Petroleiras voltam ao lucro e Petrobras se destaca entre gigantes

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Valor Econômico

Alavancadas pela valorização dos preços do petróleo, as grandes petroleiras internacionais fecharam o segundo trimestre de 2021 com balanços financeiros em franca recuperação. Levantamento do Valor Data mostra que as chamadas “Big Oil” (ExxonMobil, BP, Shell, Chevron, Total e Eni) apresentaram evoluções expressivas nos seus indicadores financeiros, mas que nenhuma delas lucrou mais que a Petrobras – que, próxima da meta de redução de dívida, desponta como uma das melhores pagadoras de dividendos no setor.

Somados os resultados de todas as estrangeiras e os dados da Petrobras, o lucro acumulado pelas sete companhias no segundo trimestre foi de US$ 29,1 bilhões, revertendo prejuízo conjunto de US$ 26,6 bilhões. Só a estatal brasileira reportou, em dólares, ganho de US$ 8,1 bilhões no período.

Essa recuperação dos lucros tem um motivo simples: a valorização do petróleo. A média do barril do tipo Brent mais que dobrou ante o segundo trimestre de 2020, auge da contração da demanda mundial na pandemia. Entre abril e junho deste ano, o barril foi negociado em média a US$ 68,80, alta de 135% ante os US$ 29,20 apurados em igual período do ano passado.

Lucro da Petrobras no segundo trimestre foi maior que o das chamadas “Big Oil”, as gigantes do setor

O cenário de preços maiores se refletiu diretamente no faturamento. Juntas, as sete companhias analisadas registraram receitas da US$ 281,3 bilhões, o dobro do resultado do segundo trimestre de 2020, mesmo tendo a maioria das petroleiras registrado quedas na produção no período.

Por incorporar muitas vezes efeitos meramente contábeis, não recorrentes, o lucro nem sempre reproduz com exatidão a saúde financeira de uma companhia, nem a sua rentabilidade para investidores. As petroleiras, no entanto, conseguiram demonstrar, no segundo trimestre, outros indicadores sólidos. Os lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) e fluxos de caixa livre em expansão têm permitido às empresas buscarem formas de aumentar a remuneração aos acionistas, num momento em que investidores estão cada vez mais avessos aos combustíveis fósseis.

Algumas companhias aproveitaram o recuperação de seus balanços para anunciar programas de recompra de ações, como a BP (no valor de US$ 1,4 bilhão), Chevron (US$ 2 bilhões a US$ 3 bilhões ao ano) e Shell (US$ 2 bilhões), além dos dividendos.

A Petrobras vai na mesma direção e desponta como uma grande pagadora, fruto de um processo de saneamento da companhia comandado pelo ex-presidente da estatal Roberto Castello Branco. Ao anunciar, na semana passada, que antecipará US$ 6 bilhões aos acionistas, relativos ao exercício de 2021 — quase o triplo da média dos valores distribuídos nos últimos três anos, de US$ 2,2 bilhões – a brasileira passa entregar rendimento de dividendos (“dividend yield”) de 9% em 2021, segundo o UBS. Isso a coloca no primeiro quartil entre 21 petroleiras acompanhadas pelo banco, nesse quesito, com indicador menor que Gazprom (13%) e Lukoil (12%).

O UBS prevê que a Petrobras distribuirá mais US$ 15 bilhões no ano que vem e que, em 2022 e 2023, o rendimento de dividendo da companhia pode chegar a 14%, o maior do setor. O otimismo com o “dividend yield” da Petrobras é compartilhado pelo Safra, que também vê o indicador da estatal atingir os dois dígitos em 2022.

O “dividend yield” é uma razão entre os dividendos pagos por uma companhia em determinado período e o preço individual da ação. O indicador mede a performance da empresa de acordo com os proventos distribuídos. O bom posicionamento da Petrobras, entre os pares internacionais, nesse caso, se dá não só pelas expectativas de mais dividendos, mas pelo fato de suas ações serem menos valorizadas que as gigantes do setor.

