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O ano de 2022 não começou nada bem para a indústria automotiva. No mês passado, a Anfavea anunciou que havia registrado o pior janeiro em 17 anos, com a venda de veículos leves e pesados desabando 26,1%. Nesta terça-feira, 08, a associação de montadoras irá apresentar os dados de fevereiro e, segundo especialistas, também não haverá o que comemorar.
Segundo a consultoria Jato Dynamics, especializada no setor, em fevereiro a venda de veículos caiu 24,1% em relação ao mesmo período do ano passado. Já no comparativo com janeiro, houve um leve aumento, de cerca de 3%.
Mas, se o avanço da variante Ômicron e o novo limite de poluição veicular, que adiou o recesso de final de ano e deixou os parques ociosos na primeira quinzena de 2021 foram os motivos para frear a indústria em janeiro, no mês passado os vilões foram velhos conhecidos: o aumento do dólar e da inflação.
“Praticamente todos os componentes dos veículos são indexados ao dólar: borracha, alumínio, cobre. E, mesmo que o preço da moeda venha caindo nos últimos meses, a resposta do setor não é automática”, diz Milad Kalume Neto, gerente de desenvolvimento de negócios da Jato Dynamics.
“Por isso, estamos vendo uma disparada no preço dos veículos. Entre dezembro e janeiro houve um salto de 16% no preço médio dos carros”, completa.
Fora isso, o petróleo também contribuiu para aumentar o preço dos veículos. Até o começo de janeiro, a commodity já havia avançado 18,2% no ano.
“O combustível influencia diretamente na inflação do país, o que aumenta o custo de produção das montadoras. Com isso, a indústria acaba aumentando os preços para o consumidor final, enquanto o poder de compra das pessoas diminui, atingindo em cheio a venda de veículos”, diz Antônio Jorge Martins, professor da FGV.
Futuro pessimista
E com a invasão da Ucrânia pela Rússia, o cenário dos próximos meses tende a ser ainda pior, uma vez que o preço do barril do tipo Brent, referência internacional, está cada vez mais próximo do recorde absoluto, registrado em 2008.
Ciente disso, no começo de março, o Governo Federal reduziu em 18,5% o Imposto de Produtos Industrializados (IPI) dos carros para tentar diminuir os preços e aumentar as vendas. Mas, segundo os especialistas, na prática, isso não deve acontecer.
“Esse ano temos uma série de elementos que vão pressionar a inflação, como eleições, então, a médio e longo prazo os descontos oferecidos por esse corte no IPI vão acabar desaparecendo”, afirma Kalume.
O especialista salienta que tudo vai depender dos desenrolar dos próximos dias. “Tínhamos uma projeção de um aumento em torno de 150 mil nas vendas de automóveis para esse ano. Mas, isso foi antes da guerra da Ucrânia e dessa disparada do petróleo”, completa.
O conflito pode contribuir negativamente também em relação à escassez de semicondutores, problema que acertou em cheio a produção de veículos nos últimos dois anos. Isso porque tanto Rússia quanto Ucrânia são fornecedores globais de paládio e gás neônio, metais usados na fabricação de chips.
“A indústria já esperava que a falta de semicondutores continuasse impactando neste ano, uma vez que a cadeia de fornecimento tinha previsão de normalizar apenas em 2023. Agora, isso pode ser ainda mais tarde”, completa Martins.

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