Fonte: Valor Econômico
O presidente da República, Jair Bolsonaro, comunicou a representantes do segmento sucroalcooleiro que pretende criar uma cota de importação de etanol com tarifa zero por 90 dias. A intenção é permitir a entrada de 187,5 milhões de litros no mercado brasileiro até dezembro, medida que beneficiaria principalmente os Estados Unidos do aliado político Donald Trump.
A informação ainda não foi divulgada publicamente porque uma parte do governo ainda tem esperanças de reverter a decisão. Ontem foi realizada mais uma reunião entre o presidente e os ministros Paulo Guedes (Economia), Tereza Cristina (Agricultura) e Bento Albuquerque (Minas e Energia) no Palácio do Planalto para discutir o assunto. O Ministério da Agricultura informou que as negociações prosseguem.
O setor produtivo reforça que nada está definido. Uma parte do segmento diz que já existe o encaminhamento para um entendimento, mas outros representantes avaliam que a medida seria um “grande sacrifício”.
Duas demandas colocadas ao governo brasileiro permanecem sem respostas. A primeira é saber se a proposta atual atende aos interesses americanos ou se será mais uma prorrogação frustrada.
“Aguardamos uma sinalização do que os americanos querem e do que é razoável para negociar. Tem que combinar com eles primeiro”, disse uma fonte ainda descrente de um desfecho favorável ao Brasil. “Não acreditamos que em 90 dias o chanceler Ernesto Araújo consiga trazer uma proposta americana com relação à ampliação da cota para exportação de açúcar”. Para outra fonte, “qualquer cota seria um sacrifício para o setor”.
A outra demanda de produtores e usinas, na verdade, é o reforço de um pedido feito à equipe econômica há um ano para rever distorções tributárias na importação do etanol. As distribuidoras de combustíveis do Brasil recebem créditos referentes ao PIS e Cofins de 11,25% nas compras de fora do país, diferentemente dos negócios internos, o que prejudica o setor nacional quando há paridade de preços.
“Não queremos compensação tributária, mas que a regra seja igual. O governo está privilegiando as importações e perdendo duas vezes, pois gera concorrência desleal e abre mão de receita”, reclama uma fonte do setor privado. “Não fomos atendidos em nada até hoje, mas estamos prontos para ouvir”, concluiu.
Um participante da reunião com Bolsonaro esta semana contou que o presidente está “angustiado” com a situação, pois entende os apelos dos produtores brasileiros. Ao mesmo tempo, o presidente teria “pedido” para o setor “ceder” por mais três meses. “É uma saída política que não atrapalha Bolsonaro com Trump nem com o setor, porque não deve haver enxurrada de etanol aqui no país”, disse outra fonte. (Colaborou Camila Souza Ramos).