Raízen eleva “mix” para açúcar e protege quase 50% das vendas 20/21 de etanol

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Fonte: Reuters

Tradicionalmente uma empresa mais açucareira que a média do mercado, a gigante do setor de açúcar e etanol Raízen prevê elevar para 55% a destinação de cana para a produção do adoçante em 2020, em um momento em que a desvalorização da moeda no Brasil favorece negócios com o produto na safra atual e futuras, frente a concorrentes como Índia, Tailândia e Austrália.
A afirmação é do presidente-executivo da Raízen, Ricardo Mussa, que está completando um mês no posto, numa situação jamais imaginada devido às consequências do coronavírus. A pandemia tem provocado maiores perdas no etanol, por queda na demanda e preços menores.
Se no açúcar a expectativa da companhia é de que o consumo global venha a ser pouco afetado, uma vez que é um produto da indústria de alimentos com demanda mais “inelástica”, no etanol o mercado interno registra uma queda de até 50% nas vendas, por conta das medidas de isolamento.
Mas a empresa espera minimizar os prejuízos graças a operações de hedge realizadas antes do surto da Covid-19 e com sua capacidade de estocagem, o que lhe permitirá escoar o etanol quando o consumo estiver melhorando.
“A gente já vinha fazendo um trabalho de gestão de risco muito bom, fizemos uma fixação de preços muito boa, 85% da safra de açúcar já fixada, mas fizemos (também) algo que ninguém fez, foi fixar o etanol… fizemos fixação do produto equivalente, que é a gasolina”, disse Mussa, em entrevista à Reuters por meio de videoconferência nesta quinta-feira.
“Quase 50% da safra de etanol já está fixada, e o impacto em termos do preço este ano é menor que a média de mercado”, acrescentou ele.
A indústria sucroenergética tradicionalmente faz vendas antecipadas de açúcar, uma commodity negociada em bolsa. Mas no caso do etanol tais operações são mais raras, devido à escassez de mecanismos.
O hedge agora é possível, contudo, porque a Petrobras, dona de praticamente todo o parque de refino do Brasil, tem seguido nos últimos anos o mercado internacional para realizar reajustes da gasolina, o concorrente do etanol hidratado.
CENÁRIO DO AÇÚCAR
Mussa, que atua no grupo Cosan —uma das donas da Raízen, juntamente com a Shell—, desde 2007, ressaltou que apesar dos desafios a empresa está preparada para uma grande safra de cana no centro-sul do Brasil, que tem mostrado “boas produtividades” em seu início.
O novo presidente da Raízen, que na conjuntura do coronavírus tem se comunicado com os funcionários principalmente por uma ferramenta de vídeo —sendo que um deles foi assistido por mais de 6 mil pessoas— contou que a empresa colocou em atividade, na terça-feira passada, a última usina planejada para operar na temporada 2020/21.
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A companhia, maior produtora global de açúcar e etanol de cana, vai operar com 23 das suas 26 usinas no atual ciclo, iniciado em abril —três unidades estão hibernadas para maximizar as operações das demais.
E, dessa forma, em uma safra até o momento beneficiada por condições climáticas normais, a empresa prevê moer até 63 milhões de toneladas de cana, ante 59,6 milhões no ciclo anterior —o total a ser processado pela Raízen gira em torno de 10% da safra do nacional.
“A previsão de moagem da Raízen continua no mesmo patamar, o que poderia interferir seria algum problema de coronavírus, mas estamos nos preparando…”, disse ele, pontuando que até o momento a empresa não registrou casos da doença em sua unidade de açúcar e etanol.
Aproveitando bons momentos anteriores no mercado de açúcar e de câmbio para fixar vendas ante os contratos futuros do açúcar, a empresa está confortável para elevar o mix de cana para açúcar de 49% em 2019/20 para 55% em 2020/21, um movimento que deverá ser registrado no mercado em geral, mas que beneficia especialmente a Raízen, que tem tradição de ser mais açucareira.
Na safra passada, na média do centro-sul, mais de 60% da cana foi destinada ao etanol.
“Este ano todo mundo está indo pra produzir mais açúcar, já viramos nosso sistema todo para maximizar a produção de açúcar”, afirmou ele, ressaltando que o consumo global do adoçante sofrerá bem menos que o de etanol.
O executivo explicou que o fato de a moeda brasileira ter se desvalorizado frente ao dólar cerca de quatro vezes mais do que a de outros países concorrentes na produção, como Índia e Tailândia, também deve favorecer o açúcar do Brasil em safras futuras. Nos quatro primeiros meses do ano, o dólar disparou 35,51% ante o real.
“O preço em dólar inviabiliza a produção em outros países do mundo, Índia, Tailândia e Austrália, e viabiliza a produção no Brasil… os preços do açúcar daqui a dois anos estão muito bons para o Brasil, e muito ruins para Índia e Tailândia. Se os preços ficarem onde estão, vão reduzir a produção nos países concorrentes e aumentar no Brasil”, acrescentou ele, lembrando que, em termos de custos, o brasileiro já é mais competitivo.
“O cenário de longo prazo não é ruim, vai tornar a vida dos competidores muito ruim… O problema no Brasil é o curtíssimo prazo, é o etanol.”
No mercado interno, a Raízen, que também é uma das maiores distribuidoras de combustíveis do Brasil, ainda está vendo uma lenta recuperação do consumo, devido às medidas de isolamento para combater o coronavírus.
Ele disse que a queda na demanda de gasolina e etanol ainda está em torno de 45% a 50%. “A queda já foi maior do que isso, chegou até 70%… está se recuperando, mas é lento”, completou, lembrando que, no diesel, a redução no consumo foi menor em função da demanda dos caminhões e do agronegócio.
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Ele disse ainda que a empresa tem cortado custos, mas não investimentos, e prova disso é a inauguração de um grande terminal de combustíveis em São Luís (MA), na sexta-feira.
“Acreditamos que o futuro do negócio continua muito bom”, destacou, apostando que, após a crise, o mundo deverá se voltar ainda mais para energias renováveis.

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