Apesar de reajuste, gasolina está 30% abaixo do exterior

Bolsonaro põe pressão sobre Petrobras ao criticar reajuste
11/05/2020
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Fonte: O Glo

Com a disparada do câmbio e do barril do petróleo nas últimas semanas, a Petrobras aumentou os preços da gasolina em 12% na quinta-feira, o que irritou o presidente Jair Bolsonaro. Apesar do reajuste, especialistas estimam que a gasolina vendida nas refinarias da estatal está em torno de 30% abaixo das cotações internacionais.

De acordo com Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), é natural que a Petrobras não tenha repassado todo o aumento do petróleo e do dólar de uma só vez. Segundo ele, se isso fosse feito, o reajuste ficaria acima de 30%, o que geraria impacto na economia.

— O mercado de petróleo funciona olhando o futuro. Há a expectativa de abertura da economia nos Estados Unidos e na Europa. E um dos produtos cujo consumo deve aumentar são os combustíveis —destacou Pires. Em abril, o preço da gasolina registrou queda de 9,31% no Brasil, segundo o IBGE, o que provocou uma deflação de 0,31% no IPCA. Mas, segundo Pires, o movimento pode mudar a partir deste mês. Ele acredita que a cotação do petróleo vai continuar acima de US$ 30 o barril, forçando a estatal a anunciar novos reajustes na gasolina e no diesel.

O preço da gasolina está defasado no Brasil em relação ao praticado lá fora? Sim. Os preços da gasolina nas refinarias da Petrobras, apesar do último aumento de 12%,ainda estão em torno de 25% a 30% abaixo dos valores praticados no exterior. De acordo com especialistas, a Petrobras levou um tempo maior para reajustar seus preços, apesar da disparada do câmbio e da ligeira recuperação das cotações de petróleo, porque avaliou que seria difícil fazer um reajuste elevado de 30% de uma só vez em um cenário de crise econômica e forte queda no consumo por conta da quarentena. A expectativa é que na próxima semana a Petrobras faça novos reajustes, tanto para a gasolina, quanto para o diesel, se o barril do petróleo continuar na faixa dos US$ 30.

> Quanto o preço da gasolina já caiu no ano e por que a Petrobras decidiu reajustar o combustível nesta semana? Neste ano, o preço da gasolina acumula redução de 46,6% nas refinarias. O litro da gasolina custa, em média, R$ 1,02 nas refinarias, o menor valor desde setembro de 2005. Na última quinta-feira, a estatal reajustou a gasolina em 12% nas refinarias devido ao aumento do preço do petróleo no mercado internacional. Segundo a Bloomberg, o barril do tipo Brent, referência internacional, passou de US$ 19,33, em 21 de abril, para quase US$ 31 em 5 de maio, forçando a estatal a reajustar seus preços. A alta do dólar frente ao real é outro motivo. Desde o último reajuste da gasolina nas refinarias, em fevereiro, a moeda pulou de R$ 4,39 para R$ 5,70.

> Por que o preço do petróleo teve quedas bruscas neste ano, e o que explica a recente alta? Desde o início do ano, o preço do petróleo caiu cerca de 50%. Primeiro, a falta de acordo entre os integrantes da Opep, que reúne os maiores produtores do mundo, e a Rússia, derrubou os preços, com um excesso de oferta devido à queda na demanda. Depois, quando a Organização Mundial da Saúde (OMS), declarou pandemia do coronavírus, o petróleo despencou ainda mais. Na mínima do ano, em 21 de abril, a cotação do Brent chegou a US$ 19,33. Nesta última semana, o preço do petróleo se recuperou, superando os US$ 30, devido às expectativas positivas da retomada da economia com a abertura gradual na Europa e nos Estados Unidos.

> Por que a queda de preço nas refinarias não chega na mesma intensidade às bombas? Uma das explicações é que os estoques, tanto das distribuidoras quanto dos postos, estão elevados por causa da queda no consumo. Além disso, a parcela da Petrobras na composição do preço final na gasolina é de apenas 18% — que se somam a impostos federais de 18% (Cide, PIS/Cofins) e estaduais (ICMS, de 33%, em média), além de 11% do custo do etanol anidro que é adicionado à gasolina e de 20% de margem da distribuição e da revenda do produto.
> Recentemente, o petróleo chegou a ser negociado a valores negativos. Por quê? O preço do petróleo tem duas referências internacionais. No dia 20 de março, o barril tipo WTI (West Texas Intermediate), usado nos Estados Unidos, fechou valendo US$ 37,63 negativos. Isso aconteceu porque a economia americana reduziu drasticamente seu ritmo, afetando o consumo de petróleo. Com isso, as empresas de energia estavam com seus estoques cheios. Como os contratos de WTI exigem entrega física, quem estava com essa obrigação fez de tudo para se livrar do “problema”, o que derrubou os preços.
> Como a queda de preço dos combustíveis afeta o caixa da Petrobras? A redução afeta em cheio a companhia, porque essa é uma de suas principais fontes de receita (cerca de 60%). Assim, quanto menor o preço do produto vendido, menor será sua receita.
> Por que a queda do diesel é menor que a da gasolina? Porque são produtos diferentes, com custos diferentes. No caso do diesel, são levados em conta não apenas os preços do petróleo no mercado internacional, mas os preços do próprio diesel, que variam sazonalmente. No verão do Hemisfério Norte, por exemplo, seus preços costumam aumentar por conta do maior uso do produto nos automóveis nos EUA. Atualmente a defasagem do diesel nas refinarias em relação ao mercado internacional é da ordem de 12%.

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