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Fonte: UDOP

Ainda que a cotação do barril de petróleo tenha subido com o acordo da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) para reduzir a oferta, a queda na demanda poderia voltar a derrubar os preços.

Depois de anos de forte expansão impulsionada por preços baixos e pelo apetite crescente da Ásia, a demanda de petróleo no ano que vem poderá registrar seu aumento mais lento desde 2014, dizem certos analistas.

Isso pode anular a alta expressiva provocada pela decisão da Opep, e de outros grandes produtores, de cortar a produção mundial em cerca de 2%.

Em economias emergentes como a China, a demanda de petróleo não está crescendo no ritmo que já cresceu. Analistas também esperam que o aumento das taxas de juros nos Estados Unidos afete a demanda em mercados emergentes, cujo consumo do petróleo bruto historicamente cai com juros mais altos nos EUA.

Além disso, a alta recente nos preços do petróleo pode ser um tiro no próprio pé, pois o custo maior frearia o consumo.

"Nessa nova era do petróleo, o primeiro dado crucial que estamos monitorando é a demanda mundial de petróleo e sua reação à alta dos preços", disse Rob Thummel, gerente de carteira da Tortoise Capital Advisors, que administra US$ 15 bilhões em ativos de energia.

Certos analistas acreditam que se os membros da Opep mantiverem a decisão, o acordo poderia fazer o preço do barril chegar perto de US$ 60 em 2017, valor não registrado desde julho de 2015. O barril de Brent, a referência mundial, fechou ontem com alta de 0,22%, a US$ 54,02.

O consumidor, que se acostumou a mais de dois anos de combustível barato, pode começar a sentir a alta nos postos de gasolina. Nos EUA, o preço médio da gasolina poderia subir de

US$ 0,05 a US$ 0,08 no próximo ano, do atual nível de pouco mais de US$ 0,50 por litro.

Em diversos estados o litro podia chegar a US$ 0,80 no meio do ano, disse Patrick DeHaan, analista sênior de petróleo da GasBuddy, que fornece informações sobre preços do combustível. "O motorista não deve esperar uma repetição dos preços baixos vistos durante o primeiro trimestre do ano", disse.

Mesmo antes da recente recuperação do petróleo, expectativas de crescimento da demanda entre analistas não eram otimistas. A Agência Internacional de Energia (AIE) afirmou na terça que a demanda mundial de petróleo no ano que vem deve crescer em 1,3 milhão de barris por dia, contra 1,4 milhão este ano e 1,9 milhão em 2015.

Para certas instituições, até essa expectativa é otimista demais. A própria Opep prevê que a demanda do petróleo subirá 1,15 milhão de barris por dia no próximo ano. O Citigroup Inc. prevê um crescimento da demanda em 1,1 milhão de barris por dia.

A maior influência provavelmente virá da China. O país vinha aumentando os estoques de petróleo nos últimos dois anos para aproveitar os preços baixos .

Mas com a alta dos preços e reservas estratégicas em níveis máximos, a atividade compradora da China pode desacelerar.

Michal Meidan, analista da consultoria Energy Aspects para a Ásia, calcula que a China tenha acrescentado cerca de 120 milhões de barris à reserva este ano, número que, segundo ele, poderia cair para 80 milhões de barris em 2017.

"Isso eliminaria o suporte mais importante [da demanda de petróleo] que tivemos nos últimos dois anos", disse Abhishek Deshpande, analista de petróleo do banco francês Natixis.

O Federal Reserve, banco central americano, representa outro risco à demanda de petróleo. O banco elevou a taxa básica de juros em 0,25 ponto percentual esta semana e espera, no próximo ano, aumentar os juros a um ritmo mais acelerado do que o previsto anteriormente.

Para o petróleo, isso costuma ser má notícia. A demanda de petróleo bruto em mercados emergentes, um fator de crescimento do consumo mundial, tende a cair quando os juros nos EUA sobem, segundo análise do Bank of America Merrill Lynch.

Economias emergentes são afetadas por juros mais altos nos EUA porque fica mais caro rolar sua dívida e porque um dólar valorizado encarece muitos itens importados. Isso inclui o petróleo, cotado em dólares e que fica mais caro junto com o dólar em países com outras moedas.

"O risco mais subestimado para os preços do petróleo seria uma combinação tóxica de elevação mais rápida do que o esperado dos juros nos EUA no ano que vem, um dólar muito mais forte e uma potencial guerra comercial com a China", afirmou o banco em relatório na semana passada. "Os preços do petróleo poderiam cair para menos de US$ 40 o barril nesse cenário".

Tudo isso seria um problema para a Opep e para a recuperação da cotação do petróleo, que já enfrenta o risco de que a alta nos preços produza um aumento na produção e oferta do xisto nos EUA. "Se a oferta, o consumo ou os estoques reagirem depressa demais ao novo cenário, o ganho da Opep a curto prazo poderia se converter em perda no longo prazo", afirma a análise do Bank of America Merrill Lynch.

Georgi Kantchev
Fonte: The Wall Street Journal - USA

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