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Fonte: Valor Online

O presidente Getúlio Vargas visita a Refinaria Landulpho Alves (RLAM), em junho de 1952, um ano antes da criação do monopólio sobre o petróleo
Até se tornar a maior empresa brasileira, a Petrobras seguiu uma trajetória de 64 anos dividindo opiniões. No início de 1954, 52% dos 1.500 entrevistados pelo Ibope nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro acreditavam no futuro promissor da indústria petroleira nacional, enquanto 48% duvidavam da capacidade do governo de financiar a aventura. Essa divisão opunha políticos e empresários.
E acabou tornando-se uma saga de muitos personagens. O escritor Monteiro Lobato, criador do "Sítio do Pica-Pau Amarelo", virou defensor da ideia. Mandou cartas ao presidente Getúlio Vargas, dedicou "O poço do Visconde" e "Histórias de Tia Nastácia" às crianças, participou de conferências e denunciou as "manobras da Standard Oil para assenhorar-se de nossas melhores terras potencialmente petrolíferas". Aliado ao empresário Edson de Carvalho, criou duas companhias de petróleo, mas não achou óleo nas concessões que explorou.
Nem todo esforço foi em vão. Em 1938 foi criado o Conselho Nacional de Petróleo (CNP). Mas só em 21 de janeiro de 1939, o óleo sangrou num poço de 210 metros de profundidade de Lobato, em Salvador. A quantidade era pequena, mas vingava os fracassos desde as primeiras concessões em 1858. O capítulo mais promissor começaria a ser escrito depois do pós-guerra com a campanha "O petróleo é nosso". As manifestações animaram Getúlio Vargas a criar a Petrobras em 3 de outubro de 1953.
O primeiro chefe de exploração da Petrobras era um geólogo americano da Standard Oil. Walter Link fundou as bases de uma divisão técnica, espalhou pesquisadores do Pará ao Paraná, mandou estudantes brasileiros para os Estados Unidos, investiu no Maranhão e no Piauí e chegou a arranhar as ricas reservas da Bacia de Campos, no litoral do Rio, mas não passou das perfurações em terra. Seis anos depois desistiu com uma sentença arrasadora: o Relatório Link aconselhava o Brasil a direcionar suas sondas para outros países.
Geólogos brasileiros trataram de refazer todas as análises. A descoberta, em 1963, de Carmópolis, em Sergipe, foi o primeiro achado promissor fora do Recôncavo baiano. Cinco anos depois, os poços da Bahia batiam recorde de produção: 146 mil barris por dia. A Petrobras chegaria a 200 mil barris/dia, mas ao fim da década era quase nada para a fase de crescimento do "milagre econômico". Decidiu-se então que era o mar ou nada. "Nossas únicas bacias produtoras de petróleo são cretáceas e estão mar adentro", disse o superintendente interino de Exploração da Petrobras, Franklin de Andrade Gomes.
Quando as sondas perfuraram os poços de Garoupa, na Bacia de Campos, em 1974, o Brasil achou um cardume de campos promissores: Pargo, Badejo, Bagre, Namorado e Pampo. O país passara pela primeira crise mundial do petróleo, em 1973, com racionamento, mas consumia 500 mil barris diários e produzia apenas 170 mil. O preço do barril no mercado internacional pulou de US$ 2 para US$ 14 e a importação sugava os cofres públicos.
O país adotou os contratos de risco, mas só se livrou mesmo da dependência quando a Petrobras avançou para o fundo do mar. O petróleo já batia a cotação de US$ 30 o barril, o Brasil retomava a democracia enquanto a Petrobras descobria reservas gigantes em águas profundas. Marlim, Albacora, Barracuda e Roncador fizeram com que a produção atingisse 500 mil barris, em 1984. Depois vieram os marcos de um milhão de barris diários, em 1997, e de 2 milhões de bpd, em 2003. Até que a empresa descobriu o futuro no pré-sal.

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