Fonte: DCI
Apesar das incertezas acerca dos desdobramentos da saída dos EUA do acordo nuclear com o Irã, a perspectiva do mercado é que os preços do petróleo, que já vinham ganhando fôlego há algum tempo, superem o patamar médio de US$ 70 em 2018.
O analista de óleo e gás da Tendências Consultoria, Walter de Vitto, explica que apesar dos países da Europa permanecerem no pacto, outras nações como Japão e Coreia do Sul devem seguir as futuras sanções à Teerã. “É difícil estimar neste momento qual será o impacto para o petróleo iraniano, mas certamente a produção no país vai cair.”
O Irã é um grande produtor de petróleo e estimativas de mercado dão conta de que o país produz, atualmente, 3,8 milhões de barris de óleo equivalente por dia (boe/d). Há muitos anos, entretanto, vem sofrendo sanções econômicas, resultado da sua política de enriquecimento de urânio. Em meados de 2015, um acordo encabeçado pelo ex-presidente dos EUA, Barack Obama, retirou as sanções contra o Irã. Com isso, a produção iraniana mais do que dobrou rapidamente.
Para o sócio de energia e recursos naturais da KPMG, Manuel Fernandes, as sanções contra Teerã trarão impactos ao mercado do hidrocarboneto. “O Irã faz parte da Opep [Organização dos Países Exportadores de Petróleo], que responde por 40% da produção mundial. Sanções econômicas certamente trariam mudanças no cenário global”, pondera. Contudo, o executivo salienta que o cartel não vai deixar de agir para controlar as cotações. “A questão do market share é antiga e a Opep não vai querer mudar a sua política de controle dos preços”, comenta.
A Arábia Saudita sinalizou nesta semana que poderia aumentar seus volumes de produção para compensar uma possível lacuna deixada pelo vizinho Irã. Porém, um patamar de preço mais alto do barril seria interessante para Riad, na medida em que a petroleira estatal Saudi Aramco prevê uma oferta pública inicial de ações (IPO) até o final deste ano. “Um target de preço mais alto, próximo de US$ 80 por barril, traria a arrecadação que a Arábia Saudita gostaria”, alerta o analista da Tendências.
Em meio a esse jogo de interesses, os EUA continuam elevado as perfurações nos poços de xisto, se consolidando cada vez mais como um país exportador de petróleo, diferentemente de poucos anos atrás.
Além disso, cresce a tensão na região do Golfo Pérsico, com confrontos envolvendo principalmente Irã, Síria e Israel, o que reaviva as lembranças do mercado em torno do período conhecido como “choque do petróleo”, quando os preços do barril saltaram de forma significativa diante dos conflitos no Oriente Médio.
Com a demanda global aquecida, sobram motivos para o barril permanecer em patamares elevados. Ao longo dessa semana, o Brent bateu duas vezes a máxima registrada em 2014, alcançando os US$ 75. A Tendências revisou ontem (10) suas projeções para a cotação do petróleo. Para 2018, o preço do Brent deve atingir média de US$ 71, alta de 30,5% em relação ao ano passado. Para o ano que vem, a cotação média deve ser de US$ 68,6 o barril.
Impactos no Brasil
Para o sócio-diretor da Macrosector Consultoria, Fábio Silveira, a alta do petróleo é mais um componente que pode piorar o quadro fiscal brasileiro. “Os preços das commodities agrícolas já vinham impactando a economia. Com o aumento dos juros norte-americanos e a consequente desvalorização cambial, o comportamento da inflação do Brasil, hoje, está com os dias contados.”
Apesar de analistas estimarem um crescimento baixo da economia brasileira para 2018, a alta do petróleo deve impactar a inflação do País, já que ainda dependemos fortemente da importação de derivados. “Com a recente política da Petrobras de parear os preços com o mercado internacional, devemos ter uma pressão inflacionária por aqui”, assinala o sócio da KPMG.