Para manter confiança do acionista, Shell precisa encolher em 2017

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Fonte: Brasil Agro

A petrolífera anglo-holandesa se tornou bem maior em fevereiro de 2016, com a compra da BG Group PLC, um negócio de cerca de US$ 50 bilhões que lhe deu uma posição dominante no setor de gás natural liquefeito (GNL), incluindo alguns dos campos em alto mar mais valiosos do mundo, localizados na costa brasileira. Mas a aquisição também deixou a companhia com dívidas gigantescas — que somavam US$78 bilhões ao fim do terceiro trimestre, volume maior que o de concorrentes como a americana Exxon Mobil Corp.
A companhia procurou convencer investidores e analistas quanto ao valor do negócio com a BG prometendo que iria se desfazer de US$ 30 bilhões em ativos entre 2016 e 2018. Isso não só ajudaria a Shell a reduzir seu endividamento, como também permitiria que ela se desfizesse de alguns ativos não muito apreciados e, assim, fortalecer a confiança de que a empresa continuará pagando dividendos e terá dinheiro para realizar um programa de recompra de ações que poderia ter início ainda este ano.
Mas, em 2016, a Shell anunciou detalhes sobre a venda de ativos no valor de apenas cerca de US$ 5 bilhões — menos que o montante entre US$ 6 bilhões e US$ 8 bilhões que ela chegou a anunciar que alcançaria no ano passado. Em novembro, o diretor financeiro da Shell, Simon Henry, disse que a empresa esperava cumprir essa meta.
A Shell não quis comentar. A empresa afirmou que provavelmente concluirá seu programa de desinvestimento e que está mais preocupada em garantir que obterá um bom preço pelos ativos que pretende vender.
Fechar mais negócios é algo crucial para a Shell conseguir manter a confiança de seus acionistas quanto à sua capacidade de continuar pagando dividendos e de reduzir seu nível de endividamento. A sua relação entre dívida e patrimônio é de 29%, mais alta do que a das suas principais rivais: Exxon, Chevron Corp., BP PLC e Total SA.
“A elevada dívida líquida da Shell e seu lento progresso em relação aos desinvestimentos são as principais preocupações recentes para os investidores, com a visão de que [isso] continua sendo o maior risco para um corte nos dividendos”, afirmou em nota a firma de pesquisa e investimentos americana Sanford C. Bernstein.
O ritmo de negócios no setor petrolífero foi fraco no ano passado, quando os preços do barril de petróleo ficaram abaixo dos US$ 45 na maior parte do tempo. Agora que o barril do tipo Brent, referência internacional, está em torno de US$ 56, há esperanças entre os investidores e analistas de que a Shell possa começar a vender os ativos dos quais deseja se desafazer por um preço justo.
“Este é um plano de três anos e nós estamos começando a ver o preço do petróleo se recuperar, o que é positivo”, diz Simon Gergel, diretor de investimentos em ações para o Reino Unido da Allianz Global Investors.
Os negócios no setor parecem estar ganhando força, com a BP tendo anunciado vários acordos no mês passado.
A própria Shell passou por uma onda de negociações no fim de 2016, tendo anunciado a conclusão da complexa venda da sua participação na joint venture de uma refinaria japonesa por US$ 1,4 bilhão e um acordo para se desfazer do seu negócio de querosene de aviação na Austrália por US$ 250 milhões.
A conclusão desses negócios é algo positivo, mas ainda fica bem aquém da meta de desinvestimentos entre US$ 6 bilhões e US$ 8 bilhões definida para 2016.
A companhia tem afirmado que já está trabalhando na venda de 16 ativos com valor de mais de US$ 500 milhões e que espera concluir algumas dessas negociações no início deste ano.
Isso provavelmente deve incluir um pacote de campos de petróleo no Mar do Norte avaliado em cerca de US$ 3 bilhões e ativos no Gabão no valor de quase US$ 1 bilhão, de acordo com uma pessoa a par do assunto.
A Shell está revendo se vai mesmo vender suas operações na Nova Zelândia e na Tailândia, assim como em outros lugares. No Iraque, a empresa está negociando a venda da sua fatia no campo Qurna-Oeste para um consórcio japonês, segundo pessoas a par do tema.
Muitos dos ativos que a Shell vendeu no ano passado eram das divisões de refinaria e marketing, que tem se mostrado mais resistentes à queda nos preços do petróleo e uma área mais fácil para fechar negócios.
Mas as negociações com ativos de exploração e produção têm enfrentado mais obstáculos e podem continuar assim mesmo se a cotação do barril do petróleo ficar este ano entre US$ 55 e US$ 60 — o que equivaleria a um valor 20% mais alto que a média do ano passado.
No setor de petróleo, em muitos casos, compradores e vendedores ainda estão enfrentando dificuldade para encontrar um ponto de equilíbrio no valor dos ativos, de acordo com analistas. Iain Reid, analista sênior de petróleo e gás da firma de investimentos australiana Macquarie, diz que a Shell parece determinada a vender os ativos a um preço definido por ela, o que pode fazer com que os planos de desinvestimentos continuem além de 2018. “A Shell não está preparada para fazer sacrifícios demais”, diz (The Wall Street Journal, 4/1/17)

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