Valor Econômico
O desempenho da Ipiranga no segundo trimestre decepcionou e levou a Ultrapar a perder quase R$ 2,4 bilhões em valor de mercado ontem na B3, para cerca de R$ 17 bilhões. Após a divulgação do balanço, que trouxe uma das menores margens da história da distribuidora de combustíveis, e bem abaixo da concorrência, as ações ON da holding do grupo Ultra fecharam o dia com desvalorização de 12,3%, a R$ 15,21, o menor nível em mais de um ano.
Para a equipe de análise do BTG Pactual, a Ultrapar está sendo errática onde é mais importante. A Ipiranga reportou resultado antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) de R$ 421,8 milhões. Mas, excluindo R$ 97 milhões em créditos tributários e R$ 32 milhões da venda de ativos, o número cai a R$ 293 milhões, 44% abaixo do esperado e com margem de R$ 52 por metro cúbico – contra R$ 100 por metro cúbico BR Distribuidora.
Segundo o presidente da Ipiranga, Marcelo Araújo, a opção foi defender participação de mercado em detrimento das margens em um momento de maior competição e aumento de preços. A perspectiva é de recuperação, porém gradual porque o ambiente ainda é desafiador.
“Vemos uma trajetória clara de recuperação gradual, porque o patamar de preços elevado, em um momento de demanda ainda recuperação, impõe desafios”, disse, em teleconferência. A pressão sobre as margens, conforme o executivo, veio sobretudo da oscilação dos preços do etanol e da posição mais longa dos estoques da Ipiranga entre março e abril.
Em volume, as vendas de combustíveis estão retornando aos níveis pré-covid-19 e, para o segundo semestre, a Ipiranga trabalha com projeções para o mercado acima das estimativas da Empresa de Pesquisa Energética (EPE). “Com volumes mais firmes, o mercado vai se ajustar e vai distender margens”, disse Araújo, acrescentando que não há razão para alterar, neste momento, as projeções para o Ebitda da Ipiranga em 2021 – de R$ 2,1 bilhões a R$ 2,5 bilhões.
“A Ipiranga teve bom volume, mas enfrentou muita pressão competitiva e acabou apresentando margens aquém do esperado. Aí está o ponto principal de atenção”, reconheceu o presidente do grupo, Frederico Curado.
Os executivos destacaram que a distribuidora está seguindo uma agenda de transformação, que trará ganhos de R$ 200 milhões no próximo ano e mais R$ 400 milhões no médio prazo, entre outras mudanças. Contudo, a Ipiranga tem sido o ponto fraco do grupo já há alguns trimestres e investidores e analistas questionam a demora para a “virada” na rentabilidade da rede.
Segundo o diretor financeiro e de relações com investidores da Ultrapar, Rodrigo Pizzinatto, o Ebitda da Ultragaz, distribuidora de GLP, deve mostrar “evolução importante” no terceiro trimestre, na comparação com o segundo trimestre, mas ficará abaixo do desempenho visto um ano antes. “A perspectiva é de volume sazonalmente mais forte e custos de GLP mais estáveis”, afirmou. De abril a junho, o Ebitda da Ultragaz alcançou R$ 137 milhões, com queda de 34% na comparação anual, pressionado por aumentos de preço do GLP e maiores despesas com pessoal e frete.
Na Ultracargo, o Ebitda de R$ 100 milhões no segundo trimestre foi recorde. Para o intervalo em curso, a expectativa é de continuidade do bom desempenho operacional, com patamar de resultado similar ao visto nos três meses anteriores.
Conforme Pizzinatto, o resultado operacional da Oxiteno também foi recorde, com R$ 274 milhões no trimestre, explicado pelo maior volume de vendas e melhores margens. Para o terceiro trimestre, a expectativa é de continuidade, com crescimento em volume “mais normalizado” e Ebitda no mesmo nível do segundo trimestre, mantido o câmbio atual.
Na Extrafarma, acrescentou, a baixa contábil de R$ 395 milhões decorreu da diferença do valor de venda da rede para a Pague Menos, que aguarda aval do Conselho Administrativo de Defesa Econômico (Cade), e do valor de livro. A expectativa para o terceiro trimestre é de resultados similares aos do segundo trimestre.
Questionado sobre as negociações com a Petrobras para compra da Refinaria Alberto Pasqualini (Refap), Frederico Curado disse que o prazo final para as tratativas exclusivas é outubro. “As negociações estão em curso”, afirmou, sem fornecer detalhes. Ainda sobre o processo de gestão de ativos do grupo, o executivo reiterou que a ambição é avançar para outros segmentos de óleo e gás, entre os quais gás natural, GNL e distribuidoras estaduais, olhando o mercado também sob a ótica da transição energética. O grupo pretende ainda concluir as negociações para venda da Oxiteno à Indorama, que já estão na etapa de conversas exclusivas, “proximamente”.