Nova Cana
Por Nicolle Monteiro de Castro*
O consumo brasileiro de etanol hidratado em julho cresceu 13,1% na comparação com o mês anterior, para 1,51 bilhão de litros. Este é o maior volume desde fevereiro, quando o país consumiu 1,77 bilhão de litros, antes da imposição de restrições devido à pandemia do coronavírus.
Segundo dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANP), as vendas de julho mostraram um aumento substancial em relação ao mês anterior para o hidratado, já que desde maio as vendas mensais aumentaram 5% e 5,3%.
Mas, mesmo com o aumento da demanda pelo biocombustível, a participação do hidratado no mercado do Ciclo Otto foi de 26,2%. O valor está ligeiramente acima dos 25,6% vistos em junho, mas abaixo dos 28,8% registrados em julho de 2019.
Considerando também o etanol anidro, a participação total do renovável de cana no Ciclo Otto ficou em 46,1%, queda de 1,90 ponto percentual no ano.
Nos sete primeiros meses de 2020, o consumo de etanol hidratado atingiu 10,47 bilhões de litros, uma redução de 17% em relação ao mesmo período de 2019. Já as vendas acumuladas de etanol anidro ficaram em 5,25 bilhões de litros, queda de 10,5% no ano.
O descompasso entre as quedas do hidratado e do anidro reflete o comportamento do consumo de combustíveis durante os meses de isolamento social. No período, os motoristas preferiram o consumo da gasolina, que tem uma mistura de 27% de anidro.
Participantes do mercado ouvidos pela Platts não conseguiram identificar o principal motivo da escolha dos consumidores, já que o preço do etanol hidratado está competitivo ante a gasolina na região Sudeste. O valor médio nas bombas está abaixo do patamar de 70% desde 30 de março.
Porém, ao passo que a demanda teve uma redução em 2020, a produção de etanol também foi menor em comparação com o ano anterior. Na atual safra, os produtores da região Centro-Sul vêm privilegiando a fabricação de açúcar.
De 1º de abril a 16 de agosto, a produção de etanol hidratado caiu 4,73%, para 11,85 bilhões de litros, enquanto a de anidro teve uma diminuição de 10,30%, para 4,95 bilhões de litros.
A maior queda na produção de anidro, aliada à menor redução nas vendas de gasolina, tem se traduzido em menores estoques de anidro em relação a 2019. O setor também tem registrado dificuldades para encontrar anidro no mercado interno.
Em 1º de setembro, a S&P Global Platts avaliou o etanol anidro nas usinas de Ribeirão Preto em R$ 2.140/m³ (ou US$ 396,38/m³), alta de 6,73% em relação ao ano anterior.
Segundo as fontes ouvidas, o salto anual de preços demonstra que, apesar das vendas acumuladas de anidro estarem mais baixas no acumulado anual, o corte de produção e a arbitragem desfavorável para importações têm apoiado os preços domésticos.
* Nicolle Monteiro de Castro é especialista sênior de preços da S&P Global Platts