Ministério da Educação / IFBA
Francislei Santos, doutor em engenharia de biomateriais, cria primeiro reator fotoeletroquímico em U do mundo e conquista patente para o IFBA.
Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) criou em 1972, durante a Conferência de Estocolmo, na Suécia, o Dia Mundial do Meio Ambiente, que passou a ser celebrado no dia 5 de junho. Para refletir sobre a data, o pesquisador do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (IFBA), campus Salvador, Francislei Santa Anna Santos, falou sobre sua pesquisa a respeito da produção de hidrogênio verde.
Vencedor na categoria docente do I Prêmio Campus Salvador de Pesquisa e Extensão, edição 2023, Francislei Santos ainda colhe os frutos de suas investigações científicas. Criador do primeiro reator fotoeletroquímico em formato de letra U do mundo, o invento foi apresentado no Congresso Técnico Científico da Engenharia e da Agronomia (CONTECC) também em 2023, tendo sido selecionado entre mais de 100 trabalhos inscritos, recorda o docente.
A tecnologia utiliza grafeno vegetal e luz solar para viabilizar a produção de hidrogênio verde (H₂V) e oxigênio verde (O₂V) de alta pureza. A partir dela, explica Francislei, não é necessário o uso de membranas, o que ajuda na redução de custos e torna a ideia uma alternativa sustentável para o setor energético.
Devemos garantir que deixemos para nossos filhos e netos um mundo com mais paz, mais áreas verdes, mais tolerância e respeito às diferenças. Educação e ciência serão ferramentas essenciais para guiá-los nessa jornada, despertando o compromisso com a preservação ambiental e o desenvolvimento de um mundo mais justo e harmonioso. Que possamos agir com responsabilidade, inspirando mudanças reais e construindo um futuro melhor para as próximas gerações!
A pesquisa desenvolvida por Francislei Santos resultou numa patente para o IFBA depositada em 21 de maio de 2024 e publicada em 12 de novembro do mesmo ano pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial com a identificação BR 102024010097-2 A2. Para conhecer mais sobre a invenção, a equipe do campus Salvador convidou o professor para um bate-papo não somente sobre sua pesquisa mas sobre diversos outros temas da atualidade ligados a sustentabilidade. “Minha trajetória na engenharia é impulsionada pela busca por soluções tecnológicas inovadoras e sustentáveis, capazes de transformar desafios em oportunidades concretas para a sociedade e a indústria”, define o pesquisador em seu currículo lattes.
Doutor em engenharia de biomateriais pelo Programa de Pós-graduação em Engenharia de Biomateriais (PPGBIOMAT) pela Universidade Federal de Lavras (UFLA), Francislei se capacitou também no Green Hydrogen Course da Universidade Técnica de Colônia (TH Köln), e coleciona um título de Doutor Honoris Causa em Engenharia Química e Industrial pela Emill Brunner University além de prêmios como o Ozires Silva.
Confira a entrevista
Página do campus Salvador – O que te inspirou a criar o reator fotoeletroquímico?
Francislei Santos – Minha inspiração para desenvolver o reator fotoeletroquímico em “U” surgiu de maneira inesperada. Em 2015, publiquei um pedido de patente para um reator que produz hidrogênio a partir da urina humana, utilizando uma placa fotovoltaica. A ideia nasceu da observação da capacidade da energia solar de se converter em energia química. Já em 2023, ao adicionar grafeno vegetal ao processo, percebi que estava diante de algo inédito. Essa descoberta abriu novas perspectivas para a produção de hidrogênio verde, possibilitando avanços significativos no setor energético sustentável.
PCS – Existe um planejamento para disponibilizar o reator fotoeletroquímico à sociedade?
FS – Sim! Utilizo ferramentas de gestão como o Ciclo PDCA [método de gestão de quatro passos, utilizado para o controle e melhoria contínua de processos e produtos] e a Análise SWOT [técnica usada para identificar forças, oportunidades, fraquezas e ameaças para desenvolver um plano estratégico. para elaborar ações estratégicas voltadas à implementação dessa tecnologia. A estratégia envolve: participação em concursos de fomento para obtenção de financiamento; depósito de pedidos de patente para garantir a proteção da propriedade intelectual; divulgação da tecnologia em congressos e encontros científicos, promovendo seu reconhecimento e alcance; estabelecimento de parcerias institucionais, ampliando as possibilidades de aplicação desse avanço tecnológico.
PCS – De que forma a ciência e a tecnologia podem auxiliar na preservação do meio ambiente?
FS – A ciência e a tecnologia desempenham um papel fundamental na preservação do meio ambiente, pois possibilitam o desenvolvimento de soluções sustentáveis. Um exemplo é a produção de hidrogênio verde, que pode reduzir a dependência de combustíveis fósseis e minimizar as emissões de gases de efeito estufa. Instituições públicas como o IFBA vêm contribuindo ativamente para essa transformação, promovendo o avanço de tecnologias limpas e renováveis.
