Novo modelo de produção é desafio para montadoras

Otimização Tributária: como recuperar tributos pagos a mais
11/03/2021
Preços do petróleo sobem 2% em meio à queda do dólar
12/03/2021
Mostrar tudo

Valor Econômico

Ao mesmo tempo em que precisa resolver grandes desafios do futuro, voltados ao carro elétrico, a indústria automobilística tem que lidar com problemas do passado. A escassez de componentes durante a pandemia colocou à prova o histórico e eficiente sistema de produção sem estoque, uma marca registrada desse setor. Carlos Tavares, presidente mundial da Stellantis, disse ontem que o problema da falta de semicondutores não terminará no primeiro semestre, como muitos creem. Vai durar o ano todo.
O executivo culpou os fornecedores do “primeiro nível” – grandes empresas de peças, que fornecem diretamente às montadoras – pelo problema. Essas empresas, na maioria dos casos, compram os chips para colocar nos conjuntos de peças entregues aos fabricantes dos veículos.
Segundo ele, os “primeiros sinais” de que a indústria automobilística seria afetada começaram a aparecer em outubro. “Se tivéssemos sido avisados naquele momento tomaríamos algumas decisões, como antecipação dos estoques”, destacou.
As montadoras disputam esses chips com a indústria de eletrônicos e celulares. Com a pandemia e a paralisação das linhas de veículos, os fabricantes dos semicondutores, concentrados na Ásia, passaram a atender preferencialmente os clientes que não pararam de produzir. Tavares disse que o problema “deixará lições”.
O executivo encerrou ontem à tarde uma visita de três dias ao Brasil. Foi a primeira vez que veio ao país desde que assumiu o comando da Stellantis, empresa formada em janeiro a partir da fusão de Fiat, Chrysler, Peugeot e Citroën.
Tavares, um executivo português, era do grupo francês PSA Peugeot Citroën. Ele veio ao Brasil visitar as fábricas do lado que não conhecia – a que pertencia à Fiat, em Betim (MG), e a da Jeep Chrysler, em Goiana (PE). Pernambuco foi a parada final antes da viagem de regresso à Europa. De Goiana, ele concedeu entrevista, por vídeo, a um grupo de jornalistas brasileiros.
O fato de ser um dos executivos mais respeitados do setor automotivo lhe permitiria ter encontros relâmpago com a imprensa e limitar a conversa a respostas suscintas, como fazem tantos outros. Tavares, no entanto, faz questão do detalhamento, de ouvir com atenção e não deixar nenhuma questão vaga.
O entusiasma especialmente falar sobre carros elétricos e do desafio da indústria e governos de tornar o produto acessível. Para ele, o maior dilema do setor, hoje, é encontrar meios de evitar que o modelo elétrico se torne um produto de elite.
Segundo ele, a meta é conseguir um produto ambientalmente correto que possa ser comprado por todas as classes que consomem veículos a combustão. “Se os preços forem altos não haverá ganho algum para o meio ambiente porque a classe média não poderá adquiri-los”, destacou.
O executivo criticou a rigidez das regras impostas pelas União Europeia para que a indústria produza veículos cada vez menos poluentes. E disse esperar “uma qualidade melhor de diálogo” quando o tema chegar à América Latina.
Ele também queixou-se da pressão nos preços do aço. Disse que a indústria terá que buscar formas de compensar a elevação de preços para não ter que repassar o custo ao consumidor.
Tavares disse que não é intenção da companhia fechar nenhuma fábrica brasileira. Além das duas que ele visitou ontem, o grupo tem uma operação em Porto Real (RJ), que hoje produz veículos Peugeot e Citroën.
A partir da fusão, as fábricas deixam também de ser exclusivas para carros das marcas que antes representavam. Com plataformas comuns, poderão ter linhas de qualquer uma das quatro marcas.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *