Fonte: UDOP
Flexibilização da quarentena amplia uso de veículos e biocombustível supera a gasolina onde tem preço mais vantajoso
As vendas de etanol hidratado (para veículos flex) sinalizam retomada de crescimento. Um dos principais motivos é a flexibilização das normas adotadas para conter a transmissão da covid-19.
A reabertura de parte dos estabelecimentos comerciais ampliou o uso de veículos e, por consequência, a comercialização de combustíveis.
Por sua vez, essa movimentação favoreceu as vendas do hidratado em estados como São Paulo, onde várias das grandes cidades adotaram a flexibilização e o biocombustível é mais vantajoso diante a gasolina.
Em resumo, só há vantagem em abastecer com hidratado se ele custar até 70% do preço do litro da gasolina, uma vez que o combustível feito de cana e milho perde em rendimento energético na ordem de 30% para o derivado de petróleo.
Energia Que Fala Com Você pesquisou o custo do hidratado nos postos de quatro cidades paulistas: Campinas, Ribeirão Preto, Bauru e Piracicaba. Nelas, a média do litro do etanol foi de R$ 2,351, enquanto o valor do litro de gasolina ficou em médios R$ 3,74.
Sendo assim, o preço do litro do hidratado custa em média 63% ante o valor do combustível fóssil. E torna-se mais vantajoso.
Os dados das quatro cidades são da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), referentes ao período entre 31/05 a 06/06.
Vendas de etanol em alta
Levantamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, atesta as vendas de etanol aquecidas no estado de São Paulo.
É que a instituição faz avaliações semanais dos preços do biocombustível para as usinas paulistas e, na última delas, ficou registrada alta de 6% na comparação com a semana anterior.
Ou seja: na semana entre os dias 01 e 05 deste junho a usina recebeu R$ 1,622 pelo litro do hidratado. O valor exclui ICMS e PIS/Cofins.
As altas só têm crescido. Em 08/05, por exemplo, a usina recebia R$ 1,3825 pelo litro do hidratado. De lá até o último dia 05, o valor subiu 17,3%.
O etanol anidro (misturado em 27% à gasolina) também registra alta de preço para as usinas de 8,53% em 01 a 05/6 ante a semana anterior. Mas esse avanço se dá em cidades nas quais o combustível fóssil é mais vantajoso ante o biocombustível.
“Essa sequência de valorizações dos biocombustíveis em São Paulo é reflexo do aumento gradativo da demanda nas últimas semanas, com a flexibilização”, destaca em nota o Cepea.
“A boa vantagem do bicombustível frente a gasolina nas bombas vem dando suporte às cotações”, emenda a instituição.
Finalmente, acrescenta: “com isso, volumes mais expressivos têm sido negociados no estado de São Paulo — e nem mesmo a elevada entrada de etanol de outros estados tem freado as altas no mercado paulista.”
Cenário ainda desperta dúvidas
De seu lado, o setor sucroenergético prefere ver para crer. Melhor dizendo: as vendas de etanol chegaram a cair 30% na segunda quinzena de março, quando foi decretada a quarentena em estados como São Paulo.
E seguiram em queda. Segundo levantamento da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA), as usinas venderam 24% menos hidratado nos primeiros 15 dias de maio, ante igual período de 2019.
A tendência, no entanto, é de ventos favoráveis ao etanol hidratado.
Em primeiro lugar, porque a Petrobras aumentou em 10% o preço da gasolina nas refinarias desde a zero hora desta quarta-feira (10/06).
Trata-se do quinto reajuste consecutivo. Segundo a empresa, as altas refletem valores de paridade de importação, que consideram os preços do petróleo no mercado internacional e custos de importadores.
Outro vento favorável ao etanol hidratado é a flexibilização da quarentena que começa nessa quarta-feira (10/06) na capital paulista.
Segundo a ANP, o preço do biocombustível é vantajoso nos postos de São Paulo por custar em média 59% do valor da gasolina.
Entre os dias 31/05 e 06 deste mês, a Agência apurou que, na média, enquanto o litro do derivado de petróleo valia R$ 3,90, o do biocombustível era comercializado por R$ 2,30 em postos paulistanos.
A reabertura dos estabelecimentos comerciais será gradual e não se sabe a ampliação do número de veículos que ganhará as vias públicas. Mas mesmo que seja mínima, terá impacto até porque a frota da capital é de 9,2 milhões de veículos, conforme o Detran.
Com esses ventos favoráveis, pode ser que as vendas de etanol retomem alta ainda neste primeiro semestre.
Essa previsão, aliás, foi divulgada em conteúdo do Energia Que Fala Com Você, a partir de estimativa de Ricardo Mussa, presidente da Raízen (joint-venture da Shell e da Cosan), para quem a retomada do consumo viria a partir deste mês de junho.
Delcy Mac Cruz
Fonte: Energia que fala com você