Raízen conclui compra da Biosev e consolida liderança

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A Raízen, controlada por Cosan e Shell, concluiu na terça-feira a compra da sucroalcooleira Biosev, acertando um novo acordo de acionistas com a vendedora do negócio – a Hédera – que a consolidou como, de longe, a maior produtora de açúcar e etanol de cana do mundo.

O negócio faz o número de usinas da Raízen saltar de 26 para 35, o que eleva sua capacidade de moer cana em 44%, para 105 milhões de toneladas por ano. A produção de açúcar cresce 31%, para 4,9 milhões de toneladas, a de etanol aumenta 54%, para 3,8 bilhões de litros, e a de cogeração de energia sobe em 36%, a 3 mil gigawatts-hora (Gwh), considerada a produção da safra 2019/20.

Como parte do pagamento pelo negócio, a Raízen emitiu à Hédera pouco mais de 330 milhões de ações preferenciais, através da emissão de bônus de subscrição convertidos nos papéis. Pelo valor das ações na bolsa, essa participação equivale a cerca de R$ 2,3 bilhões – ontem as ações caíram 3,1%, para R$ 6,88. Mas a Hédera não deverá embolsar esse dinheiro tão cedo.

Com a conclusão da operação, entrou em vigor um novo acordo de acionistas que inclui uma cláusula que impede que a Hédera venda sua participação (lock-up) pelos próximos dois anos, conforme apurou o Valor com uma fonte a par do assunto. Mas a Hédera não dá sinais de que vai se desfazer das ações, já que os dividendos que receberá da Raízen deverão ser usados para ajudar a pagar a dívida herdada da Biosev.

Nova acionista, a Hédera passa a deter 3,22% do capital social da Raízen, elevando a parcela das ações em circulação no mercado (free float) para 12,31%. Com isso, os controladores Cosan e Shell passam a ter 43,84% do capital da companhia cada, ante 45,3% anteriormente.

A Raízen entrou na B3 abrindo 9,4% de seu capital na bolsa, apenas com ações preferenciais. A companhia obteve autorização da B3 para operar com menos dos 25% de seu capital aberto exigidos para o Nível 2 de governança na bolsa, mas se comprometeu a elevar essa fatia a 15% até dezembro de 2022. Caso contrário, terá que aumentar medidas de governança, como conceder uma das cadeiras do conselho de administração para os minoritários.

Há uma expectativa de que a Raízen ainda faça uma oferta secundária de ações mais para frente. Mas, se isso não ocorrer, e a composição acionária se mantiver, a Hédera – que terá que permanecer com a participação atual até agosto de 2023 – poderá ser peça-chave numa eventual eleição de conselheiro.

Isso porque, pelo compromisso da Raízen com a B3, a eleição de um conselheiro pelos minoritários precisará da anuência de acionistas que representem ao menos 9% do capital social (dada a atual fatia de ações na bolsa). Pela composição atual, os demais minoritários (excluindo a Hédera) têm 9,09% do capital social, o que exigiria uma votação quase unânime para emplacar uma vaga no conselho sem o aval da Hédera.

Do lado da Hédera, o crucial de sua participação na Raízen é garantir que fluam dividendos para resolver a parte das dívidas da Biosev que não foi paga pela nova dona.

A Hédera é controlada pela francesa Louis Dreyfus Company, que tem fatia de 94% e pelos antigos minoritários da Biosev que tinham ações da sucroalcooleira na bolsa (6%). Para vender a Biosev, os acionistas deslistaram a empresa da B3.

Enquanto permanecer com as ações da Raízen em mãos, a Hédera deverá repassar os dividendos e outros ganhos com ações para seus credores, conforme acordo feito com os bancos para reestruturar a dívida herdada da Biosev. Dos quase R$ 8 bilhões que a Biosev tinha de dívida antes de ser vendida, a Raízen ficou responsável por quitar quase R$ 4 bilhões, valor que terminará de ser pago aos bancos nos próximos dias, segundo uma fonte. Procurada, a Raízen não concedeu entrevista.
Fonte: Valor Econômico

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