PCS – Quais as vantagens do reator fotoeletroquímico em “U” na geração de hidrogênio verde? Onde ele pode ser utilizado?
FS – As principais vantagens incluem: operação em temperatura ambiente, reduzindo os custos operacionais; uso de catalisador de grafeno vegetal, desenvolvido com tecnologia 100% brasileira; ausência de membranas, simplificando o processo de produção; utilização de energia renovável, aproveitando luz solar como fonte primária. Essa tecnologia pode ser aplicada na produção de combustíveis, fabricação de aço, síntese de polímeros, entre outras indústrias estratégicas.
PCS – Como o hidrogênio verde poderá impactar nosso cotidiano nas próximas décadas?
FS – O hidrogênio verde é uma alternativa promissora para reduzir nossa dependência dos combustíveis fósseis. À medida que se desenvolve e se torna competitivo, ele poderá ser amplamente utilizado em: veículos elétricos movidos a hidrogênio; geração de energia limpa e sustentável; indústria química, substituindo fontes não renováveis. O avanço dessa tecnologia trará benefícios ambientais e econômicos, impactando diretamente nossa vida cotidiana.
PCS – O que te motivou a se tornar cientista? Quando surgiu esse despertar?
FS – Acredito que somos o resultado de nossas vivências. Sempre admirei a ciência e o conhecimento, mas, por muito tempo, não me imaginava como cientista. Sinto profunda gratidão pelas oportunidades que a vida me trouxe e busco sabedoria para conduzir esse caminho com responsabilidade e compromisso.
PCS – Que conselho você daria aos estudantes que desejam criar soluções científicas e tecnológicas para o mundo?
FS – Viva o momento e acredite nos seus sonhos. Pratique a gratidão, mesmo diante dos desafios. Busque sempre conhecimento, sem jamais desistir. Ignore as críticas destrutivas e tenha discernimento ao receber elogios. Além disso, alguns pontos são essenciais: desenvolva habilidades em resolução de problemas. Trabalhe em equipe sempre que possível; mas, se precisar seguir sozinho, siga com confiança e determinação — nunca desista. Mantenha-se sempre aprendendo, explorando novas possibilidades e abrindo caminhos para o futuro. Lembre-se: sua jornada é única, e cada experiência contribui para o seu crescimento. Siga firme e com o coração aberto!
PCS – Como incentivar jovens a criar inovação mesmo sem apoio financeiro ou bolsas de pesquisa?
FS – Não há fórmula exata para a inovação. A ideia de combinar grafeno e hidrogênio surgiu de maneira espontânea, em um momento de distração — e deu muito certo. Sempre ensino que é preciso acreditar no improvável, pois tudo pode acontecer. Permita-se errar dentro das possibilidades de acerto, aceite suas limitações, mas nunca se restrinja a elas. Algumas ações fundamentais incluem: buscar conhecimento em fontes abertas e bancos de patentes; participar de comunidades de inovação; desenvolver habilidades em prototipagem e testes.
PCS – Você acredita que as patentes registradas pelos institutos podem atrair parcerias para disponibilizar essas criações à sociedade?
FS – Sim! As instituições de ensino e pesquisa têm produzido inovações impactantes, e acredito que esse movimento atrairá parcerias estratégicas. A proteção da propriedade intelectual é essencial para garantir segurança e viabilidade nas colaborações entre a academia e o setor produtivo. Essa cooperação trará benefícios mútuos, incluindo: transferência de tecnologia para aplicação industrial; criação de oportunidades de negócios e inovação; geração de novos investimentos em pesquisa, fortalecendo o IFBA e a ciência brasileira.
PCS – Que mensagem você gostaria de deixar para a sociedade, especialmente no contexto da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2025?
FS – Quero deixar uma mensagem de esperança e compromisso, porque o futuro do planeta depende das ações que tomamos hoje. Cada um de nós tem um papel fundamental nessa transformação, e juntos podemos construir um caminho mais sustentável. Precisamos unir esforços para a preservação do meio ambiente e o avanço de tecnologias sustentáveis, garantindo que as próximas gerações encontrem um mundo mais equilibrado e resiliente. A Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2025 será uma oportunidade única para reafirmarmos nosso compromisso com a inovação e a cooperação. Somente por meio da colaboração global, do incentivo à pesquisa e do desenvolvimento de soluções inteligentes, conseguiremos superar os desafios climáticos e promover um futuro mais sustentável para todos. Além disso, precisamos olhar com atenção para a formação dos jovens que herdarão o planeta.
*Henrique Soares é jornalista do campus Salvador
Fotos: Acervo Pessoal