Volume de petróleo processado na Petrobras é o menor desde 2010

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Fonte: O Globo
Com a crise e uma maior importação de combustíveis, o volume de petróleo refinado pela Petrobras caiu ao menor patamar desde 2010. A crise econômica e a maior concorrência na venda de combustíveis levaram o país a amargar o maior recuo no processamento de petróleo em suas refinarias dos últimos seis anos. De acordo com dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP), o volume refinado chegou a 670,068 milhões de barris no ano passado, uma queda de 7,5% em relação a 2015. Trata-se do menor patamar desde 2010, quando foram refinados 661,838 milhões de barris.
O Brasil conta hoje com 17 refinarias. Desse total, a Petrobras é dona de 13 unidades, que, juntas, respondem por 98% do petróleo refinado no Brasil, diz a ANP. A refinaria tem papel essencial na cadeia: assim que o petróleo é extraído do subsolo, ele é levado para uma refinaria, onde será processado e transformado em combustíveis, como gasolina, diesel, entre outros.
Parte do recuo do refino está atrelado ao aumento das importações de combustíveis pelos concorrentes da Petrobras. Esse avanço ocorreu porque a estatal manteve, por boa parte do ano passado, os preços de gasolina e diesel mais elevados no Brasil em relação ao mercado internacional. Como consequência, essas empresas optaram por trazer o combustível do exterior do que comprar da Petrobras. Assim, a importação da gasolina subiu 18,5%, e a do diesel teve alta de 14,1%, mostra a ANP.
— A queda da demanda no Brasil e os preços elevados da Petrobras afetaram o volume de refino no Brasil. Foi só com a nova gestão da Petrobras, liderada por Pedro Parente, que a companhia decidiu baixar os preços, em outubro, dentro da criação de uma nova política de preços. Mas, como a economia ainda não dá sinais de crescimento, não há perspectiva de aumento do volume processado. Ou se aumentar será pouco — explicou o economista Alfredo Renault, professor da PUC-RJ.
Segundo dados do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), o preço médio da gasolina nas refinarias nacionais ficou, em média, 22,1% acima, em 2016, do preço no Golfo do México, usado como referência internacional. Já o preço médio do óleo diesel nas refinarias nacionais ficou, em média, 39,9% acima do preço no exterior. Neste início de ano, até o dia 23, o valor da gasolina vendida no Brasil estava 15,9% mais alto que lá fora, assim como o diesel, que tinha valor 31,8% maior, destacou o CBIE.
David Zylbersztajn, ex-diretor-geral da ANP, destacou que as empresas, ao longo do ano passado, se organizaram e decidiram importar diretamente, criando, segundo ele, uma concorrência inédita para a Petrobras. Outro efeito colateral para a estatal foi a perda de participação de mercado. Segundo a ANP e o Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis (Sindicom), a fatia da BR nas vendas de gasolina passou de 27,7%, em 2015, para 25,6%, em 2016 (até outubro). No caso do diesel, o recuo foi de 37,23% para 33,6% no mesmo período.
— O que essas empresas passaram a importar foi o que a Petrobras deixou de vender. A Petrobras passou o ano passado inteiro com os preços acima do mercado internacional, como forma de fazer caixa, mas isso criou reflexos na concorrência. E aí baixou o preço para recuperar terreno — disse Zylbersztajn.

PROCESSO EM REFINARIA SOFRE ADEQUAÇÃO Dessa forma, os números da Petrobras também apontam maior capacidade ociosa no conjunto de suas refinarias. O chamado “fator de utilização do parque de refino” nacional caiu de 90%, nos nove primeiros meses do ano passado, para 83%, no mesmo período deste ano. A estatal também apontou recuo de 8% nas vendas de derivados entre janeiro e setembro do ano passado frente ao ano anterior, chegando a 2,084 milhões de barris por dia. Somente o diesel teve queda de 13%, e a gasolina registrou retração de 1%.
