Reajustar combustíveis agora seria precipitação e um retrocesso

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Fonte: Folha de S.Paulo

O ataque de rebeldes do Iêmen à Arábia Saudita representa um divisor de águas na geopolítica do petróleo do Oriente Médio. Com a bênção e proteção americanas, a capacidade de produção saudita nunca esteve seriamente ameaçada nas frequentes crises políticas e militares na região.
Entretanto, este ataque abalou não apenas 50% da capacidade de produção saudita, mas também a confiança do mercado em relação ao futuro de cerca de 30% da produção mundial de petróleo localizada no Oriente Médio.
A imediata subida dos preços do petróleo após os ataques reflete justamente o medo de que a escalada do conflito na região comprometa o equilíbrio do mercado para além do curto prazo.
Os efeitos do novo contexto do mercado mundial de petróleo sobre o Brasil serão importantes.
No curto prazo, o Brasil terá que novamente enfrentar pressões políticas para que os preços domésticos deixem de acompanhar o mercado internacional. Muitos dirão que não é justo que os consumidores brasileiros paguem por guerras e conflitos alheios.
Este caminho, aparentemente justo para muitos, representaria um retrocesso para a tentativa de mudar a estrutura do mercado brasileiro de derivados e de atrair investidores para nosso setor de refino, além potencialmente impactar o tesouro nacional num momento delicado para as contas públicas.
A última experiência de intervenção nos preços de combustíveis em resposta à greve dos caminheiros deixou um gosto muito amargo na boca dos contribuintes brasileiros.
Mais a médio prazo, o impacto da elevação dos preços na economia brasileira vai depender do novo patamar de equilíbrio dos preços. É importante lembrar que o Brasil já e um grande exportador de petróleo, com uma exportação líquida de quase um milhão de barris por dia. Certamente, preços mais elevados afetam positivamente nossas exportações.
Ademais, a indústria de petróleo nacional encontra-se em franca expansão, em particular na área do pré-sal. O investimento no setor está numa trajetória ascendente, com a progressiva superação da crise decorrente da forte queda dos preços em 2014.
Ressalte-se ainda o fato que este ano o país está implementando uma política arrojada de promoção de rodadas de licitação, com a oferta de um grande volume de ativos para concessões. A expectativa de preços mais elevados certamente é um fator que afeta positivamente os investimentos e aumenta a chance de sucesso das rodadas planejadas este ano.
Por fim, e não menos importante, preços mais elevados aumentam a arrecadação de royalties e participações governamentais. Isto pode contribuir em muito para aliviar o sufoco fiscal de estados grandes produtores de petróleo como o Rio de Janeiro.
É certo que preços de mercado mais elevados são ruins para os consumidores. Mas, é também importante entender nenhuma indústria é sustentável com preços artificiais. Assim, é preciso muita calma nesta hora para que o governo não tome decisões precipitadas que possam comprometer a retomada do setor petrolífero nacional.
Esta indústria representa um dos poucos motores ainda funcionando e com capacidade de puxar o crescimento nacional.
* Edmar de Almeida – Professor do Instituto de Economia da UFRJ

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