A crença de que a Petrobras pagará mais dividendos está ancorada, em parte, nos desinvestimentos. Com uma carteira de ativos mais enxuta, a petroleira consome hoje menos caixa com investimentos e despesas operacionais em ativos de menor rentabilidade.

A venda de ativos bancou o trabalho intenso de desalavancagem da companhia nos últimos anos, depois que a empresa entrou em crise financeira em 2014, em meio à queda dos preços do petróleo e dos desdobramentos da Lava-Jato.

Ainda no governo Dilma Rousseff, a gestão Aldemir Bendine lançou as bases da estratégia de redução da dívida por meio de um programa robusto de venda de ativos. Esse direcionamento ganhou tração nas administrações de Pedro Parente e Ivan Monteiro, no governo Michel Temer, e foi acelerado por Castello Branco, já no mandato de Jair Bolsonaro. Junto com a venda de ativos, a forte geração de caixa nos últimos anos permitiu cortar o endividamento e, agora, na gestão Joaquim Silva e Luna, começar a pagar mais aos acionistas, com base na política de dividendos criada por seu antecessor.

A estatal fechou o segundo trimestre com dívida bruta de US$ 63,7 bilhões, próxima da meta de US$ 60 bilhões, inicialmente definida para 2022, mas cujo cumprimento será antecipado para este ano. A meta funciona como gatilho para a nova fórmula de remuneração aos acionistas, que prevê a distribuição de 60% da diferença entre o fluxo de caixa operacional e investimentos.

Embora os números da Petrobras ainda sejam altos, é inegável que a brasileira avançou na gestão da dívida. Desde 2014, quando a companhia tinha um dos maiores endividamentos corporativos do mundo, a Petrobras cortou praticamente à metade a sua dívida líquida, para R$ 54,3 bilhões.

Já a alavancagem, medida pela relação entre a dívida líquida e o Ebitda, caiu para 1,49 vez, o patamar mais baixo em dez anos. O nível está, hoje, dentro daquilo que a empresa tanto almejou, quando, em 2015, iniciou o processo de reestruturação financeira. Na ocasião, a relação dívida líquida/Ebitda era superior a 5 vezes.

Junto com os altos retornos, porém, a tese de investimentos na Petrobras vem acompanhada de riscos também elevados. Essa é a análise do Credit Suisse, que, em relatório recente, destacou que a estatal, próxima de atingir a meta de redução da dívida bruta para US$ 60 bilhões, pode distribuir todo o caixa livre que gerar nos próximos trimestres. Isso significa que a petroleira pode ter mais US$ 4 bilhões a pagar em 2021.

No entanto, segundo o Credit, há “riscos significativos no horizonte”, embora eles sejam superados por uma combinação de um “valuation” (valoração da ação) muito descontado e o alto retorno de dividendos. O banco suíço cita as eleições de 2022, uma potencial intervenção do governo na política de preços, além dos riscos associados a um aumento dos investimentos – elemento que concorre diretamente com os dividendos, dentro da estratégia de alocação de capital. Para o Credit, pode ser difícil para a gestão da petroleira resistir à pressão para aumentar os gastos de capital, principalmente num momento em que a estatal registra geração de caixa livre elevada e dívida em queda.

Na avaliação do banco, o aumento dos investimentos não é necessariamente ruim, mas o risco é de que capital adicional possa ser alocado para projetos com retornos menores. O Credit prevê investimento mais alto no próximo plano de negócios da Petrobras, de US$ 2 bilhões em 2022 e de US$ 4 bilhões a partir de 2023, em relação ao planejamento anterior.

Na semana passada, ao comentar os resultados do segundo trimestre, o diretor financeiro da Petrobras, Rodrigo Araújo, disse que estatal pode aumentar o volume de investimentos em seu próximo plano de negócios (2022-2026), embora não seja esperado um crescimento “substancial” nesse sentido. O plano de negócios vigente prevê investimentos de US$ 55 bilhões entre 2021 e 2025, dos quais 84% direcionados a projetos de exploração e produção de petróleo e gás, com foco, ainda que não exclusivo, no pré-sal.

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