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Money Times

Os analistas estão cautelosos com a ideia de se criar um fundo para subsidiar os combustíveis, cujos recursos sairiam do leilão dos campos de Sépia e Atapu, na Bacia de Santos. O governo acredita que pode arrecadar R$ 30 bilhões (cerca de US$ 5,5 bilhões) com o leilão. Os vencedores também deverão pagar mais US$ 6,5 bilhões à Petrobras (PETR3; PETR4), a título de reembolso.
Parte do dinheiro arrecadado permaneceria em um fundo, cujo objetivo seria conter a alta dos combustíveis nos momentos de pico dos preços internacionais ou do dólar. A ideia, em si, é vista com simpatia pelo mercado.
“A criação desse fundo pode ser muito positiva para a Petrobras”, afirmam Vicente Falanga e José Cataldo, em um breve comentário enviado aos clientes da Ágora Investimentos. “Levantar R$ 30 bilhões para apoiar esse fundo daria um colchão de R$ 0,75/litro para os preços do diesel na bomba (ou US$ 20/barril), o que é bastante significativo”, explicam.
O problema, contudo, é que a ideia depende de dois fatores críticos. O primeiro é o prazo. Segundo a Reuters, o Ministério de Minas e Energia prevê que o leilão de Sépia e Atapu só ocorra no quarto trimestre. Até lá, sem outra fonte de recursos para bancar o fundo, os consumidores continuarão arcando com a volatilidade dos preços dos combustíveis.
“Notamos que a alternativa proposta não produzirá soluções até o leilão dos barris excedentes dos campos de Atapu e Sépia ocorrer”, resume a XP Investimentos, em seu relatório desta sexta-feira (16).
Ovo dentro da galinha
O segundo ponto crítico é se o leilão será bem-sucedido. A XP lembra que, em novembro de 2019, o governo já tentou licitar os mesmos campos, sem que houvesse interessados. A gestora cita dois fatores para o fracasso naquela ocasião: os valores pedidos foram considerados muito altos (R$ 13,7 bilhões por Atapu e R$ 22,9 bilhões para Sépia); e havia dúvidas sobre como a Petrobras seria compensada – algo que já foi esclarecido desde então.
Além do histórico de fracasso em vender essas áreas, o mercado piorou de lá para cá, com o impacto da pandemia de coronavírus na economia. De um lado, o cenário dificulta a captação de recursos; de outro, a crise fiscal faz com que o governo busque o máximo de arrecadação com o leilão.
“Sépia e Atapu são campos menores, e o Ministério de Minas e Energia (MME) já decidiu que os vencedores deste leilão precisarão reembolsar a Petrobras em cerca de US$ 6,5 bilhões; portanto, levantar mais R$ 30 bilhões (US$ 5,5 bilhões) à vista pode ser extremamente desafiador”, sublinha a Ágora Investimentos.
Leilão sem interessados?
A Ágora acrescenta que, “dependendo das condições de pagamento, os retornos do leilão podem acabar sendo pouco atraentes e podem afastar quaisquer lances potenciais (a menos que seja feito pela própria Petrobras).”
Tantas incertezas reduzem bastante o otimismo dos analistas com a ideia de se criar um fundo para conter a alta dos combustíveis. Mesmo a Petrobras, que seria beneficiada pela proposta, não tem muito a ganhar neste momento.
“Não acreditamos que a notícia reduz a percepção de risco para a manutenção de uma política de preços de combustíveis alinhada com à paridade de importação, tendo em vista que há incertezas a respeito do sucesso das licitações destas áreas”, resume a XP Investimentos. A gestora manteve a recomendação de venda para as ações da Petrobras, com preço-alvo de R$ 24 tanto para PETR3, como para PETR4.
O movimento recente de queda nos combustíveis ocorre após a Petrobras ter reduzido por duas vezes seguidas os preços do diesel e da gasolina em suas refinarias– no final de março e no início deste mês.
Na quinta-feira, porém, a estatal comunicou um novo aumento, aplicado a partir desta sexta-feira.
Com o novo reajuste, o diesel da Petrobras passou a custar 2,76 reais por litro, enquanto a gasolina foi para 2,64 reais/litro. Os combustíveis acumulam altas na refinaria de 36% e 43,5% no ano, respectivamente.
A Petrobras defende que seus reajustes buscam seguir os valores de paridade internacional, influenciados por fatores como a cotação do petróleo no mercado externo e a taxa de câmbio.
Os preços nos postos, por outro lado, não acompanham necessariamente e de imediato os valores nas refinarias, e dependem de uma série de fatores, incluindo impostos, mistura de biocombustíveis e margens de distribuição.

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