Petroleiras devem reduzir investimentos em 30% por coronavírus e queda no preço do petróleo

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Fonte: O Globo

Com o barril de petróleo abaixo de US$ 30, junto com a queda sem precedentes no consumo e o cenário de recessão global por causa da pandemia do novo coronavírus, petroleiras estão revendo seus planos de negócios para se adequarem à nova realidade de preços e demanda. De acordo com a consultoria Wood Mackenzie, as empresas petrolíferas irão cortar em cerca de 30% os investimentos em exploração e produção da commodity neste ano, estimados em US$ 75 bilhões.
Projeções internacionais apontam para uma queda no consumo global de petróleo da ordem de 10%. Do lado da produção, a estimativa é de redução imediata de 4 milhões de barris diários em operações que não se sustentam com o preço tão baixo, principalmente no shale gas nos EUA.
A gigante ExxonMobil informou ao GLOBO que vai avaliar uma redução “significativa” em seus investimentos e custos operacionais. A Petrobras informou que está acompanhando a evolução dos preços, mas mantém seu plano de investimentos que prevê US$ 75,7 bilhões entre 2020/24.
Mas já começou a adiar alguns projetos, como a venda das oito refinarias que estava prevista para este ano. Nesta segunda-feira, a anglo-holandesa Royal Dutch Shell anunciou corte de US$ 5 bilhões em investimentos.
A Wood Mackenzie estima uma redução na ordem de 30% nos investimentos das petroleiras, em nível mundial.
De acordo com Marcelo de Assis, diretor para a América Latina da área de Upstream (exploração) da consultoria, somando-se o corte nas despesas no segmento de exploração e produção, a redução total nos gastos deve chegar a 57% dos valores que eram planejados, de US$ 155 bilhões. Mas, por enquanto, as sondas de perfuração contratadas não devem ter seus contratos cancelados.
A decisão dos cortes, tanto nos investimentos como nos custos, não será tarefa fácil para as petroleiras, que enfrentam cenário de incertezas sobre o futuro e preços na casa dos US$ 30 o barril. Para este ano estavam previstos investimentos globais de US$ 75 bilhões em exploração e produção, além de US$ 80 bilhões para distribuição de dividendos aos acionistas.
“A redução da produção vai depender da demanda, devido ao impacto do coronavírus”, ressaltou Assis.
Nos últimos anos a Petrobras conseguiu reduzir drasticamente os custos de extração de petróleo nos campos do pré-sal, que caíram para US$ 8 por barril. E os poços são de alta produtividade, de mais de 50 mil barris diários cada.
Situação mais confortável
Por isso, executivos do setor colocam a companhia em posição mais confortável para enfrentar a queda no faturamento. Dessa forma, a empresa pode até adiar projetos que estavam em seu plano de negócios, mas deve continuar priorizando o desenvolvimento dos campos do pré-sal. Assis acredita que a petroleira não deverá alterar os projetos que estão em andamento.
“Os projetos onde já houve decisão de investimento devem seguir no Brasil, mas projetos em estudo podem ser adiados”, destacou o consultor.
Adyr Tourinho, presidente da Baker Hughes e da Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Petróleo (ABESPetro), que reúne empresas que prestam serviços terceirizados para as petroleiras terceirizadas para as petroleiras, afirma que neste momento todas as empresas estão preocupadas em garantir a continuidade das operações offshore e a segurança dos trabalhadores.
Nos EUA, já ocorre forte retração na produção do shale gas, porque seu custo é mais elevado, chegando em alguns casos na casa dos US$ 50 e US$ 60 o barril. Mas para o Brasil, Tourinho acredita que projetos de grande porte, como os que estão sendo desenvolvidos pela Petrobras e outras gigantes do setor, não deverão ser afetados, pois essas companhias têm fôlego de caixa.
As mais afetadas, neste primeiro momento, serão as empresas de médio e pequeno porte, como as que compraram recentemente ativos da Petrobras, pois elas poderão enfrentar dificuldades no acesso a linhas de financiamento.
Foco no pré-sal
Mesmo assim, tanto a Petrobras como outras grandes petroleiras deverão rever seus planos de negócios, inclusive postergando alguns projetos, avaliou Tourinho. Mas mantendo o desenvolvimento de campos no pré-sal.
“Hoje, a joia da coroa da Petrobras são Búzios e Mero (campos no pré-sal). Esses projetos são o futuro da Petrobras, os geradores de caixa da companhia. Os dois campos são projetos gigantescos para a companhia, um divisor de águas para a nova Petrobras. Ela não vai mudar a decisão de fazer investimento”, afirmou Tourinho. “Ainda está cedo para fazer uma projeção, mas é certo que com a recessão econômica mundial a demanda de óleo vai cair. E isso vai impactar nos preços e nos novos projetos”.
