Gasolina, alimento e carro levam IPCA à deflação em junho

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Valor Econômico

Com cortes nos preços da Petrobras, o programa do governo para descontos em carros novos e um alívio mais sustentado em alimentação, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou em junho a primeira deflação desde setembro de 2022, levando a taxa acumulada em 12 meses para o que, provavelmente, será a mínima do ano e, agora, dentro da meta de inflação. A deflação de junho, no entanto, é entendida como circunstancial pelos economistas, ao mesmo tempo em que os serviços e, principalmente, aqueles mais ligados ao ciclo econômico voltaram a acelerar e devem ser a principal dor de cabeça para o Banco Central começar a cortar os juros em agosto.
A inflação oficial do país caiu 0,08% em junho, após alta de 0,23% em maio, divulgou ontem o IBGE. A taxa ficou um pouco acima da mediana das projeções do Valor Data, de queda de 0,10%, mas foi a menor variação para um mês de junho desde 2017.
Em 12 meses, o IPCA acumulado foi de 3,9% em maio para 3,2% em junho. O resultado é o menor para um período equivalente desde setembro de 2020 (3,1%) e ficou abaixo do centro da meta inflacionária de 3,25% para 2023. A partir de julho, no entanto, esse acumulado deve voltar a acelerar, antecipam economistas.
A queda do IPCA em junho deste ano foi influenciada, sobretudo, pelas retrações nos grupos de alimentação e bebidas (-0,7%) e transportes (-0,4%), que, juntos, contribuíram com alívio de 0,2 ponto percentual no indicador.
Individualmente, o maior impacto baixista, com influência de quase 0,1 ponto percentual, foi o da queda de 2,8% nos preços dos automóveis novos – que integram o grupo de transportes -, refletindo o pacote de incentivo do governo. Além do automóvel novo, como efeito colateral da medida, houve queda também no preço de automóvel usado, de 0,93%. Segundo o IBGE, excluindo esses dois itens, o IPCA teria registrado alta de 0,03% em junho e, caso tivesse havido manutenção dos seus preços, o índice ainda subiria 0,01%.
Apesar disso, alguns economistas esperavam uma queda maior em automóveis. Andréa Angelo, economista-chefe para inflação da Warren Rena, observa que, se antes a estimativa era de queda acumulada de 6% em junho e julho, agora a previsão é de uma contração nos preços de pouco menos de 4%.
Os preços de combustíveis, que também entram em transportes, tiveram queda de 1,85%, com recuo de 1,1% na gasolina.
Já o grupo alimentação e bebidas foi puxado pela alimentação no domicílio, cujo preço caiu 1,1%.
“Alimentação no domicílio teve contribuição negativa de 17 pontos-base [0,17 ponto percentual] no valor total [do IPCA]. Disso, 0,12 pontos-base [0,12 ponto] é de itens não relacionados a hortifruti. Isso é muito importante porque temos a sazonalidade mais benigna de hortifruti nesse momento, mas não seria só isso”, observa Mirella Hirakawa, economista sênior da AZ Quest. “Temos uma perenidade maior desse movimento benigno em alimentação.”
Há perenidade maior do movimento em alimentação”
— Mirella Hirakawa
O IBGE também identificou efeito da queda do dólar na inflação, seja em alimentos ou em eletrodomésticos e eletrônicos.
Apesar da deflação no IPCA cheio, a inflação de serviços voltou a acelerar, de -0,06% em maio para 0,62% em junho, influenciada por itens ligados ao turismo, às vésperas das férias escolares. Passagens aéreas, por exemplo, subiram quase 11%; houve altas em pacotes turísticos (1%), hospedagem (0,45%) e aluguel de veículo (0,9%). “A inflação de 0,62% não é representativa do nível da demanda agregada”, defende Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital.
A alta em serviços, por causa do movimento sazonal, já era esperada, mas, ainda assim, a inflação ficou acima do que alguns projetavam. A “leitura qualitativa” do indicador foi “mais complexa”, afirmam Marco Caruso e Igor Cadilhac, economistas do PicPay.
Mais do que isso, analistas destacam que os serviços subjacentes – mais ligados ao ciclo econômico e que excluem, exatamente, grupos de turismo, por exemplo – aceleraram com força, de 0,38% em maio para 0,67% em junho, de acordo com a MCM Consultores.
“Isso mostra que a inflação de serviços segue pressionada. O mercado de trabalho aquecido é um fator que contribui para essa pressão”, diz Moreno, do C6.
Em 12 meses, os serviços subjacentes desaceleraram de 7,1% em maio para 6,7% em junho, segundo a MCM. Na média móvel de três meses dessazonalizada – uma forma de suavizar movimentos mensais, mas ainda captar a tendência “na ponta” de modo mais dinâmico do que a variação em 12 meses -, porém, eles subiram, para 7%, aponta a Warren Rena.
A difusão de serviços – porcentagem de itens em alta na cesta – “ficou lateral, permanecendo em patamar elevado”, afirma Angelo. “Além disso, a nossa métrica de serviços inerciais acelerou”, observa, para 0,67%.
A média dos principais núcleos seguidos pelo Banco Central – medidas para suavizar o efeito de itens mais voláteis – desacelerou bem entre maio e junho (de 0,4% para 0,2%), mas, em 12 meses, ainda roda no patamar de 6%, considerado elevado pelo C6 e que indica inflação estrutural resiliente, caindo em ritmo lento.
“Na nossa visão, a resiliência da inflação de serviços, a pressão nos núcleos e a expectativa de inflação ainda acima da meta são desafios à convergência da inflação”, afirma Moreno, que ainda espera um IPCA de 5,8% neste ano, bem acima da expectativa mediana do Focus, de pouco menos de 5%.
Mesmo com a avaliação de que a abertura qualitativa em serviços “foi um pouco pior do que o esperado”, Angelo, da Warren Rena, diz entender que ainda não há motivo para alterar sua avaliação de desaceleração dos núcleos e serviços para cerca de 5% até o fim do ano. “Porém, reconhecemos que a velocidade de arrefecimento está aquém da projetada”, afirma.

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