Petrobras capta R$ 5 bi com IPO da BR Distribuidora

Investidores oferecem preço mínimo por ações da BR Distribuidora
14/12/2017
Petrobrás coloca R$ 5 bilhões no caixa com IPO da BR Distribuidora
14/12/2017
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Fonte: Valor Econômico

A Petrobras deve levantar R$ 5,02 bilhões com a venda de 29% das ações da BR Distribuidora em oferta pública de ações definida ontem, incluindo o lote suplementar. Cada ação da distribuidora de combustíveis, que reestreia na B3 no dia 15, será vendida a R$ 15, no piso da faixa indicativa de preço, que ia até R$ 19. No cenário mais otimista, a operação teria movimentado R$ 7,47 bilhões.

A venda de R$ 4,36 bilhões já foi assegurada. E outros R$ 655 milhões se referem ao lote extra que pode ser vendido pelos bancos coordenadores da operação nos próximos dias, no período de estabilização de preço. Apesar de ter saído no piso, o volume deve tornar essa a maior abertura de capital realizada na bolsa brasileira desde 2013. A oferta atraiu uma demanda dos investidores de 2,5 vezes a quantidade de ações colocadas à venda, sendo 70% de estrangeiros e 10% do varejo, segundo o Valor apurou.

A BR acabou vendida com desconto em relação aos competidores, algo comum entre companhias estatais. Contudo, também pesou para a menor avaliação da empresa o fato de os investidores saberem que a Petrobras precisava vender o ativo para cumprir seu plano de desinvestimentos.

O preço por ação deixa a BR avaliada em R$ 21,3 bilhões pelo critério de valor de empresa – que inclui na conta a dívida financeira líquida de R$ 3,9 bilhões.

Esse número equivale a 7,1 vezes o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) da BR nos últimos 12 meses, que somou R$ 3 bilhões.

O múltiplo, conhecido como EV/Ebtida, representa um desconto de 38% na comparação com o da Ultrapar, dona da Ipiranga, que tinha valor de empresa de R$ 47,4 bilhões ontem, equivalente a 11,5 vezes seu Ebitda nos últimos 12 meses.

Os R$ 5 bilhões da oferta, descontados os custos e comissões dos bancos, são recursos que vão para o caixa da Petrobras com a venda de parte de suas ações na distribuidora. A BR Distribuidora faz parte do rol de ativos que a Petrobras colocou à venda dentro do seu programa de desinvestimentos, com o qual pretende alcançar US$ 21 bilhões entre este ano e 2018.

Para a Petrobras, porém, não é só esse dinheiro que está na conta com a separação e venda parcial da subsidiária. A companhia também tem a expectativa de que a BR Distribuidora se valorize na bolsa de valores daqui para a frente, o que fará com que a Petrobras seja dona de um ativo mais valioso.

O risco de ingerência política, embora aparentemente sanado no momento, permeou toda a oferta, dado que não há controle sobre o direcionamento que futuros governos possam querer dar para a companhia estatal. No passado, por exemplo, ela perdeu bilhões de reais com a inadimplência na venda de combustíveis para distribuidoras de energia na região Norte.

Para atrair investidores para a BR Distribuidora, a Petrobras introduziu na companhia uma série de mudanças na governança corporativa com o objetivo de protegê-la de eventuais abusos do controlador no futuro.

Entre as novas regras do estatuto social da BR Distribuidora está a previsão de que pelo menos metade das dez vagas do conselho de administração seja ocupada por integrantes independentes – ou seja, por pessoas que não tenham outro cargo na própria companhia ou relação direta com a Petrobras ou com a União.

Esse percentual de integrantes independentes supera o mínimo de 20% exigido pelo regulamento do Novo Mercado, segmento especial de governança corporativa no qual a BR Distribuidora estará listada.

A companhia também passará a ter um comitê de minoritários para fazer a análise prévia de transações entre a BR Distribuidora e partes relacionadas, como a Petrobras e a União.

A gestão do dia a dia da companhia também passou por mudanças. Depois de um processo de recrutamento conduzido pela Korn Ferry, a BR Distribuidora contratou um novo diretor financeiro. Em agosto, Rafael Grisolia, com 20 anos de experiência no setor de combustíveis, com passagens por empresas como Esso e Cosan Combustíveis, foi eleito para o cargo.

Nas apresentações a investidores, o principal garoto-propaganda da BR foi Ivan Monteiro, diretor financeiro e de relações com investidores da Petrobras. Além da distribuidora, Monteiro esteve à frente de outro IPO gigante, o da BB Seguridade, que movimentou R$ 11,5 bilhões em 2013. À época, ele era vice-presidente financeiro do Banco do Brasil.

Segundo uma fonte disse ao Valor, uma leitura que se procurou enfatizar na conversa com investidores é que os números antigos da BR são de uma gestão ineficiente e que também vinha sofrendo as consequências da indefinição dos últimos anos, que chegou a envolver um plano abortado de venda de controle. Conforme o relato, contratos de comerciais de prazo maior vinham sendo evitados.

Uma gestão melhor poderia aproximar a margem operacional da BR, hoje de 3,5% sobre a receita líquida, da obtida pelas concorrentes Ipiranga e Raízen, que varia entre 4% e 5%.

Em artigo recente, Arminio Fraga, ex-presidente do Banco Central, e Marcos Pinto, ex-diretor da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), ambos sócios da Gávea, criticaram o modelo da oferta da BR na condição de empresa de economia mista. “O governo está lançando uma oferta pública, que será subscrita pelo mercado com um significativo desconto, enquanto o controle da companhia continuará pertencendo à União, com todos os problemas que isso acarreta.”

O consórcio de bancos que coordenou a oferta foi formado por Citi, Bank of America Merrill Lynch, BB Investimentos, Bradesco BBI, Itaú BBA, J.P. Morgan, Morgan Stanley e Santander. Eles devem repartir uma comissão próxima de R$ 100 milhões.

 

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