Tensão na Arábia pode beneficiar leilões do pré-sal

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Fonte: Valor Online

A escalada dos preços do petróleo no mercado internacional, depois dos ataques às refinarias sauditas no fim de semana, pode trazer ao menos dois efeitos sobre o mercado brasileiro no curto prazo, segundo analistas. Um deles é a tendência de que as cotações dos combustíveis subam nos próximos dias. O segundo envolve os leilões de áreas do pré-sal deste ano, que podem ganhar atratividade e despertar ainda mais a atenção das empresas asiáticas, interessadas em reduzir a dependência do Oriente Médio.
Numa perspectiva de médio e longo prazos, a percepção é que o Brasil se consolidará como um grande destino de investimentos. Os conflitos geopolíticos colocam, ainda, a política de preços e o programa de venda de refinarias da Petrobras em seu ?grande teste?.
O diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP), Décio Oddone, classificou o episódio dos ataques às refinarias na Arábia Saudita como o ?11 de setembro da indústria petrolífera?. Segundo ele, o evento geopolítico tende a aumentar a percepção de riscos sobre a produção do Oriente Médio e, de quebra, beneficiar os leilões do pré-sal: a 16ª rodada de concessões, a 6ª rodada de partilha e o megaleilão dos excedentes da cessão onerosa, marcadas para entre outubro e novembro.
?Depois dele [ataque às refinarias sauditas], a sensação de risco aumentará. Sem dúvida, aumenta o interesse pelo pré-sal e pelos nossos outros ativos?, afirma Oddone, que também crê na tendência de elevação dos custos dos árabes com a adoção de medidas preventivas em segurança de seus ativos.
O chefe de pesquisa na área de exploração e produção da Wood Mackenzie na América Latina, Marcelo de Assis, destaca que não há solução de curto prazo para que a perda de produção saudita se recupere imediatamente e que não há clareza, ainda, sobre a velocidade que o mercado levará para se ajustar. Ele acredita que, nesse meio tempo, as petroleiras globais devem ser beneficiadas por um fluxo de caixa extra, mas não o suficiente para trazer grandes mudanças na decisão de investimentos, sobretudo na rodada dos excedentes – que envolvem o pagamento de bônus de assinatura de R$ 106 bilhões. Por outro lado, o consultor aposta no aumento do interesse por parte das asiáticas..
?As chinesas, como a Sinopec e CNOOC, podem vir mais agressivas para buscar diversificar as suas reservas. Elas são muito dependentes do Oriente Médio. Entre as petroleiras privadas, não vejo grandes mudanças na estratégia. Elas são disciplinadas financeiramente e não vão abandonar isso?, disse.
O Valor apurou que, entre as asiáticas, a indiana ONGC também tem acompanhado de perto os detalhes do campo de Búzios, que será ofertado no leilão dos excedentes. Assis acredita que a rodada também deve despertar a atenção de empresas que já possuem áreas próximas aos ativos da cessão onerosa, como Shell, Total e Petrogal. Para o consultor, apesar de envolver grandes reservas, os excedentes possuem incertezas que demandam cautela. A principal delas é a falta de clareza sobre o valor e forma de pagamento da compensação financeira que as empresas vencedoras deverão à Petrobras.
Sócio para a área de petróleo e gás da KPMG, Anderson Dutra também acredita na presença asiática na licitação. ?Os chineses continuam olhando. É bem possível que eles entrem com fôlego total no leilão do excedente, como opção de diversificação de portfólio?, disse Dutra, que também não crê num impacto relevante do conflito geopolítico sobre a rodada.
O sócio do Tauil & Chequer Advogados Alexandre Calmon destaca que ainda não há evidências de que os preços internacionais estão mudando de patamar, a ponto de influenciar a decisão sobre investimentos. Ele também acredita que o Brasil pode ser impactado positivamente pelos conflitos. O advogado lembra que o mercado brasileiro tem conseguido captar investimentos bilionários, beneficiado em parte pela instabilidade em países da América Latina como Venezuela e México. Os ataques ao maior produtor de petróleo do mundo podem reforçar a atratividade do pré-sal do Brasil como um mercado com menores riscos associados. ?O Brasil está se consolidando como destino muito claro no portfólio de todos os grandes agentes?, disse.
A percepção é compartilhada por Giovani Loss, do Mattos Filho, para quem o episódio árabe coloca em xeque a capacidade dos sauditas de assegurarem a integridade de seus ativos, o que tende a reforçar a posição do Brasil como um destino seguro para investimentos. Loss não acredita que o reforço da geração de caixa das petroleiras no curto prazo vá mudar a decisão de investimentos, mas que ?pode levar empresas a repensarem suas propostas? nos leilões.
Ontem, as ações ordinárias da Petrobras subiram 4,52% na B3. A expectativa dos analistas é que o caixa da empresa se beneficie com a alta dos preços do petróleo – o Bradesco BBI calcula que, a cada aumento de US$ 10 do barril, o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) da estatal tende a avançar 15%. A Wood Mackenzie destaca, por outro lado, que as margens do refino devem ser pressionadas.
Para o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires, as tensões do Oriente Médio serão o ?grande teste? para a política de preços da estatal – que deixou de trabalhar com reajustes com periodicidade definida, mas mantém o compromisso com a referência ao mercado internacional. ?A principal barreira aos investimentos nas refinarias é o histórico recorrente de episódios de controle dos preços, no país. Teremos mais um teste para verificar o grau de autonomia da Petrobras. A velocidade e a intensidade como o reajuste se dará estarão sendo monitoradas pelos potenciais compradores das refinarias” avalia. (Colaborou Raquel Brandão, de São Paulo)

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