero tudo isso superado, não só as questões politicas, mas qualquer outro problema está completamente superado. A Petrobras é vinculada ao Ministério de Minas e Energia, não subordinada. Vamos virar o ano com a página em branco e olhar para frente.

Qual foram os principais desafios em 2023?

Prates:
 Anunciar a política de preços e o corte nos dividendos. Tivemos que ter muita cautela par mostrar que era uma estratégia comercias, mais que uma política de preços de governo, é uma estratégia comercial de uma empresa. A gente não controla do mercado. E anunciar isso, e a ação ter subido no dia, mostrou que a forma de explicar tudo isso foi bem sucedida, apesar de alguns falarem que era caixa preta, que ninguém entendeu. A nossa ação fecha lá fora com valorização de 113% em dólar, as ações estão subindo. Mostramos que a Petrobras pratica preço de mercado, mas preço de mercado brasileiro, e foi isso que o presidente Lula quis dizer com abrasileirar os preços. É preço de mercado, mas do Brasil. Por que vou pagar o preço de Roterdã mais o frete até aqui? Tenho mercado enorme, produção enorme, tenho eficiência na matéria prima, temos um mercado com características próprias, brasileira, por isso vamos abrasileirar os preços.

O mesmo ocorreu na mudança dos dividendos, que caíram de 60% para 45%?

Prates: 
Outra situação parecidíssima foi o dividendo. Todo mundo me dizia que se eu dissesse para o acionista que ele iria receber menos dividendos de uma empresa que era a maior pagadora do mundo, a ação ia cair e os caras não iam mais acreditar em mim. A gente fez a mudança, a gente aprovou diretrizes de um Plano Estratégico robusto, que ia aumentar o investimento, e o investidor mais conservador, de fundo soberano, aquele que sabe que a Petrobras é um transatlântico que tem decisões estratégicas de longo prazo, e, portanto, um investimento de longo prazo, apesar de eventualmente ter uma rentabilidade menor no curtíssimo prazo, esse cara pegou e aumentou a posição na Petrobras. Se você contasse, no início do ano, que você ia diminuir o preço dos combustíveis e diminuir o dividendo, e que a ação ia valorizar mais de 100%, ninguém acreditava.

Fonte: Broadcast

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *