Valor Econômico
Investidores da Petrobras, que viram suas ações saltarem 25% neste ano, agora enfrentam uma onda de rebaixamentos dos papéis, com analistas preocupados com os preços de combustíveis sendo negociados abaixo do mercado internacional e com o aumento de gastos. Eles temem que essas políticas corroam o que tem sido um dividendo multibilionário.
Citigroup Inc., HSBC Securities e JPMorgan Chase & Co. rebaixaram as ações na semana passada, descartando suas recomendações de compra, com preocupações relacionadas às mudanças feitas pela nova equipe que assumiu neste ano, após a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Analistas temem que a nova política de preços de combustíveis e o risco de uma retomada nos planos de investimento aumentem os níveis de endividamento. A Petrobras subsidiou combustíveis da última vez que o partido de Lula esteve no poder [no governo Dilma], trazendo à tona o fantasma de que a petrolífera vai queimar dinheiro mais uma vez para ajudar o país a manter a inflação sob controle.
O diretor financeiro, Sergio Caetano Leite, convidou analistas de sell-side no início desta semana para uma reunião pessoal para discutir as perspectivas da empresa, segundo pessoas familiarizadas com o assunto. Os preços dos combustíveis e os dividendos foram dois dos principais temas do encontro, que decorreu na manhã desta quinta-feira, disseram as pessoas, que pediram anonimato porque a informação não é pública. A reunião segue uma teleconferência de resultados na sexta-feira.
Representantes da Petrobras não responderam imediatamente a um pedido por email solicitando comentários sobre a reunião.
A Petrobras precisaria aumentar os preços do diesel em 36,2% e da gasolina em 24% para atingir a paridade de importação, de acordo com o provedor de serviços financeiros StoneX. A Petrobras disse que está priorizando a competitividade no mercado doméstico, em vez da paridade de importação em uma nova política de preços divulgada em maio.
“Agora estamos atentos a um aumento no capex [investimentos]”, o que aumenta as preocupações com os preços dos combustíveis e dividendos, escreveu a analista do HSBC Lilyanna Yang em um relatório, rebaixando as ações de ´compra´ para ´manter´. “Isso pode prejudicar as distribuições dos acionistas no curto prazo.”
A dissociação de preços traz “questões adicionais para o cenário futuro — principalmente sobre quem vai importar e abastecer a demanda doméstica com a atual janela de importação fechada”, escreveram analistas do Citi, liderados por Gabriel Barra em relatório, cortando a ação de ´comprar´ para ´neutro´.
No mês passado, a gigante petrolífera brasileira estabeleceu uma política mais conservadora para pagamentos aos acionistas, reduzindo os dividendos de 60% para 45% do fluxo de caixa livre. Lula criticou a empresa por inundar os investidores com dinheiro, em vez de gastar em projetos prioritários, como refinarias e energia renovável. A Petrobras distribuiu mais de R$ 190 bilhões em dividendos apenas no ano passado, mais do que qualquer outra empresa de petróleo, com exceção da Saudi Arabian Oil Co.
A empresa planeja destinar até 15% dos investimentos totais para projetos de baixo carbono que podem reduzir os retornos globais.
As ações preferenciais da Petrobras caíram quase 20% desde o pico em outubro, antes de Lula vencer a eleição. As ações ainda estão em alta de 25% neste ano, alguns investidores ainda veem vantagens nas ações, apesar dos dividendos mais baixos.