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Fonte: O Globo

Com o avanço da produção de petróleo no pré-sal e a perspectiva de se tornar o quinto maior produtor mundial no fim da próxima década, o Brasil tem um grande potencial para se transformar em um novo polo de desenvolvimento de tecnologia nesse setor. O foco agora deve ser o estímulo à criação de projetos e não apenas na construção de laboratórios, avalia Décio Oddone, diretor-geral da ANP.
A expectativa é que os investimentos anuais das empresas do setor em pesquisa e desenvolvimento oscilem entre R $3 bilhões e R $5 bilhões a olongo da próxima década. Segundo Oddone, desde o fim dos anos 1990, o total arrecadado em fundos para investimentos em pesquisa soma R$ 13 bilhões. As companhias têm que destinar 1% do faturamento em desenvolvimento e inovação.
— No passado, vimos o mais fácil, que foi construir laboratórios e instalações. E eles ficam sem utilização porque não têm projetos. Precisamos criar condições para desenvolver o capital humano e a inteligência. Por isso, mudamos o regulamento para que parte desse volumes vá para capacitação de recursos humanos, como bolsas de estudo. Já são 1.500, entre graduação, mestrado e doutorado — afirmou Oddone durante o debate do “E agora, Brasil?”, que foi realizado na sede da CNC, no Centro do Rio.
Clarissa Lins, presidente do IBP, acredita que serão arrecadados ao longo da próxima década cerca de R$ 20 bilhões para pesquisa e desenvolvimento. Ela destacou que o país já é referência em tecnologia de exploração em águas profundas e ultraprofundas:
—Talvez agente possa fazer mais barulho em torno disso, mas já é resultado de investimentos vultosos liderados pela Petrobras, que tem seu centro de pesquisas na Ilha do Fundão (campus da UFRJ, na Zona Norte do Rio) e tem reconhecimentos internacionais a tecnologias aplicadas no pré-sal brasileiro no campo de Libra, por exemplo.
Segundo Clarissa, já são mais de 50 mil empresas na cadeia de fornecedores do setor de petróleo e gás no país.
Para estimular ainda mais a inovação, Oddone citou o plano de criação de um novo fundo para apoiar o surgimento de novas empresas da cadeia de óleo e gás:
— O objetivo é estimular as start-ups, para que conceitos inovadores possam se traduzir em soluções comerciais. Não podemos desperdiçar essa oportunidade. Chega de laboratório. Vamos gerar ideias.
A estimativa é que, com os leilões de partilha e do excedente da cessão onerosa, sejam gerados investimentos entre R$ 1,5 trilhão e R$ 1,8 trilhão em toda a indústria do petróleo e gás no país ao longo dos contratos nas próximas três décadas.
— O mundo investe R$ 220 bilhões por ano. Só o bônus pago no Brasil neste ano foi de R$ 84 bilhões. É quase a metade de todo o mundo. Isso fala por si só e vai se refletir a longo prazo —afirma Oddone.
O pré-sal também vai permitir, afirmou Oddone, a criação de uma demanda para os fornecedores locais, apesar de as regras que estabelecem o cumprimento do índice de conteúdo local no setor terem sido flexibilizadas em 2016. Ele citou a importância da diversificação de empresas atuando nos campos, além da Petrobras que, por conta da crise desencadeada após a Operação Lava-Jato, teve de reduzir seus investimentos nos últimos anos.
— O que aconteceu no passado não acontece agora. Lá atrás foi criada uma expectativa e euforia como pré-sal, com a construção de estaleiros. Não nos preocupamos em garantira demanda. A preparação veio antes da demanda. Agora, com esses leilões todos, dá para acreditar que a demanda está contratada. Não vão faltar recursos financeiros, humanos e materiais para que esses projetos ocorram—destacou Oddone.
COMPROMISSO AMBIENTAL
Os dois debatedores destacaram que todo esse investimento ocorre em um momento em que as empresas do setor de petróleo já estão se transformando em companhias de energia. Clarissa lembrou mais de uma vez que o mercado do petróleo tem prazo de validade:
—Como um todo, o que se deve fazer? Se preparar para ser o mais competitivo possível. Por isso, a gente advoga simplicidade de regras.
Oddone, por sua vez, citou uma série de iniciativas no mundo, como cidades proibindo motores a combustão. Para ele, isso vai ter impacto no consumo de derivados nos próximos anos:
—Não temos mais décadas à frente. Temos que simplificar as regras, pois vamos competir não só com petróleo, mas com solar e eólica. A revolução do shale gas (produção não convencional, que cresce nos EUA) e a tecnologia que permitiu descobrir reservas como o do pré-sal colocaram fim à era do petróleo caro.
Para além de sobreviver na economia de baixo carbono, Clarissa e Oddone classificaram o compromisso das petroleiras com o meio ambiente como crucial. A presidente do IBP afirmou que não se pode ignorar os recados que vêm da sociedade.
— Para comprovar que somos um local atraente para os próximos dez, 15, 20 anos, é pensar no futuro. Agente tem que entende ressa mensagem e responder de acordo, mostrando o comprometimento inegociável coma responsabilidade ambiental. O que a indústria faz, inclusive no Brasil, é atuar de maneira absolutamente responsável no que diz respeito às emissões de gás de efeito estufa —disse Clarissa.
Um exemplo da importância do tema citado no evento foi o impacto do surgimento de manchas de óleo nas praias do Nordeste, que não foram provocadas pela indústria petrolífera no Brasil, mas pelo vazamento de um navio petroleiro na costa. Os dois debatedores lembraram que IBP e ANP colaboraram com o governo na mitigação dos danos, mas reconheceram as dificuldades de enfrentar problemas ambientais dessa ordem.
— Esse episódio mostrou que até mesmo a indústria, com seus melhores padrões, não conseguiu prontamente defendera costa com os mecanismos de proteção existentes. Isso é um desafio— disse Clarissa.—Infelizmente esse acidente coloca a nossa fragilidade, mas em nenhum momento houve ausência de resposta, de disponibilidade para mitigar os danos.

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