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Fonte: Valor Econômico

A Ipiranga, braço de distribuição do Grupo Ultra, vê pela frente um aumento da competição no mercado brasileiro nos próximos anos, à medida em que a quebra do monopólio da Petrobras no refino atraia novos agentes para o setor de combustíveis. O presidente da companhia, Marcelo Araújo, conta que tem feito o seu “dever de casa”, na busca por cortes de custos para tornar a empresa mais eficiente. Ao mesmo tempo, espera ampliar investimentos em infraestrutura logística de forma “bastante significativa” para se posicionar num setor em transformação.
Em entrevista exclusiva ao Valor, o executivo afirma que o momento de mudanças definirá que empresas serão as líderes de mercado daqui a dez anos. A Ipiranga promete reforçar os investimentos em infraestrutura – que tem respondido por entre 20% e 25% de seu orçamento. “A distribuição é, essencialmente, um negócio de logística. A infraestrutura é o que faz o negócio competitivo”, disse.
A Ipiranga não detalha os investimentos futuros. O plano de 2020 previa aportes de R$ 837 milhões, em todas as suas áreas de negócios da distribuidora, mas o Ultra fez em abril um corte geral de 30% no orçamento do grupo. A empresa esclareceu, porém, que os projetos prioritários de infraestrutura foram mantidos.
Araújo conta que a expectativa para 2021 é dobrar o orçamento da área, em relação a 2020. Parte das expectativas da ampliação reflete os compromissos assumidos nos leilões de terminais portuários dos últimos anos. O ritmo das obras previstas para 2020 foi afetado pela pandemia de covid-19.
A empresa mira investimentos não só em novos terminais, mas também em ferrovias e dutos. Para Araújo, a medida em que o mercado se consolide, a tendência é que os grandes projetos de infraestrutura ocorram por meio de parcerias, a exemplo do modelo da Logum Logística – empresa formada pela Petrobras, Raízen, Copersucar e Uniduto e que opera uma malha de etanolduto em São Paulo.
“O Brasil, agora, vai começar a ficar mais parecido com os mercados desenvolvidos, onde as distribuidoras investem na sua própria logística. Esse é um dos benefícios desse desmonte do monopólio do refino, porque as refinarias, distribuidoras e os produtores de biocombustíveis também vão começar a se associar para fazer investimentos”, disse o comandante da Ipiranga, dona de uma rede de 7,1 mil postos e cerca de 70 bases.
Araújo diz que o interesse de investidores em grandes projetos, como dutos e ferrovias, porém, passa pela necessidade de melhorias no ambiente de negócios, sobretudo no modelo tributário, para inibir o problema recorrente no setor de sonegação fiscal.
“Enquanto o modelo tributário brasileiro não avançar, fica muito restrito [o interesse]”, comentou Araújo, que defende a simplificação da tributação a partir da cobrança monofásica no produtor de combustíveis. Ele é a favor também de um mercado de biocombustíveis com “menos amarras” e defende o fim dos leilões de biodiesel e barreiras à importação de etanol, por exemplo.
Araújo tem pela frente a missão de recolocar a Ipiranga na rota histórica de crescimento. A empresa é o principal ativo do Grupo Ultra, responsável por 84% da receita líquida do grupo – que em 2019 foi de R$ 89,3 bilhões. Nos últimos anos, a distribuidora viu as margens se achatarem. Dos patamares acima de R$ 130 o metro cúbico (m3), a margem Ebitda da companhia recuou para R$ 87 em 2018. O resultado melhorou ligeiramente, para R$ 95/m3, no ano passado, mas a crise da covid-19 interrompeu a trajetória e a margem despencou para R$ 39/m3 no segundo trimestre de 2020. Com resultados abaixo do esperado pelo mercado, a companhia entrou na lupa dos analistas e investidores.
Nesse contexto, a empresa aposta em um programa de redução de despesas, iniciado em 2018 e que deve se estender até 2022. A iniciativa já cortou R$ 200 milhões anuais de custos recorrentes da companhia. “Isso vai nos deixar mais competitivos para que possamos fazer frente a essa competição maior, com as distribuidoras regionais se fortalecendo”.
Araújo acredita também que a abertura do mercado de refino pode trazer melhores condições comerciais para a empresa. Hoje, a Petrobras, enquanto agente dominante, trata todas as distribuidoras de forma igualitária na hora de assinar seus contratos. Segundo ele, empresas como a Ipiranga – segunda maior distribuidora do país em volume de vendas – terão condições de assumir compromissos de longo prazo e, assim, obter melhores condições contratuais.
“Estamos falando de pequenos descontos que num volume muito grande fazem bastante diferença. Certamente as grandes empresas preparadas para assumirem compromissos de longo prazo e que tiverem infraestrutura poderão se beneficiar”, comentou.
Sobre o interesse nas refinarias à venda pela Petrobras, Araújo disse que “este é um assunto para o Grupo Ultra”, controlador da empresa. “Somos uma distribuidora, vamos continuar a negociar com todos os refinadores”, respondeu.
Araújo acredita que a abertura do refino levará também a uma consolidação do setor de distribuição. A expectativa é que haja fusões e aquisições entre pequenos distribuidores interessados em ganhar escala para negociar com os novos refinadores.
Segundo ele, contudo, a Ipiranga não deve ser um grande ator nas futuras aquisições e fusões. “Nas regiões onde já somos mais concentrados vamos ter dificuldade de balizar esse crescimento inorgânico, por questões concorrenciais”, disse Araújo.
Em 2017, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) barrou a compra, pela Ipiranga, da Alesat – que acabou vendida para a suíça Glencore.
A entrada de novos players no setor, a partir de 2018, registrou a compra de 30% da TT Work, dona da Petronac, pela chinesa CNPC, e da rede Zema, de Minas Gerais, pela francesa Total. “Minha vida vai ficar muito mais complicada, mas isso é bom, inclusive para a Ipiranga, que vai terá de ser cada vez mais eficiente”, afirmou Araújo.
O executivo traçou também as suas perspectivas de retomada das vendas. O consumo de combustíveis do ciclo otto – veículos leves que rodam a gasolina e/ou etanol – só deve retornar aos níveis pré-pandemia em meados de 2021. “Houve um período inicial com queda de 50% a 60% de demanda, mas hoje estamos cerca de 8% abaixo do período pré-covid e acreditamos que no quarto trimestre estaremos em torno de 5%”, afirmou.
No caso do diesel, porém, desde junho a demanda já dá sinais de recuperação, devido, principalmente, à agroindústria. “Para nós, o diesel teve uma curva [de retomada] em V”, comenta.

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