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Valor Online

Conglomerado unificou suas três holdings na empresa Cosan SA e se prepara para abrir o capital de suas principais divisões de negócios

O grupo Cosan, do empresário Rubens Ometto Silveira Mello, dá início hoje a um novo ciclo, com a tão esperada simplificação da estrutura societária de seus negócios no mercado de capitais. O conglomerado – dono de usinas de açúcar e álcool, ferrovias e distribuidora de gás e combustíveis – unificou suas três holdings na empresa Cosan SA e se prepara para abrir o capital de suas principais divisões de negócios.
“Sempre acreditei mais em empresa de dono do que nas grandes ‘corporations’ (companhias de capital pulverizado) ”, disse o empresário, que foi fortemente criticado pelo mercado ao criar, em 2007, a holding Cosan Limited (CZZ), que conferia a ele superpoderes como acionista. Ometto temia ser alvo de uma oferta hostil e ter de abrir mão do controle de sua empresa, fundada originalmente como produtora de açúcar e álcool.
Conhecido como um dos maiores usineiros do país, Ometto diversificou os seus negócios ao comprar a Esso e depois fazer uma joint venture com a Shell, para constituir a Raízen. O empresário apostou na expansão na área de infraestrutura ao adquirir a América Latina Logística (ex-ALL), empresa de ferrovias que pertencia ao trio fundadores da AmBev (Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles). O grupo é um dos maiores do país, com faturamento de R$ 68,6 bilhões no ano passado.
Ao longo de sua trajetória como empresário, travou uma longa disputa litigiosa com sua família e bateu de frente com o mercado financeiro ao criar uma complexa estrutura societária para se manter à frente dos seus negócios. “Eu tinha prometido ao mercado que iria fazer a simplificação societária e estou cumprindo. Foi no tempo que tinha de ser”, disse.
Com a reestruturação, as holdings Cosan Limited e Cosan Logística (dona da Rumo) se fundem em uma única empresa listada na B3, a Cosan SA, que também lançará novas ADS (American Depositary Shares) amanhã em Nova York. Abaixo da Cosan SA estão as companhias Raízen, Compass, Rumo e Moove. “São quatro empresas que ficam abaixo da holding com gestores independentes, com o DNA empreendedor”, afirmou o empresário.
Para analistas de mercado ouvidos pelo Valor, a empresa se torna mais fácil de ser entendida pelos investidores e deverá gerar maior liquidez. Relatório do Bank of America (Bofa) diz que as ações da Cosan passarão a refletir a nova estrutura a companhia, que deverá crescer este ano estimulada pelos melhores preços das commodities e agronegócio.
Com a unificação das holdings, a nova Cosan “nasce” com um valor de mercado estimado em R$ 43 bilhões e um Ebitda (lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização) sob gestão de R$ 13 bilhões. O empresário, que detém cerca de 42% da companhia, disse que garantirá plenos poderes no grupo por meio de acordo de acionistas firmados com seus sócios de longa data, entre eles a família Rezende Barbosa. E reforça as apostas em sua própria companhia. Nos últimos anos, a Cosan desembolsou R$ 8 bilhões em recompra de ações da empresa.
Com planos de abrir o capital da Raízen, Compass (que reúne os negócios de distribuição de gás, como a Comgás) e a Moove, negócio de lubrificantes, a Cosan também está buscando a verticalização do grupo, com a compra da refinaria da Petrobras no Paraná, a Repar. A empresa negocia, ainda, a aquisição da Gaspetro, para crescer em distribuição de gás, que também pertence à petroleira brasileira.
As negociações, contudo, seguem em compasso de espera. Em meio à troca de comando da Petrobras – o presidente Jair Bolsonaro anunciou a troca de Roberto Castello Branco há três semanas -, o grupo aguarda o posicionamento mais claro do novo gestor da companhia indicado pela União, o general Joaquim Silva e Luna, para dar prosseguimento às conversas.
Com bom trânsito em Brasília, Ometto evita fazer críticas ao governo, mas disse que ficou assustado “assim como todo o mercado” com a saída de Castello Branco. A leitura do mercado financeiro e de empresários era de uma possível interferência na política de preços dos combustíveis. Agora, acompanha de perto os desdobramentos com a indicação dos novos conselheiros para a petroleira e defende o movimento de privatização de ativos da estatal intensificado na gestão de Castello Branco.
Para este ano, os investimentos em expansão da Cosan, sem considerar aquisições, estão previstos em cerca de R$ 10 bilhões. Com crescimento marcado por grandes aquisições, a Cosan não deverá mudar sua estratégia de expansão. Em janeiro, o grupo anunciou a compra da Biosev, segunda maior empresa de açúcar e etanol do Brasil, se isolando na liderança do setor sucroalcooleiro. “Continuamos avaliando negócios em todos os setores”, disse o empresário.
Presidente do conselho de administração do conglomerado, Ometto está longe de decretar sua aposentadoria. Com duas filhas e cinco netos, o empresário disse que tem preparado, nos últimos anos, executivos da companhia que hoje fazem parte na “partnership” para assessorar seus herdeiros no futuro. Mas, num futuro bem distante. “Eu sou o velhinho que fica cutucando a molecada”, brinca.
Engenheiro formado pela Poli, o empresário sabe exatamente a importância do seu legado e quer deixar sua marca para história. Na semana que vem, lançará sua biografia narrada pelo novelista Aguinaldo Silva. O livro “O Inconformista – A trajetória e as reflexões do empresário que fez da Cosan um dos maiores sucessos corporativos do Brasil”, lançado pela Penguin Portfólio, não se trata de uma autopromoção, segundo Ometto. “Mas é uma forma de contar a trajetória da minha família e do grupo. Comprei uma fazenda na região de Araras de 1839, que pertencia à família Silva Prado. Todo mundo sabe que sou noveleiro. Convidei o Aguinaldo Silva para me ajudar a resgatar essa trajetória.”

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