Valor Econômico
O presidente da BR Distribuidora, Wilson Ferreira Junior, disse que a Medida Provisória dos Combustíveis, anunciada ontem pelo governo em Brasília, surpreendeu o mercado, mas que não muda as perspectivas de crescimento da rede da companhia. A empresa tem planos de investir cerca de R$ 1,5 bilhão por ano no bandeiramento de postos.
A MP trata, dentre outros assuntos, da venda direta de etanol entre usinas e postos, sem necessidade de passar pelas distribuidoras. O tema mais controverso da medida, no entanto, é o da flexibilização da tutela regulatória de fidelidade à bandeira, que abre espaço para que revendedores vendam combustíveis de outras empresas que não aquela da marca estampada nos postos.
Hoje, pela regra, um posto “bandeirado” só pode adquirir e vender combustível fornecido pelo distribuidor com o qual possui acordo para exibição da marca. A Agência Nacional de Petróleo (ANP) discute um modelo híbrido que permita a instalação, nos postos, de até duas bombas não exclusivas pelas quais o revendedor que exibe uma marca específica possa vender também produtos de outros fornecedores.
Segundo Ferreira Júnior, a relação entre a distribuidora e os postos deve continuar a ser regida por contratos bilaterais de exclusividade. O executivo defendeu ainda que o consumidor já possui hoje a opção de comprar de postos não bandeirados (os chamados “bandeira branca”). Em julho, os preços do litro da gasolina nesses pontos de revenda foram menos de um centavo mais baixos. No diesel, a diferença foi de quatro centavos.
Mesmo assim, alega o presidente da BR, os postos bandeirados estão em expansão, porque têm “escala, produtos e serviços melhores”. “Está explícito que os contratos estão preservados… Mantemos a mesma perspectiva de crescimento da rede, de tornar nossa rede cada vez mais diferenciada em relação aos postos não bandeirados. Acredito que isso não muda”, afirmou o presidente da BR, ontem, em teleconferência com analistas e investidores.
O executivo defendeu que, considerada a composição dos preços dos combustíveis no Brasil, os esforços deveriam estar direcionados para a redução dos impostos. Ele vê com ceticismo a viabilidade econômica do modelo proposto, de instalação de bombas não-exclusivas nos postos – que demanda investimentos adicionais em bombas e tancagem para venda de um produto teoricamente mais barato. “Acho difícil que se viabilize economicamente uma ação como essa”, disse.
O diretor financeiro, André Natal, comentou, por sua vez, sobre a venda direta de etanol. Ele disse que ainda não está claro o efeito dessa medida para a redução dos preços do biocombustível. “[A venda direta] Fisicamente não faz sentido para a esmagadora maioria dos casos, a não ser casos específicos de postos localizados ao lado de uma usina. Do ponto de vista logístico, a operação hoje tem muito mais escala. Em termos de eficiência logística, não vemos benefício direto no preço”, disse.
Durante a teleconferência com investidores, Natal falou também sobre a estratégia de alocação de capital da empresa. Segundo o executivo, a empresa terá, nos próximos cinco anos, entre R$ 15 bilhões e R$ 20 bilhões a serem alocados, para além dos investimentos orgânicos. Essa perspectiva de geração de caixa sólida, defende o diretor, permitirá à empresa equilibrar eventuais aquisições, dentro do reposicionamento estratégico da empresa em direção à transição energética, com distribuições de dividendos aos acionistas.