Valor Econômico
O processo de venda da joint venture formada pela americana Bunge e pela petroleira britânica BP na área de açúcar e etanol deverá ser formalmente cancelado por falta de propostas firmes pelo negócio, apurou o Valor. Os ativos da BP Bunge Bioenergia atraíram o interesse do fundo Mubadala, de Abu Dhabi, e da Raízen, líder do segmento, mas os controladores avaliaram que as ofertas apresentadas “não foram satisfatórias”, de acordo com fontes próximas às negociações.
Pessoas familiarizadas com o assunto também afirmaram que a BP pretende manter conversas privadas com a Bunge, que tem 50% da operação, para assumir 100% da empresa. A petroleira britânica também cogita incorporar a joint venture em seu departamento de biocombustíveis.
Avaliada em cerca de R$ 9 bilhões pelo mercado, a BP Bunge Bioenergia tem capacidade para processar 33 milhões de toneladas de cana por safra. No ano passado, a Bunge contratou o JP Morgan para vender sua fatia de 50% do negócio. À época, a BP avaliou que também poderia vender sua parte, e as duas companhias anunciaram, juntas, a venda de todo o negócio.
O Mubadala chegou a fazer a melhor proposta financeira – mas ainda muito abaixo do que os controladores pediam. No fim do ano passado, o fundo de Abu Dhabi avançou nas tratativas para assumir o controle da Atvos, e o negócio com a Bunge BP acabou esfriando, segundo fontes.
Já a Raízen, joint venture entre Cosan e Shell, chegou a avaliar as usinas da Bunge BP, mas os controladores queriam receber em dinheiro. Fontes a par das tratativas afirmaram que a Raízen preferia fechar negócio com troca de ações e apenas uma parte em dinheiro. Nem todas as usinas da Bunge BP interessavam à Raízen, de acordo com fontes ouvidas pelo Valor. No entanto, os controladores não queriam vender o negócio de maneira fatiada.
Criada em 2019, a joint venture tem 11 usinas de açúcar e etanol. No ciclo encerrado em março de 2022, a receita operacional líquida da empresa totalizou R$ 7,2 bilhões, e o lucro líquido foi de cerca de R$ 1,7 bilhão. As unidades produtoras estão instaladas em Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São Paulo e Tocantins.
Essa não é a primeira vez que a Bunge tenta sair da área de açúcar e etanol. Antes de estabelecer a joint venture com a BP, a múlti americana, uma das maiores do mundo no setor de agronegócios, já tinha contratado bancos para se desfazer de seus ativos no segmento sucroalcooleiro.
A Bunge e a francesa Louis Dreyfus Company, outro grande grupo global do agro, fizeram pesados investimentos em açúcar e etanol no Brasil no passado, mas não obtiveram o retorno que esperavam.
No início de 2021, a Raízen fechou acordo para a compra da Biosev, subsidiária da Louis Dreyfus Company, em uma negociação que envolveu troca de ações e o pagamento de cerca de R$ 3,6 bilhões para refinanciamento da dívida da companhia.
Em uma venda de bloco de ações (operação conhecida como “block trade” no mercado), a Hédera, veículo da Dreyfus, pretende levantar hoje cerca de R$ 1,1 bilhão com a venda de 330 milhões de ações. Com os recursos, a LDC vai quitar dívidas com bancos. Os franceses são acionistas da Raízen desde que venderam a Biosev. A operação marca a saída da Dreyfus do negócio.
A venda da participação na Raízen é um reflexo da necessidade da LDC de honrar os pagamentos com os bancos por investimentos malsucedidos no passado. Uma fonte lembrou que os franceses perderem muito dinheiro no Brasil com o etanol desde que ingressaram no segmento, em 2009, com a compra da usina Santelisa Vale.
Procuradas pelo Valor, BP Bunge Bionergia, Bunge e BP não comentaram o assunto.