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Fonte: Valor Online

Em meio à greve dos petroleiros, os trabalhadores da Petrobras foram às urnas e elegeram a geofísica Rosângela Buzanelli como representante dos empregados no conselho de administração da estatal. Apoiada pela Federação Única dos Petroleiros (FUP), a nova conselheira disse não acreditar que possa mudar drasticamente os rumos da companhia, mas que é possível enriquecer o colegiado com uma visão contraditória à atual administração da petroleira, que caminha, segundo ela, na contramão da história.
Rosângela completa 33 anos de empresa neste ano e levanta a bandeira de uma Petrobras pública, integrada e indutora do desenvolvimento do país. Ela vê a companhia com um foco demasiadamente voltado para o retorno aos acionistas e questiona a escolha da petroleira de se concentrar na exploração e produção de óleo e gás.
A Petrobras vive um momento crítico. Desde 2016 tem havido um desvio da rota original de uma empresa pública, forte e indutora do desenvolvimento. Ela virou as costas para esses princípios, ao visar mais o retorno ao acionista. Isso tem se acentuado. Há um desmonte, um fatiamento e apequenamento da Petrobras, que tem responsabilidades sociais. A visão da empresa hoje é de uma empresa privada, afirma.
Rosângela destaca que até mesmo as petroleiras privadas têm, hoje, um senso de responsabilidade e dão respostas concretas à sociedade como atores da transição energética para uma economia de baixo carbono. Mas a Petrobras está indo na contramão das majors [grandes petroleiras globais], que vão no sentido da integração e renováveis. A Petrobras deveria estar investindo mais em geração de energia da maré, eólicas, mas ela está na contramão da tendência do setor, comenta.
Sobre o debate em torno dos impostos sobre os combustíveis, Rosângela defende que é possível, para a Petrobras, abastecer o país com preços justos e sem repassar a volatilidade do mercado internacional para a população.
A geofísica afirma que assumirá o cargo em abril e levantará as suas bandeiras com base em assessorias técnicas, e não para fazer ideologia. O conselho não é um fórum sindical. É outro fórum, disse ela, que pretende recorrer, dentre outras assessorias, ao Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás e Biocombustíveis Zé Eduardo Dutra (Ineep) e ao Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
Acredito que temos que ocupar esse espaço [conselho]. Não podemos mudar drasticamente os rumos da companhia, mas vamos levar ao conselho uma outra visão sobre a empresa. Uma visão não só política, mas tecnicamente embasada também, para que possamos mudar posicionamentos pontuais e fazer com que o conselho reflita sobre a real missão da empresa. Nosso papel é fazer um contraponto. Essa cadeira não pode ser ocupada por quem está alinhado com a administração, disse.
Ela afirmou que levantará, ainda, bandeiras como o fortalecimento das políticas de segurança e saúde do trabalho e o combate ao assédio sexual na empresa.
Rosângela é formada em engenharia geológica pela Universidade Federal de Ouro Preto, mestre em sensoriamento remoto pelo Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE) e ocupou cargos administrativos, de engenharia e geologia na Petrobras. Ela é diretoria do Sindipetro do Norte Fluminense e foi eleita em primeiro turno, com 5,3 mil votos (53% do total).
Com ela, a FUP volta a vencer uma eleição para o conselho da Petrobras depois de duas derrotas seguidas – o atual conselheiro, Danilo da Silva, é ligado à federação, mas só assumiu o cargo após a renúncia de Christian Queipo, ligado a Federação Nacional dos Petroleiros. Essa vitória dá um recado claro de que os trabalhadores são contra os destinos que a gestão da Petrobras vem tomando para a companhia e que querem respeito ao acordo coletivo, disse.
A greve completou onze dias e conta com a adesão de trabalhadores de 102 unidades da Petrobras. Os funcionários protestam contra a demissão de mil empregados, incluindo terceirizados, da fábrica de fertilizantes de Araucária (PR), que será desativada.

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