Tourinho destacou que mesmo com o petróleo na casa dos US$ 30, novos projetos no pré-sal brasileiro ainda são economicamente viáveis. Segundo fontes técnicas, a viabilidade econômica desses campos está entre US$ 30 e US$ 35 o barril, sendo que em alguns poços chega a US$ 25.
Dessa forma, mesmo com os preços do petróleo em baixa, a melhor opção para a Petrobras é continuar o desenvolvimento na região, mas que com atrasos em alguns projetos.
Para a presidente do Instituto Brasileiro do Petróleo (IBP), Clarissa Lins, uma das maiores incertezas está no quanto a demanda vai cair. Para tocarem seus negócios, as companhias precisam ao menos estimar o patamar dos preços, que estão flutuando pela pandemia do coronavírus somada à disputa entre Arábia Saudita e Rússia.
Isso faz com que as petroleiras adiem todos os investimentos que puderem, além de buscarem formas para aumentar a eficiência em seus projetos, com a redução de custos.
“É uma combinação jamais vista na dimensão e velocidade, de choque de oferta e redução na demanda”, ressaltou Clarissa. “A grande questão será o comportamento da demanda. Qual vai ser o patamar global e brasileiro em função da queda abrupta das atividades por causa do coronavírus. Isso é o que está sendo avaliado com cuidado e atenção. O mundo está parando”.
Ameaça a 30%
Karine Fragoso, gerente de Petróleo, Gás e Naval da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), estima que os preços baixos do petróleo ameaçam cerca de 30% da produção brasileira, que vem dos campos no pós-sal, com custos mais elevados que no pré-sal.
A gigante multinacional ExxonMobil anunciou nesta semana que avalia reduções “significativas” em seus investimentos e nas despesas operacionais no curto prazo, por conta das condições do mercado causadas pela pandemia da Covid-19 e pela queda dos preços do barril do petróleo. A companhia informou que está analisando o cenário e divulgará os planos em breve.
Em comunicado, a companhia destacou já ter enfrentado diversos momentos de desaceleração do mercado ao longo de sua história, com experiência na operação em cenário sustentado de preços baixos do petróleo.
“A empresa permanece focada na segurança, no baixo custo e na criação de valor para os investidores no longo prazo”, afirmou a ExxonMobil.
A Petrobras afirmou ser prematuro fazer projeções sobre os eventuais impactos estruturais e de mais longo prazo no mercado de óleo e gás por conta da forte queda dos preços no mercado internacional. Isto porque, segundo a companhia, ainda não estão claras a intensidade e a duração do choque dos preços.
A empresa informou que continua monitorando o mercado e implementando seu plano estratégico de negócios que a prepara para “atuar com resiliência em cenários de preços baixos”.
Porém, na última sexta-feira, a companhia anunciou uma primeira mudança em seus planos, adiando o processo de venda de oito refinarias, que receberia propostas de interessados em abril e maio.
“Ações táticas de combate à crise são avaliadas recorrentemente”, disse a empresa.
A Shell global já anunciou cortes, mas a subsidiária no Brasil, segunda maior produtora depois da Petrobras, ainda não decidiu pela redução de investimentos. A companhia afirmou que está acompanhando “atentamente” os movimentos do mercado, mas destacou que investe sempre na eficiência dos seus projetos, seja utilizando novas tecnologias ou revendo periodicamente os processos, “apostando na viabilidade econômica de cada um deles”, afirmou em nota.
No curto prazo, as empresas ainda precisam lidar com uma questão importante, que é a gestão da crise. Como manter a movimentação de embarcações e trabalhadores, dando continuidade à produção e minimizando os riscos de contaminação dos funcionários.
“A incerteza é tão grande e a cada dia a gente tem uma dimensão mais clara do tamanho da crise. E está ficando muito difícil fazer previsões”, afirmou Clarissa, do IBP. “A única certeza que se tem é que o mundo mudou e não sabemos por quanto tempo, e isso requer muita cautela e análise cuidadosa das prioridades daqui para frente. O momento é de reavaliar prioridades, ainda que seja uma indústria de longo prazo que se habituou a trabalhar com custos baixos nos últimos anos. Estamos em um ambiente muito desafiador”.

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