Regime único pode ampliar vantagem do Brasil, diz Shell

Regulação do novo mercado de gás é imperativa, diz Araujo, da Shell
22/05/2020
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22/05/2020
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Fonte: Valor Econômico

A consolidação do modelo regulatório para as atividades de exploração e produção em um regime único de concessão vai aumentar a competitividade do Brasil em relação a outros países, justamente no momento em que as petroleiras dispõem de menos recursos para investir em novas áreas. A opinião é do presidente da Shell no Brasil, André Araujo. À frente da maior petroleira privada no Brasil, em volume de produção de óleo e gás, o executivo vê o pré-sal brasileiro como estratégico e mantém os planos para o país. O executivo participou ontem da “ Live do Valor ”, espaço para discussão de temas relevantes para o Brasil e o mundo no cenário do coronavírus.
“Neste momento em que todas as empresas precisam e vão se adaptar a um cenário de capex [novos investimentos] mais baixo, sem dúvida, os investimentos vão migrar para aqueles países e projetos que são mais atrativos”, afirmou Araujo. “Você ter um regime único de concessão é claramente ter uma direção para se ter um ambiente competitivo.”
A discussão sobre a simplificação do modelo regulatório para que novas áreas sejam licitadas somente pelo regime de concessão ganhou força no fim do ano passado, após o resultado dos leilões do pré-sal e do excedente da cessão onerosa. Mesmo com a pandemia da covid-19, o governo mantém a intenção de aperfeiçoar o modelo neste ano.
No comando da Shell no Brasil há aproximadamente dez anos, Araujo entende que a competição por novos investimentos se dará não apenas entre ativos exploratórios, mas também com projetos de novas fontes de energia. “Não vou negar que o pré-sal é uma área estratégica de bastante interesse. A produtividade do pré-sal é bastante alta. Mas vamos viver em um regime de competição onde temos todos os desafios para investir em exploração e produção, ao mesmo tempo em que diversas companhias vão começar a alocar dinheiro para outras formas de energia”.
A empresa, que desembolsou cerca de R$ 5,5 bilhões apenas em bônus de assinatura em leilões nos últimos anos, mantêm o interesse por novas áreas no Brasil. “Esses próximos anos vão ser anos de um controle muito forte do desembolso de caixa das companhias, mas não vamos deixar de olhar propostas boas. Boa parte das primeiras medidas que a Shell fez é para manter uma companhia resiliente, com caixa. E parte desse caixa é para olhar o futuro da organização também”.
O executivo também elogiou a decisão do governo de adiar os leilões de óleo e gás marcados para 2020. Segundo ele, a decisão não surpreende e o fato de não haver licitações neste ano foi uma escolha “sábia” do ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque. “Ter um leilão que não traz competitividade não faz muito sentido.”
Com relação à operação brasileira, Araujo contou que as metas de produção estão mantidas para este ano. “No primeiro trimestre, produzimos acima da meta. Fechamos o primeiro trimestre com produção operada e não operada de pouco acima de 400 mil barris de petróleo por dia”.
Segundo ele, mesmo na pandemia, a empresa concluiu a perfuração na área de Gato do Mato, na Bacia de Santos, “de forma bastante segura” e a migração da sonda para Saturno, também em Santos. Ele lembrou ainda que nos ativos operados do BC-10 e de Bijupirá e Salema, na Bacia de Campos, a empresa teve recorde de produção nos últimos meses.
Sobre as medidas decorrentes da eclosão da covid-19 no mundo, o presidente da Shell Brasil afirmou que, assim que foi declarada a pandemia, a companhia definiu globalmente três novos pilares: cuidado com saúde e segurança, continuidade das operações e preservação do caixa.
Sobre os ajustes feitos pela companhia, Araujo lembrou que houve decisão de reduzir investimentos em US$ 9 bilhões e de manter o plano de desinvestimentos do grupo, que totaliza US$ 10 bilhões. A Shell também reduziu o pagamento de dividendos, pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial.
“É um momento crítico e a gente precisa ter a companhia saindo mais fortalecida desse processo”, disse ele, lembrando ainda que os bônus de 2020 foram zerados. “Não ficou ninguém de fora. Democraticamente, todo mundo tem que dar sua contribuição para a companhia ser fortalecida”, completou.
No Brasil, houve suspensão de novos contratos, o recrutamento passou a ser focado somente em casos críticos e há uma revisão em andamento da política de expatriação. “Vamos continuar olhando formas de revisão regulares do nosso ativo, agora bastante pressionado por preço de petróleo em patamar diferente”, explicou ele.
O executivo também disse considerar “imperativa” a aprovação da lei do novo mercado de gás. Questionado sobre o cenário para as energias renováveis, Araujo afirmou que a pandemia não mudou a visão da Shell sobre o futuro do setor. “Claramente a mensagem que temos é que a sociedade está mudando e precisamos estar prontos para atender os nossos clientes.”

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