Saída da Petrobras reforça capital pulverizado da BR

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28/06/2021
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Valor Econômico

A saída definitiva da Petrobras da BR promete consolidar a distribuidora de combustíveis como uma “corporation”, com capital ainda mais pulverizado. A venda da fatia remanescente de 37,5% da petroleira estatal, por meio de uma oferta de ações prevista para ocorrer na sexta-feira, na B3, encerra a presença do único acionista de peso dentro da BR.
A expectativa, no mercado, é que o volume de papéis em circulação (“free float”), hoje correspondente a cerca de dois terços das ações da companhia, cresça.
O Valor conversou com quatro fontes, entre atuais e ex-integrantes do alto escalão da BR, sob a condição de anonimato. A percepção geral é de que as alterações em curso no perfil acionário da empresa não devem implicar em rupturas na governança da companhia – que, desde 2019, já não é mais controlada pela Petrobras e, depois de privatizada, deixou de se submeter às amarras da Lei das Estatais.
Apesar disso, a expectativa é que a BR tome novos rumos. O trabalho de revisão do plano estratégico da empresa já está em curso, mas está muito mais associado à troca recente no comando da distribuidora, presidida desde março por Wilson Ferreira Jr., do que às mudanças na composição acionária que vão se efetivar a partir desta semana.
Embora a Petrobras esteja se desfazendo de seu braço de distribuição, numa operação que pode movimentar R$ 11,5 bilhões, o elo entre as duas empresas não se romperá por completo: BR e sua antiga controladora ainda mantêm contratos de suprimento de derivados e de licenciamento da marca. Segundo fontes da distribuidora, a ideia é manter a relação com a petroleira.
Para o analista da Ativa Investimentos, Ilan Arbetman, a saída da Petrobras implicará, possivelmente, numa base acionária mais pulverizada. “Isso traz uma expectativa de que vejamos um nível de liquidez muito maior para as ações da BR… A empresa será uma verdadeira ‘corporation’.”
Segundo ele, o relacionamento entre Petrobras e BR continuará, pelas relações comerciais, mas a interdependência entre as duas empresas tende a diminuir. Arbetman acredita que a BR ganha “uma vida mais própria” e se desvincula dos riscos associados ao seu maior acionista. Isso trará efeitos positivos, inclusive, na percepção de riscos sobre a distribuidora e, consequentemente, quanto à capacidade de captação de dívida – sobretudo num momento em que a empresa acena para um aumento da alavancagem. A empresa está de olho em aquisições que lhe permitam avançar com o plano de reestruturação em meio ao movimento de transição energética para uma economia de baixo carbono.
“É possível que, a nível de crédito, tanto as notas [ratings] quanto as perspectivas da BR reflitam a nova estrutura acionária”, disse.
No formulário de referência da BR, a companhia reconhece que, em razão da participação ainda relevante de sua antiga dona, “não está afastada por completo a possibilidade de a Petrobras buscar indicar mais membros da administração” e buscar orientar negócios e estratégias da distribuidora.
De acordo com uma fonte da BR, a saída da Petrobras do capital da companhia elimina os riscos, ainda que remotos até então, de uma possível reestatização.
. “Muda a visibilidade de que a Petrobras poderia interferir na BR ou reestatizar a empresa, mas a verdade é que muda muito pouco, de fato, no dia a dia da companhia, porque a Petrobras já não interfere há muito tempo”, comentou a fonte.
Desde que a petroleira fez o follow-on (oferta subsequente de ações) na BR, em 2019, a estatal já não controla mais a distribuidora. Segundo as fontes, embora detenha um terço do capital da ex-controlada, a Petrobras não se vale de todo o seu poderio como acionista mais relevante. O atual conselho de administração da BR, eleito na assembleia de setembro de 2019, por exemplo, é resultado de um diálogo com o mercado.
De acordo com relatos de pessoas envolvidas com o processo, na ocasião, a lista de candidatos foi costurada pelo então presidente da BR, Rafael Grisolia, em diálogo com fundos de investimentos e a Petrobras -embora Edy Kogut, nome próximo ao do então presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, tenha sido eleito presidente do colegiado, por uma margem apertada, sem o apoio integral dos demais acionistas.

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