A difícil missão de vender carro elétrico no Brasil

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Valor Econômico

A Fiat anunciou ontem a previsão de a participação de modelos elétricos e híbridos nas vendas de veículos no Brasil poderá chegar a 11% em 2030. É um salto importante se levado em conta que hoje os dois tipos de motorização eletrificada – híbridos e 100% elétricos – representam fatia pequena, de 1,4% na média do ano, segundo dados da Anfavea, a associação dos fabricantes de veículos. Mas o avanço será ainda tímido se comparado com projeções dos países desenvolvidos, principalmente europeus, que já proibirão as vendas de veículos a combustão a partir de 2030. Ou antes.

Legislações europeias mais rígidas, como no Reino Unido e Holanda, proibirão motores a combustão por completo até o fim da década. Isso inclui o carro híbrido, que funciona com dois motores – um totalmente elétrico, que é carregado, em grande parte, pelo outro, a combustão.

Mas como não pensar em carros híbridos num país que ainda engatinha na instalação de infraestrutura para carregamento de baterias? Toyota e Volkswagen vão nessa direção, acreditando que o híbrido abastecido com etanol é o caminho para o Brasil ter papel relevante no desenvolvimento de energias limpas no transporte. Outras marcas, como Nissan, acreditam que é melhor pular etapas e ir direto para modelos 100% elétricos.

Embora ainda representem fatia pequena do mercado, as vendas de híbridos e elétricos avançam no Brasil. As duas modalidades somaram cerca de 14 mil unidades no primeiro semestre, aumento de 84% na comparação com o mesmo período de 2020, segundo a Associação Brasileira de Veículos Elétricos (ABVE).

A direção da ABVE aponta a expansão da demanda por vans e furgões elétricos, destinados, principalmente, a entregas urbanas e que seguem orientações da agenda ESG (práticas ambientais, sociais e de governança, na sigla em inglês).

Para a média dos consumidores brasileiros, no entanto, os preços desses veículos ainda são elevados. A Fiat lançou ontem a versão 100% elétrica do seu modelo compacto 500 por R$ 239,99 mil. O veículo entra na faixa dos puramente elétricos mais baratos do mercado. No caso dos híbridos, o preço mais baixo é o da linha nacional Corolla sedã, da Toyota, por R$ 166,5 mil.

Discute-se, ao mesmo tempo, se o consumidor que pode adquirir carros 100% elétricos não estaria com receio de ficar na mão por falta de infraestrutura para carregamento das baterias. Na falta de iniciativas governamentais para instalar estações públicas e criar políticas de cobrança da energia nesses locais, como se vê na Europa, a maior parte das marcas que vendem esses veículos no Brasil tem caprichado na instalação de pontos próprios de carregamento em locais como shoppings, estacionamentos, supermercados e até alguns corredores em rodovias.

O Fiat 500 lançado ontem é o primeiro carro 100% elétrico vendido no Brasil pela Stellantis, a nova montadora que uniu as marcas Fiat, Chrysler, Peugeot e Citroën. O chamado “Cinquecento” elétrico, que será importado da Itália, era um dos modelos mais aguardados pelo mercado. Trata-se de uma versão eletrificada do supercompacto criado em 1957. Desde então, passou por várias gerações, mas mantendo sempre um ar “vintage”.

O fabricante garante autonomia mínima de 320 quilômetros com uma carga de bateria. Mas, segundo os engenheiros da empresa, é possível chegar a 460 quilômetros dependendo da forma de dirigir. Isso significa não passar dos 60 quilômetros por hora numa temperatura não superior a 25 graus celsius.

O veículo poderá ser carregado em tomadas. Mas a Fiat oferece também o chamado “wallbox”, equipamento que permite carga completa em quatro horas. Para uma recarga “super rápida” é possível chegar a 80% de carga em 35 minutos. A empresa também espalhará estações de recarga em supermercados e estacionamentos em dez Estados.

Por se tratar de um carro silencioso a montadora colocou no Fiat 500 um sinal sonoro para alertar pedestres e ciclistas quando o veículo estiver próximo deles.

Segundo o responsável pela marca Fiat para a América Latina, Herlander Zola, o fato de o 500 ser conhecido do brasileiro antes de ter uma versão elétrica é uma vantagem para a marca. “É um carro já conhecido; a chegada de uma versão com proposta diferente vai atrair a legião de fãs”, afirma o executivo. A Fiat já vendeu 40 mil unidades da versão convencional do modelo 500 no país. Segundo Zola, com base na demanda pelo 500 a marca decidirá se lança outros carros elétricos no Brasil.

O modelo inglês Mini Cooper é mais um carro da linha retrô já conhecido pelos brasileiros e lançado também no formato elétrico. A mais nova versão chegou ao Brasil este mês pelo mesmo preço do Fiat 500: R$ 239,9 mil. Segundo o grupo BMW, dono da Mini, a versão elétrica representou 15% das vendas globais do modelo no primeiro semestre. O grupo alemão já anunciou a comercialização exclusiva de carros elétricos em todo o mundo a partir de 2030.

Aproveitando o isolamento social imposto pela pandemia, a Fiat lançou ontem à noite, pela internet, a pré-venda do seu lançamento. Com o pagamento de um sinal, via cartão de crédito, o interessado pôde reservar uma das 120 unidades do carro que chegará nas concessionárias a partir da próxima semana.

Segundo a Fiat, o custo de carregar as baterias do 500 elétrico equivale a 10% a 15% do que se gasta num similar a combustão. Há quem diga que essa época, em que vigora a tarifa vermelha, não seria o melhor momento para lançar um elétrico. Mas quem pode pagar por um carro como esse dificilmente tem a conta de luz entre as suas maiores preocupações.

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