Produção da Petrobras sobe 2%, mas pode não atingir meta para o ano
16/12/2016
Queda na demanda pode tirar novo vigor do petróleo
16/12/2016
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Fonte: O Globo
O mercado de petróleo se comporta de forma cíclica, em função das variações nos níveis de produção e demanda, comportamento característico das commodities. Entretanto, existem aspectos particulares nos diferentes ciclos. Um aspecto que chama a atenção no último movimento de alta, terminado em 2014, é a queda persistente da rentabilidade das empresas enquanto os preços atingiam valores recordes. É certo que houve uma inflação de custos, em função da maior demanda por bens e serviços para exploração e produção, mas a principal razão foi o fato de boa parte da nova produção advir das chamadas novas fronteiras. São os casos do shale oil, das areias betuminosas e dos projetos offshore em águas profundas e ultraprofundas, como o pré-sal.
A queda de rentabilidade vem provocando o cancelamento e o adiamento de novos projetos. Para se ter uma ideia, os investimentos em exploração e produção no mundo foram de US$ 734 bilhões para US$ 545 bilhões, entre 2014 e 2015, uma redução de 26%. No Brasil, a queda foi de 42%, de US$ 43 bilhões para US$ 25 bilhões, com redução projetada para 2016.
Nesse ambiente de margens e faturamento reduzidos, o caminho para viabilizar investimentos é a redução de custos dos projetos. Nesse aspecto, ocorreu avanço no mercado de shale americano, que reduziu seus custos a ponto de viabilizar sua produção com o barril de petróleo a US$ 55-60 (contra cerca de US$ 85-90 há poucos anos). Com esse patamar, a grande adição de oferta limita o espaço de alta do preço, o que nos leva a discutir no Brasil questões como a renovação do Repetro, tributação regressiva, e o tema polêmico do conteúdo local.
Não quanto ao interesse de se desenvolver uma política de conteúdo local para a cadeia de fornecedores, mas sim em como fazê-lo. O atual modelo mostrou-se ineficaz e contraproducente, dada a sua complexidade, burocracia e inflexibilidade, emulando uma reserva de mercado que resulta na obrigação de se aceitar pagar mais caro. No momento em que o mundo está focado na redução de custos para viabilizar projetos, é preciso buscar alternativas que fomentem a indústria local e permitam sua sustentabilidade.
Algumas distorções do modelo possuem ajuste simples, como a passagem da determinação do conteúdo local no momento do leilão para o momento da aprovação do plano de desenvolvimento da produção. Igualmente, devem-se evitar os encargos que possam desestimular a atividade na fase de exploração. A exploração é uma atividade de puro risco econômico, que só trará retorno nos casos de descoberta de reservas comercialmente viáveis.
Também merece correção o modelo baseado em penalidades, cujo custo e risco das multas são incorporados ao modelo de viabilidade dos projetos, reduzindo sua atratividade. Além disso, este modelo possui um complexo e burocrático processo de medição, que criou uma indústria de certificação de conteúdo local.
Como em outros setores da economia, o estímulo ao desenvolvimento de fornecedores locais deve ser feito por benefícios e incentivos. Adicionalmente, devem-se definir as prioridades para o desenvolvimento industrial. A tentativa de abarcar a tudo e a todos gera dispersão de esforços, desperdiçando oportunidades de focar no desenvolvimento de segmentos de alto valor agregado, com escala para as empresas competirem internacionalmente a partir do Brasil. Precisamos imediatamente retomar o caminho da atratividade e abandonar a política de conteúdo local, que nos últimos anos se tornou uma estufa de corrupção e ineficiência.
Adriano Pires é diretor do Centro Brasileiro de Infra Estrutura

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