Fronteira fechada não impede contrabando de gasolina do Brasil para a Venezuela

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O Globo

Com a fronteira entre o Brasil e a Venezuela fechada há seis meses na cidade de Pacaraima, em Roraima, por causa da pandemia da Covid-19, venezuelanos e brasileiros têm usado trilhas para cruzar a divisa. Uma das atividades na região é o contrabando de gás e gasolina, que escassearam no país vizinho por causa das sanções impostas no ano passado pelos EUA, que impedem o governo de Nicolás Maduro de comprar petróleo leve, essencial para o beneficiamento do petróleo pesado venezuelano.
Do posto militar brasileiro até a primeira cidade venezuelana depois da fronteira, Santa Elena de Uairén, são 15 quilômetros. O percurso em caminhos de terra fica difícil nesta época do ano, quando chove, e muito carros e motos com mercadorias atolam e quebram. Um botijão de 13 quilos de gás custa em média R$ 89 em Roraima. Em Santa Elena, chega a R$ 200, incluindo o frete. O litro da gasolina custa R$ 4,60 em Pacaraima; do outro lado, o preço chega a R$ 20.
Embora haja um posto de fiscalização do Exército em uma das estradas de terra e a Polícia Militar também ajude a apreender mercadorias quase diariamente, muitos conseguem ludibriar o controle.
Pacaraima foi a rota principal dos milhares de venezuelanos que chegaram ao Brasil a partir de 2018, quando a crise econômica e política se agravou em seu país, levando 5 milhões de pessoas a emigrar, segundo a ONU. Muitos deles, no entanto, foram para outros países sul-americanos ou voltaram para a Venezuela.
De acordo com os números oficiais da Operação Acolhida, comandada pelo Exército brasileiro, 41.146 venezuelanos que entraram por Roraima foram “interiorizados”, isto é, transferidos para outras regiões do país, a maioria deles para o Sul (16.407) e Sudeste (10.738).
A operação continua a atender pessoas que haviam entrado no Brasil antes do fechamento da fronteira e têm o documento de residência emitido pela Polícia Federal. Em 12 abrigos — 11 em Boa Vista e um em Pacaraima — estão abrigados atualmente 4.206 venezuelanos, à espera da realocação para outros estados. Há ainda duas ocupações em prédios abandonados na capital.
Vulneráveis
A irmã Telma Lage, do Centro de Migrações e Direitos Humanos da Diocese de Roraima, em Boa Vista, afirma que, com a pandemia, a situação de muitos venezuelanos piorou.
— Sabemos que a economia informal foi a mais atingida pelas medidas de isolamento. Muitas famílias que se encontram em maior vulnerabilidade. Com o fechamento da fronteira, muitos estão fora do radar da Operação Acolhida, principalmente nas periferias da cidade — disse ela.
Eudelina Magos, de 42 anos, chegou a Roraima há dois anos e está em um dos abrigos da Operação Acolhida em Boa Vista, após morar um ano em Pacaraima. Sua única garantia são as refeições diárias ali fornecidas.
— Eu era dona de uma loja de construção na Venezuela. A crise chegou e fali, não tinha comida. Aqui fui atrás de emprego, e não consegui. Trabalhei vendendo arepa [bolinho frito de milho] na rua, mas parei — conta Magos, que veio com o marido e quatro filhos de 7, 13,15 e 18 anos da cidade de Barcelona, capital do estado de Anzoátegui.
Mesmo sem trabalho, ela não quer voltar para Venezuela.
—Tenho ainda família que virá ao Brasil quando a fronteira abrir. As dificuldades são muitas muitas do outro lado. Não tem gás de cozinha, gasolina, arroz. Lenha e carvão são usados para preparar alguma comida — relata.
Karina Jose Fina, de 33 anos, era dona de uma lanchonete na Venezuela e está há três anos no Brasil, com um filho de 7 anos. Primeiro, morou de favor na casa de um brasileiro. Agora, afirma que paga aluguel com a venda de cascalho nas ruas de Boa Vista.
— É uma forma de colocar comida na mesa. Tentei emprego formal, mas não achei — contou Fina, cuja irmã veio junto com ela, mas acabou voltando para a Venezuela.
— Mas as coisas tinham piorado e, quando ela quis retornar, a fronteira já havia fechado. Hoje ela está em situação difícil, junto com meu outro irmão. Estão esperando a fronteira abrir para vir — afirmou.

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