Segundo a Petrobras, o mercado de combustíveis no ano passado “foi impactado pelo nível de atividade econômica do país e apresentou crescimento das importações por outros fornecedores”. A estatal disse, ainda, que “o processamento das refinarias da Petrobras foi adequado a este cenário de forma a otimizar os resultados da companhia através da melhor combinação de preços e participação de mercado”. A Petrobras destacou que a “política de preços aprovada em outubro de 2016 é um dos mecanismos utilizados para essa otimização de resultados”.
Para o professor da Fundação Dom Cabral Cláudio Pinho, o fenômeno das importações de derivados por outros agentes, que não a Petrobras, não deixa de ser positivo, pois trouxe competição ao setor, então dominado pela estatal.
— É uma importação de momento, mas, de certa forma, é bom porque dá um pouco de competitividade ao mercado — destacou Pinho.
Analistas lembraram ainda que a redução no consumo ocorre no momento em que o Brasil passava por uma ampliação de sua capacidade de refino. Após mais de 20 anos sem expansão, a Petrobras inaugurou, no fim de 2014, a Refinaria Abreu e Lima (Rnest), em Pernambuco. O projeto nasceu em meados dos anos 2000, quando, na gestão de José Sérgio Gabrielli, a estatal decidiu construir refinarias para atender a demanda doméstica e tornar o país exportador. Foi assim que a companhia planejou o Complexo Petroquímico do Rio (Comperj), em Itaboraí, além das refinarias Premium I e Premium II, no Maranhão e no Ceará, respectivamente. Porém, todos esses projetos foram envolvidos no caso de corrupção descoberto pela Operação Lava-Jato.
Outro ponto levantado por especialistas é o fato de a Petrobras estar buscando sócios para suas refinarias. Pinho destacou que o anúncio de uma nova política de preços para os combustíveis ainda não é suficiente para permitir a entrada de investidores privados no setor de refino. Para a atração de parceiros e investidores no setor petrolífero, especialmente na área de refino, a Petrobras precisa ter uma política de preços dos combustíveis mais clara do que a atual, ressaltou Pinho:
— A política de preços precisa ser mais clara, definindo estratégias de longo prazo, com o escalonamento dos objetivos a serem cumpridos, de modo que o mercado possa ter mais confiança. Sem isso, como garantir que, no futuro, o governo não volte a determinar que a companhia segure os preços dos combustíveis para conter a inflação? E como um investidor vai se programar no longo prazo com essas incertezas, é muito difícil.

ANP DEFENDE A CONSTRUÇÃO DE NOVAS UNIDADES O diretor-geral da ANP, Décio Oddone, destacou a importância da entrada de outros agentes no setor de refino a partir deste momento em que crescem as importações de derivados, e, no futuro, com possíveis parcerias com a estatal. Para ele, o próximo passo será atrair mais investimentos.
— Se a Petrobras trouxer parceiros para o refino, pode-se imaginar lá na frente um setor de dowstream (distribuição) mais dinâmico. E isso já se tem visto com o aumento da importação por terceiros que estão entrando também. Lá na frente, ter parceiros privados no refino e importação significa que os sinais de preços serão de mercado — destacou Oddone.
O diretor-geral da ANP está convicto de que, no horizonte até 2020, o Brasil se tornará um importante exportador de petróleo. O passo seguinte, segundo ele, será voltar a discutir a construção de novas refinarias no país:
— O Brasil vai ser um exportador relevante de petróleo nos próximos anos com o aumento da produção. Hoje, a gente exporta petróleo e importa derivados. A venda de ativos, a nova política de preços e o equacionamento da dívida colocaram novamente a Petrobras em lua de mel com o mercado financeiro. Embalada pela alta de quase 100% no valor de suas ações desde que Pedro Parente assumiu o comando da companhia, em junho, a estatal pode ter melhora em seu risco de crédito neste ano. É que a agência de classificação de risco Standard & Poor’s (S&P) pode revisar positivamente a nota (rating) da Petrobras nos próximos meses. Será a segunda alteração positiva, já que, em outubro, a Moody’s reavaliou o rating da estatal. A melhora permitiria que a companhia captasse recursos a taxas de juros mais atraentes.
