Home office pós-coronavírus pode reduzir consumo de combustíveis?

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Fonte: Infomoney

Já se passaram quase três meses desde que as primeiras cidades brasileiras começaram a adotar o isolamento social para combater a pandemia do novo coronavírus. Mas, mesmo com tantas dúvidas sobre os impactos e a duração deste cenário, muitas empresas começam a analisar a possibilidade da manutenção do home office quando tudo isso passar.
O aumento desta modalidade de trabalho em relação a como era feito antes da pandemia tem impacto não só nos funcionários e empresas que adotarem isso, mas refletem em outras áreas. E uma das maiores companhias do país, a Petrobras (PETR3; PETR4), poderia sentir os efeitos disso.
Isso porque, assim como já está ocorrendo a queda do petróleo por conta da fraca demanda global por combustíveis visto que a população tem ficado em quarentena e não está utilizando transporte automotivo, se mais pessoas continuarem em casa daqui para frente, o preço da commodity pode não ter espaço para se recuperar tanto.
Em relatório publicado na quarta-feira (3), os analistas Vicente Falanga e Gustavo Sadka, do Bradesco BBI, fizeram uma análise dos impactos para o setor de petróleo em um cenário de aumento do trabalho remoto. Segundo eles, a estimativa é que os países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), excluindo os Estados Unidos, tenham hoje cerca de 13% da força de trabalho trabalhando em casa, 3 vezes por semana.
Enquanto isso, os países fora do grupo mais os EUA têm em torno de 8% de trabalhadores em home office, duas vezes por semana. Já na Escandinávia, aparece a maior taxa de trabalho remoto, em 20%.
“Com surto de coronavírus, muitas pessoas se adaptaram bem ao trabalho em casa e planejam manter ou aumentar a intensidade do trabalho em casa por várias razões. Com isso, esperamos um impacto negativo na demanda futura por petróleo, especialmente através do menor consumo de gasolina, pois as pessoas poderão dirigir menos para locais de trabalho”, explicam.
Neste cenário, o Bradesco BBI traçou dois cenários, um de estresse e outro que eles acreditam ser o mais realista. Neste primeiro, ocorreria uma mudança rápida para um ambiente em que as taxas globais de home office se aproximariam dos padrões escandinavos, 20%, cinco vezes por semana.
“Estimamos que isso remova cerca de 3 milhões de barris por dia na demanda de gasolina (-12%)”, avaliam os analistas, ressaltando que caso não fosse feito nada para equilibrar a oferta, os preços do petróleo poderiam ser limitados em torno de US$ 40 por barril.
Este valor ficaria próximo do que a commodity é negociada hoje. O barril do tipo WTI, usado como referência nos EUA, é cotado nesta quinta pouco abaixo de US$ 37, enquanto o brent, que é referência internacional, está em US$ 39,50.
Porém, o Bradesco BBI acredita que uma mudança na tendência de trabalho será mais gradual e com impactos menores. Eles afirmam que esta mudança de formato não é simples e se concentra em certas linhas de negócios, grandes empresas e em empregos mais bem remunerados.
“Dada a impossibilidade de alguns serviços (como restaurantes, cabeleireiros e construção) trabalharem remoto e a exposição de algumas grandes economias a essas linhas de negócios e para empregos de baixa renda, acreditamos que o impacto geral do trabalho em casa deve ser limitado, e muito gradual”, afirmam.
Com isso, o cenário mais realista traçado pelo banco considera o trabalho remoto nos países OCDE (excluindo o EUA) passando de 13% a 15% (de 3 a 4 vezes por semana), e não OCDE mais EUA saltando de 8% para 13% (de 2 a 3 vezes por semana). Isso teria um impacto limitado na demanda de gasolina, com queda de 600 mil barris (-2%), com os preços do petróleo sendo potencialmente prejudicados em US$ 5 o barril no longo prazo.
Considerando este ambiente de mudança gradual de tendência, o impacto tanto para a Petrobras, quando para as distribuidoras Ultrapar (UGPA3) e BR Distribuidora (BRDT3), também seria limitado.
Os analistas explicam que, no caso da estatal, o impacto negativo viria apenas dos preços mais baixos de petróleo, enquanto para as outras duas empresas, haveria a questão dos combustíveis, em que o cenário do Bradesco aponta para uma queda de 2% na demanda, o que, por sua vez, reduziria o preço-alvo em apenas R$ 1 por ação para elas.

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