Nova presidente da Petrobras terá desafio de mostrar autonomia em relação ao Planalto e tirar empresa de uma crise que dura 6 anos

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Magda Chambriard será a sexta pessoa a presidir a empresa em seis anos, e a instabilidade tem sempre a mesma origem: o intervencionismo

O Globo Online

Por Míriam Leitão

A nova presidente da Petrobras, Magda Chambriard, vai ter um grande desafio que é combater a imagem de um empresa permanentemente em crise, governo após governo. Magda será a sexta presidente em seis anos: foram quatro presidentes no governo Jair Bolsonaro e agora ela é a segunda na gestão Lula. Todos caíram da mesma forma: demitidos pelo presidente da República. No caso de Prates, a demissão veio após intrigas e brigas internas do governo, sem, no entanto, que tenha ficado claro qual de fato era o problema.

Houve uma briga pública entre Jean Paul Prates e o ministro Alexandre Silveira sobre a distribuição de dividendos que acabou sendo vencida pelo agora ex-presidente da Petrobras. O ministro não queria a distribuição dos dividendos, conseguiu o voto dos conselheiros para esse desfecho, as ações caíram, e o governo, por fim, recuou e fez a distribuição conforme defendia Prates desde o começo. O que mostrou que houve um desgaste inútil. A ‘fritura’ de Prates, no entanto, não foi interrompida com o fim desse episódio.

É muito ruim quando sai um presidente de uma companhia grande e de capital aberto, no meio de uma crise. Não estou falando com isso que a gestão de Prates tenha sido brilhante. Mas o fato é que saída de Prates deixa indícios preocupantes de intenção crescente de intervenção na companhia. Um dos exemplos é a intenção de recriar um programa de incentivo à indústria naval, financiado pela Petrobras, projeto que já foi mal sucedido no passado, vale lembrar o fim da Sete Brasil.

Magda Chambriard é uma boa técnica, conhece o setor, foi funcionária de carreira da Petrobras, foi da Agência Nacional de Petróleo (ANP) desde o começo e chegou a diretora-geral da ANP . Ela é do ramo.

A queda de Prates aconteceu de maneira muito parecida com as que ocorrera no governo passado. O presidente da República ‘implicava’ com o presidente da Petrobras, em geral numa queda de braço para que não fossem feitos aumentos no preço da gasolina e acabava por demiti-lo. Agora a pressão é para que a Petrobras invista em áreas que não são de interesse da companhia. O governo vai ter que se explicar melhor a mudança e combater esse risco de reputação da empresa pelo, ao que tudo indica, uma conduta mais intervencionista na condução da Petrobras.

O que houve na queda de Prates foi briga interna no governo. O ministro Alexandre Silveira chegou a dizer que não abria mão da autoridade dele sobre a Petrobras, o que mostra que ele não entendeu a natureza de uma companhia de capital aberto. O governo é acionista e controlador da Petrobras, mas não é o dono absoluto, há acionistas privados, há regras de governança e estatuto a serem respeitados.

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