Mesmo assim, a companhia ainda está bem longe do almejado grau de investimento, título que a estatal perdeu em 2015 em meio aos escândalos de corrupção revelados pela Operação Lava-Jato, da Polícia Federal (PF), e do rebaixamento da nota do Brasil, que também perdeu o selo de bom pagador. Apesar das mudanças favoráveis nos últimos meses, as próprias agências de classificação de risco admitem que a estatal ainda tem uma série de desafios, como os processos judiciais em curso em Nova York, nos Estados Unidos.
Segundo Renata Lotfi, analista de ratings da S&P Global Ratings, as melhoras verificadas na atual gestão da companhia podem levar a agência a revisar a nota da Petrobras. A última revisão feita pela S&P ocorreu em julho do ano passado, quando manteve o B+ com perspectiva negativa. Renata cita o foco em rentabilidade e a venda de ativos, como forma de reduzir o nível de endividamento, atualmente de US$ 122,7 bilhões. O endividamento total em reais chega a R$ 398,2 bilhões (em dados até setembro).
— Poderíamos revisar positivamente nos próximos meses o perfil de crédito individual da Petrobras, e, se o rating soberano do Brasil não cair, o rating final da Petrobras pode subir. Hoje, a perspectiva negativa da Petrobras reflete o rating do Brasil — disse Renata. POLÍTICA DE PREÇO É DESAFIO Mas há desafios. Nymia Almeida, analista sênior da Moody’s, cita o desdobramento das ações judiciais em Nova York, que, segundo ela, representa “uma nuvem carregada” sobre a companhia. Ela diz que o total das multas é uma incógnita, sem precedentes. A elevação da nota em outubro do ano passado, diz, já incorporou várias mudanças promovidas por Parente:
— Chegamos a pesquisar outros casos para ter uma estimativa de impacto dessas ações, mas não conseguimos. Esse é o pior dos casos. Uma decisão pode ser negativa para a empresa. Hoje, o outlook da companhia é estável e tem uma duração de 12 a 18 meses. A expectativa é que, hoje, a nota da companhia não mude. Espero que a nota continue igual, a não ser essa variante da multa, que pode tirar a nota da empresa, dependendo do que vier.
Ela lista ainda outros desafios, como a própria política de preços da estatal, anunciada em outubro do ano passado. Nymia ressaltou que a empresa precisa saber até que ponto reajustar o preço dos combustíveis no Brasil em relação ao mercado externo não implica perder participação de mercado no país:
— A Petrobras precisa manter o volume do refino, pois há muita concorrência.
A Fitch, diz Lucas Aristizabal, analista que acompanha a Petrobras na agência, afirma que a companhia vem trabalhando para fortalecer suas finanças, com o progresso na venda de ativos até o momento. Para a agência, o maior desafio é a redução da dívida da petrolífera. Para ele, a meta da estatal é reduzi-la em US$ 50 bilhões até 2018:
— Embora improvável no curto e médio prazos, uma elevação de rating para o Brasil poderia levar a uma elevação para a Petrobras. É improvável o rating da Petrobras subir independentemente de uma ação positiva do rating soberano.
Analistas ouvidos pelo GLOBO foram unânimes em afirmar que os resultados operacionais e financeiros da Petrobras já são suficientes para as agências de risco melhorarem as notas da estatal.
Rogério Storelli, gestor da GGR Investimentos, destaca que é fundamental vender ativos como a Braskem e buscar sócios para a BR. Outro ponto essencial é a empresa continuar mostrando independência em sua política de preços dos combustíveis em relação ao governo federal.
Antônio Junqueira, analista do BTG Pactual, destacou que os resultados da companhia já são suficientes para melhoria de suas notas de risco:
— A empresa tem feito sua parte para ter sua nota de risco melhorada. As variáveis mais importantes para as agências de risco são a venda de ativos e a política de preços, junto com o câmbio favorável e o aumento do preço do petróleo.
Roberta Santiago, assessora comercial da FN Capital, prevê melhora relevante a partir de 2019:
— A Petrobras está focando seus investimentos em exploração e produção, com perspectivas de aumento de receita.

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