Venda de ativo no exterior já gera US$ 4 bi à Petrobras

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Fonte: Valor Econômico

Almeida, da UFRJ: “Como a empresa se tornará na próxima década uma grande exportadora de petróleo, pode fazer sentido voltar a buscar ativos no exterior"
Depois de investir bilhões de dólares num esforço de internacionalização ao longo dos anos 2000, a Petrobras já se desfez de boa parte dos ativos adquiridos na década passada. Desde 2015, em resposta a sua crise financeira, a estatal já levantou US$ 4,6 bilhões com alienações no exterior.
Os negócios mais recentes incluem a venda de sua fatia de 50% na PetroÁfrica e a criação de uma joint venture com a Murphy no Golfo do México - negócio que, na prática, representa uma redução de sua participação nos EUA.
Ao fim desses desinvestimentos, a Petrobras sairá com uma produção média de 20 mil barris diários de petróleo no exterior, focada sobretudo nos Estados Unidos - onde a petroleira permanecerá com 20% de uma joint venture com a Murphy. O volume representa apenas 12% do pico de produção internacional da companhia nos idos 2004, quando chegou a atingir uma média de 168 mil barris/dia.
A estatal também caminha, com a negociação em curso para venda de Pasadena (EUA), para se desfazer de todas as suas refinarias no exterior, depois dos desinvestimentos anunciados também na Argentina e Japão.
No setor de distribuição de combustíveis, com a venda de seus ativos no Paraguai, a petroleira também consolida um movimento de saída de seus principais mercados na América do Sul. A brasileira só ficará na Colômbia e Uruguai, com uma rede que representa apenas 20% daquela que detinha em 2016, antes de vender seus ativos na Argentina, Paraguai e Chile. Fora isso, se manterá na distribuição de gás no Uruguai, na produção de gás na Bolívia e em alguns poucos ativos de exploração e produção na Argentina.
As vendas desmancham boa parte de um processo de internacionalização que começou ainda na década de 1970, na Colômbia, mas que se intensificou a partir dos anos 1990. O professor do Grupo de Economia da Energia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Edmar Almeida, conta que a estratégia se deu num momento em que o pré-sal ainda não havia sido descoberto e as oportunidades no Brasil eram menores.
Foi no governo FHC que a internacionalização entrou no radar de forma mais relevante. Nos anos 1990, houve inclusive uma tentativa de mudar o nome da companhia para Petrobrax, sob a alegação de que o nome soava melhor aos estrangeiros e que o nome Petrobras possuía uma associação excessiva com o Brasil.
Foi na década passada, sobretudo no governo Luiz Inácio Lula da Silva, contudo, que a presença global da brasileira se expandiu. Nos anos 2000, a Petrobras entrou, por exemplo, em países como Paraguai, Uruguai, Chile, Nigéria, Tanzânia, Guiné Equatorial e Japão.
Alguns desses investimentos foram cercados de polêmicas. Na Bolívia, as refinarias da companhia foram nacionalizadas durante o governo Evo Morales. Já a compra de Pasadena foi parar nos holofotes da Lava-Jato. Os ex-diretores da estatal Paulo Roberto Costa e Nelson Cerveró admitiram à Justiça que a compra da refinaria envolveu o pagamento de US$ 15 milhões em propina por parte da Astra Oil. Segundo a Polícia Federal, o negócio foi superfaturado em US$ 741 milhões.
De acordo com especialistas consultados pelo Valor, a redução da presença global da petroleira brasileira é um "passo natural" dentro do processo de reestruturação da companhia, que concentra suas atividades sobretudo no pré-sal. Isso não significa, porém, o fim da internacionalização da estatal.
"Acredito que no futuro poderá haver um novo ciclo de internacionalização. Como a empresa se tornará na próxima década uma grande exportadora de petróleo, pode fazer sentido para ela buscar ativos de refino e petroquímica no exterior, principalmente na Ásia. Investir nesses segmentos cria canais de comercialização e ajuda a garantir mercado para o seu produto", comenta Almeida.
Já o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires, não acredita que a Petrobras voltará a investir no refino, no exterior. Ele, porém, vê sentido numa eventual busca de ativos de produção de gás fora do país.
"Hoje o mix de produção da empresa é muito desequilibrado. Enquanto algumas petroleiras globais produzem praticamente metade petróleo, metade gás, a relação da Petrobras é de 80% óleo e 20% gás", disse Pires.
Por outro lado, enquanto a Petrobras se afasta do mercado de distribuição no exterior, as multinacionais começam a voltar para o Brasil. Ao todo, três empresas estrangeiras (Vitol, Glencore e Petrochina) entraram no mercado nacional de distribuição nos últimos meses, por meio de aquisições.
O movimento acontece depois de uma década de inflexão na presença das multinacionais no Brasil. Desde 2008, saíram do mercado brasileiro empresas como a Esso, Repsol YPF e a Chevron.

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