Petrobras prevê produção menor ao divulgar novo plano estratégico

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Valor Online

Ao anunciar ontem a redução das metas de produção de petróleo e gás para os próximos anos, a Petrobras confirmou algo que o mercado esperava. Porém, a magnitude do corte frustrou parte dos investidores pois foi maior do que o esperado. O plano de negócios 2021-2025 prevê produção de 2,75 milhões de barris de óleo equivalente por dia (boe/dia) em 2021 e de 3,3 milhões de barris em 2024, queda de 5,7% em relação ao objetivo do plano anterior, que era de 3,5 milhões de barris por dia.
A menor expectativa de produção é resultado da venda de campos de óleo e gás e também dos impactos da pandemia, que levaram a Petrobras a interromper a produção em águas rasas este ano em um cenário de queda de preços. A empresa também adiou para 2021 parte das paradas de produção para manutenção de plataformas que estavam inicialmente previstas para este ano. É o primeiro plano estratégico apresentado pela estatal depois da eclosão da pandemia, em março deste ano.
O mercado recebeu mal o anúncio. Na bolsa de valores (B3), a ação preferencial caiu 1,64%, para R$ 25,82, enquanto a ação ordinária recuou 1,54%. Embora já esperassem redução do volume a ser investido, investidores não contavam com a magnitude do corte.
“O movimento é forma natural da companhia ajustar a produção diante da assunção de um cenário mais complexo”, disse o analista da Ativa Investimentos, Ilan Arbetman. Em relatório, o UBS foi um dos bancos que consideraram decepcionante a meta anunciada pela Petrobras. “A produção veio mais baixa do que a esperada”, disse o analista Luiz Carvalho. O Credit Suisse foi na mesma linha: “A produção é o tópico mais polêmico do plano.” Os analistas do banco avaliaram que o motivo para a produção ficar abaixo da esperada está relacionado ao impacto dos desinvestimentos na curva de produção e ao adiamento de paradas para manutenção de 2020 para 2021 em função da pandemia.
Ao definir uma meta de produção menor para os próximos cinco anos, a Petrobras também anunciou a redução nos investimentos. O plano prevê desembolsos de US$ 55 bilhões até 2025, queda de 27,3% em relação aos US$ 75,7 bilhões do planejamento anterior que abrangia o período 2020-2024.
O foco continua nas atividades de exploração e produção, que vão receber 84% do valor total no período. No entanto, os investimentos previstos para exploração e produção agora são de US$ 46,6 bilhões até 2025, frente aos US$ 64,3 bilhões previstos no plano anterior. Ao todo, 70% do valor vai para o pré-sal, que receberá US$ 32 bilhões em investimentos nos cinco anos do plano.
Mesmo centrada em investimentos no pré-sal e em águas profundas, a petroleira deve deixar de lado ativos com este perfil que sejam mais complexos ou que tenham maiores custos de produção. A estatal vai manter em seu portfólio apenas ativos rentáveis a um preço de barril de até US$ 35. De acordo com o presidente do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires, a maior seletividade nos investimentos é uma tendência de toda a indústria do petróleo nos próximos anos: “A Petrobras está na direção de se tornar uma empresa mais enxuta, mas mais lucrativa”, disse o consultor.
Por outro lado, há receio sobre os impactos da menor produção na extração nacional de petróleo nos próximos anos, já que a estatal é a maior produtora do país. “A produção nacional deve ter um crescimento lento em função da estratégia da Petrobras no médio prazo. Não acredito que nos próximos quatro anos as petroleiras privadas vão ter um papel muito relevante na extração nacional”, afirmou o coordenador do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo (Ineep), Rodrigo Leão.
A produção pode ser ainda menor, uma vez que as metas divulgadas não incluem o desinvestimento ocorrido no campo de Baúna e as vendas de outros campos que ainda vão ocorrer em 2020. Além disso, como a empresa não divulgou o novo cronograma para a entrada de novas plataformas em produção, ainda não é possível especificar quais ativos têm impacto na menor curva de produção.
Analistas do Itaú BBA chamam atenção para o fato de que a maior parte da diferença na produção em relação ao plano anterior está concentrada em 2022, o que sugere que as plataformas previstas para os campos de Mero e Sépia, na Bacia de Santos, podem ter sido postergadas. Especialistas esperam que mais detalhes sejam divulgados na segunda-feira, nas apresentações aos investidores programadas no Petrobras Day. O evento, que tradicionalmente reúne investidores da estatal na Bolsa de Nova York, será virtual.
A expectativa é que a nova meta de desinvestimentos também seja anunciada na semana que vem. A meta até agora conhecida prevê a venda de ativos por US$ 20 bilhões a US$ 30 bilhões de 2020-2024. Mas em nove meses deste ano a empresa vendeu US$ 1 bilhão. A venda de ativos é parte crucial da atual estratégia da Petrobras, focada em reduzir o endividamento.
A estatal tem como meta reduzir a dívida bruta de US$ 79,6 bilhões ao final de setembro para US$ 67 bilhões em 2021 e US$ 60 bilhões em 2022. A redução abre espaço para elevar a remuneração aos acionistas. A política de remuneração foi atualizada, com previsão de fazer pagamentos extraordinários, acima do mínimo legal obrigatório, quando a dívida bruta cair para menos de US$ 60 bilhões.
Os novos objetivos seguem em linha com os anunciados nos últimos anos. “O novo plano de negócios reforça o comprometimento da Petrobras com a geração de caixa e o foco nos ativos mais competitivos”, disse o JP Morgan, em relatório. Para o Bank of America, a decepção com menores metas de produção é compensada pelo maior foco nos retornos e redução de endividamento, além do potencial de maior pagamento de dividendos no médio prazo.

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