Após venda de ações da Petrobras, nova BR pretende investir em energia renovável e gás

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O Globo

A decisão da Petrobras de se desfazer da fatia remanescente de 37,5% do capital da BR Distribuidora e sair de vez do segmento de postos deve ter forte impacto no mercado de distribuição de combustível no país.
Além da previsão de aumento da concorrência, a medida deve acelerar os planos de diversificação de investimento da BR em atividades como energia renovável, comercialização e distribuição de gás.
A empresa também avalia entrar no segmento de refino, mas o tema ainda é motivo de discussões internas.
Segundo fontes, uma das metas da gestão de Wilson Ferreira Júnior, que assumiu a empresa em março após deixar o comando da Eletrobras, é justamente ampliar o leque de atuação da companhia.
A estimativa da Petrobras é levantar R$ 11,5 bilhões com a venda de 436,9 milhões de ações. O preço final só será definido de acordo com a demanda no dia 30 de junho. Ontem, as ações da BR fecharam em alta de 0,44%. Os papéis com voto da Petrobras subiram 0,28%.

Capital pulverizado
A venda das ações deve começar no dia 2 de julho e ser concluída até o dia 5 do mesmo mês.
Nos postos, a bandeira BR será mantida. O contrato de licenciamento da marca é independente do negócio.
Hoje, a BR tem pouco mais de 8 mil postos. Um dos caminhos para aumentar a rede é avançar sobre os 19.450 postos de bandeira branca no país. A ideia é atrair 47% deles.
A decisão de sair da BR está em linha com a estratégia de desinvestimento da Petrobras para reduzir o endividamento e se concentrar nos negócios principais, especialmente no pré-sal.
A operação já era esperada para este ano, mas o cronograma sofreu algum atraso com a troca no comando da estatal. Até agora, Joaquim Silva e Luna tem dado sinais de continuidade na política de venda de ativos.
A Petrobras fez a primeira venda de ações da BR em Bolsa em 2018, quando levantou R$ 5 bilhões ao alienar 28,75% do capital. Em 2019, se desfez de uma fatia de 33,75% das ações por pouco mais de R$ 9 bilhões.
Com a nova operação, a BR consolida sua estratégia de atuar como corporação, sem controlador definido. Além da Petrobras, alguns dos principais acionistas hoje são, segundo fontes, Itaú Dunamis, Bogari, Moat, Kapitalo, BlackRock, Vanguard, Norges Bank, Opportunity e Verde Asset, entre outros.
Segundo fontes, um dos interessados no papel seria o banqueiro Ronaldo Cezar Coelho, acionista da Light. Ele foi procurado, mas não ligou de volta.
De acordo com o prospecto da operação, 10% dos 37,5% à venda serão destinados ao varejo. O restante pode ser vendido a grandes investidores, mas a Petrobras se comprometeu a não vender ações em bloco a um único investidor. E parte dos acionistas atuais deve aumentar sua fatia na empresa.
Segundo um executivo a par das discussões, a saída da Petrobras deve atrair recursos de fundos de investimento que não aplicavam na empresa devido ao risco de interferência política.

Oportunidade de investir
A BR é líder em participação, com 24,2% da venda de gasolina e 27,6% da de diesel.
A distribuição de combustíveis movimenta 2,9 milhões de barris por dia e responde por 3,1% do consumo mundial de combustíveis líquidos, mais do que Canadá e México.
Para a BR, a perspectiva de capital 100% privado abre oportunidades de investimento. No ano passado, ela cogitou, segundo fontes, investir na Gaspetro, holding comandada pela Petrobras e pela japonesa Mitsui, que é dona de 19 concessionárias de gás natural no Brasil.
A Gaspetro está à venda. A proposta não foi adiante por aspectos regulatórios, já que a Petrobras é acionista da BR.
Em setembro último, a BR anunciou parceria com a Golar Power para ampliar a oferta por meio de GNL (gás liquefeito). Há expectativa de investimento em ativos com foco em importação, regaseificação e transporte de GNL em locais de baixa concorrência.
Outro foco de atenção é a comercialização, com a compra de empresas que vendem energia no mercado livre.
No início do ano, a BR concluiu a compra da Targus, comercializadora de energia. O objetivo é se voltar para “energias do futuro”, menos poluentes.

Ainda assim, a empresa ainda estuda o setor de refino, mesmo com a possibilidade de ser visto como um investimento em “energia do passado”.
A Petrobras colocou à venda oito unidades que somam metade da capacidade de produção no país.
A estatal já vendeu a Rlam, refinaria na Bahia, para o fundo árabe Mubadala por US$ 1,65 bilhão.
Estão à venda unidades no Paraná, Rio Grande do Sul, Amazonas, Pernambuco, Minas Gerais e Ceará. Neste caso, a BR também pondera se pode haver barreira de órgãos de defesa da concorrência, já que ela tem liderança na distribuição de combustíveis.
Segundo Paulo Miranda, presidente da Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e de Lubrificantes (Fecombustíveis), a saída da Petrobras do setor de distribuição e varejo vai permitir maior concorrência:
— O mercado brasileiro é muito atrativo e com grande potencial de crescimento. A saída da Petrobras na BR pode atrair mais empresas e fundos de investimentos.

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